Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
07/07/2006 | 18/01/2006 | 1 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
93 minuto(s) |
Dirigido por Joachim Roenning e Espen Sandberg. Com: Penélope Cruz, Salma Hayek, Steve Zahn, Dwight Yoakam, Sam Shepard, Audra Blaser, Denis Arndt, Ismael ‘East’ Carlo, Humberto Elizondo.
Para cada bom filme que escreve, produz ou dirige, o francês Luc Besson se encarrega de realizar outras dez porcarias. Nikita, O Profissional e Ong-bak certamente merecem aplausos, mas o que posso dizer acerca de Joana d’Arc de Luc Besson, O Quinto Elemento, Carga Explosiva e Cão de Briga? Já sei: posso dizer que não são tão ruins quanto Bandidas, que traz Besson como produtor e co-roteirista.
Um dos principais problemas que comprometem vários dos trabalhos do realizador francês, aliás, pode ser facilmente exemplificado por esta produção: freqüentemente, Besson se entrega às suas fantasias de adolescente do sexo masculino, criando narrativas que parecem planejadas apenas como desculpa para que ele possa levar para a tela suas obsessões juvenis. Aqui, por exemplo, ele consegue reunir duas beldades latinas, Penélope Cruz e Salma Hayek, em uma trama rasa e besta cujo único propósito é exibir a beleza de suas estrelas. Vivendo personagens de classes sociais diferentes no México do fim do século 19 (uma camponesa e uma aristocrata mimada, respectivamente), elas se tornam, por força do acaso (leia-se: um roteiro absurdo), comparsas em uma atividade arriscada: roubar bancos. Por que fazem isso? “Para ajudar o povo!”, é a explicação “oficial”, embora elas eventualmente acabem decidindo transferir suas ações para a Europa, o que invalida a motivação fraudulenta da dupla.
Co-escrito por Robert Mark Kamen, comparsa habitual de Besson, Bandidas é um filme que descarta a lógica do início ao fim: trazendo um daqueles vilões psicopatas que não hesitam em matar os próprios capangas quando têm acessos de raiva (como arranjam substitutos?), o roteiro não consegue sequer acompanhar a própria – e simplória – trama. Por que, por exemplo, os criminosos matam os camponeses cujas terras já poderiam tomar legalmente (mesmo que injustamente)? A reposta: porque são maus. E burros, pois geram uma revolta ainda maior contra suas ações. E o que dizer do investigador interpretado por Steve Zahn, que é chamado pelo cruel Tyler Jackson (Yoakam) para descobrir o paradeiro das “bandidas” que insistem em assaltar seus bancos, mas que, em vez disso, começa a investigar a morte do pai de uma delas sem qualquer explicação? Aliás, como ele suspeita que houve algo de errado naquele caso, já que o sujeito foi enterrado com a justificativa oficial de um ataque cardíaco?
Mas perguntas como estas não interessam a Besson e Kamen, que provavelmente se julgam inteligentíssimos por incluírem um protesto bobo contra o “imperialismo norte-americano” através de um diálogo óbvio e artificial. Infelizmente, a tentativa de incluir um subtexto politicamente relevante no filme se revela tão idiota quanto a pergunta feita por Maria (Cruz) quando Quentin (Zahn) esclarece para a moça que um microscópio serve para que possam ver coisas que não conseguiriam enxergar normalmente: “Como pensamentos?”, indaga a criatura. “Sim.”, responde o rapaz inexplicavelmente, desperdiçando a oportunidade de quebrar o aparelho na cabeça da garota. De todo modo, as heroínas acabam sendo punidas, já que Quentin, outro imbecil, assume o posto de conselheiro da dupla, oferecendo liçõezinhas de moral dignas de uma comédia besteirol.
E por falar em comédia, Bandidas parece acreditar ser engraçado (como revela sua trilha sonora, que se esforça ao máximo para indicar para o espectador a hilaridade de suas piadas idiotas), embora suas gags sejam irritantemente primárias e envolvam principalmente as conversas das mocinhas com seus animaizinhos de estimação: um cavalo e um cachorro (o cavalo, por sua vez, se comunica com outros de sua espécie, tornando tudo ainda mais engraç... estúpido). Aliás, chega a ser estranho que os roteiristas não incluam nenhum macaco na trama, já que os símios são os bichos favoritos de roteiros sem inspiração (mas eles incluem o segundo animal mais utilizado nestas circunstâncias: uma mula, que, é claro, empaca a cada dez segundos).
Percebo agora que ainda não citei a dupla de diretores de Bandidas, os estreantes Joachim Roenning e Espen Sandberg, mas há uma razão para isto: não quero gravar seus nomes, já que provavelmente não terei que ver mais nenhuma atrocidade cometida por eles. Incompetentes ao extremo, os dois não dominam sequer os princípios mais básicos do Cinema, mostrando-se incapazes até mesmo de estabelecer o espaço de suas cenas. Em certo momento, por exemplo, eles revelam a presença de vários capangas em um pátio ao lado de um banco e, minutos depois, encenam uma piadinha que envolve Quentin sendo acidentalmente pendurado bem atrás de dois bandidos – o que deveria tê-lo exposto ao olhar dos vários outros pistoleiros mostrados anteriormente. Isto, porém, não ocorre, demonstrando a grave falta de atenção dos dois cineastas. Além disso, Roenning e Sandberg parecem obcecados com o travelling que se aproxima dramaticamente do rosto de seus personagens, já que repetem este movimento milhares de vezes ao longo da projeção – a não ser quando, provavelmente querendo ser originais, fazem o travelling no sentido oposto, afastando a câmera dos atores.
Enquanto isso, Salma Hayek e Penélope Cruz simplesmente não parecem perceber a bomba com a qual se envolveram, já que aparentemente confiam nas instruções dos inexperientes diretores e encenam suas briguinhas com uma infantilidade de dar pena. (Elas finalmente se tornam amiguinhas quando, depois de quase se afogarem, apertam as mãos e anunciam: “Acho que isto nos tornou amigas.” Uau. Que belo desenvolvimento de personagens...) De todo modo, elas não deveriam mesmo se preocupar com suas péssimas atuações, já que, servindo como instrumentos para as taras juvenis de Besson, estão ali apenas para expor seus belos corpos – e depois que elas são retratadas com roupas mínimas e decotes generosos, usam Steve Zahn como boneco para competição de beijos e são obrigadas até mesmo a fazer flexões em um rio (a velha fantasia da “garota molhada”...), confesso que fiquei aguardando o momento em que o roteiro encontraria uma desculpa para mostrá-las brigando no gel. Luc Besson deve ter uma lábia fabulosa para ter conseguido convencer duas atrizes estabelecidas a se sujeitarem a este tipo de chauvinismo pavoroso.
Apesar de tudo, devo confessar: nunca tive tanta vontade de ser Steve Zahn como ao assistir a Bandidas.
06 de Julho de 2006
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