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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
21/10/2005 23/09/2005 3 / 5 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
98 minuto(s)

Direção

Robert Schwentke

Elenco

Jodie Foster , Peter Sarsgaard , Sean Bean , Kate Beahan , Erika Christensen , Marlene Lawston

Roteiro

Peter A. Dowling , Billy Ray

Produção

Brian Grazer

Fotografia

Florian Ballhaus

Música

James Horner

Montagem

Thom Noble

Design de Produção

Alec Hammond

Figurino

Susan Lyall

Direção de Arte

Kevin Ishioka

Plano de Vôo
Flightplan

Dirigido por Robert Schwentke. Com: Jodie Foster, Peter Sarsgaard, Sean Bean, Kate Beahan, Erika Christensen, Marlene Lawston.

Mulher psicologicamente abalada (vivida por Jodie Foster) se vê obrigada a superar as próprias fraquezas a fim de salvar a vida de sua única filha em uma história confinada em um espaço relativamente pequeno. Você disse O Quarto do Pânico? Não, estou falando de Plano de Vôo, que traz Foster em um projeto tematicamente similar àquele que estrelou em 2002 no filme dirigido por David Fincher. Mais do que uma coincidência, a semelhança entre os longas revela uma faceta curiosa da atriz, que atuou como protagonista em apenas três filmes desde que se tornou mãe pela primeira vez, em 1998 – além dos dois mencionados anteriormente, ela fez Anna e o Rei, no qual também se vê responsável por crianças cuja segurança é ameaça em certo ponto (suas participações em Meninos de Deus e Eterno Amor foram pequenas).

Uma espécie de `Duro de Matar em um avião`, Plano de Vôo foi escrito por Peter A. Downling e Billy Ray e traz Jodie Foster como Kyle, uma engenheira mecânica que, depois da morte do marido em Berlim, embarca com a filha para Nova York a fim de enterrar o corpo nos Estados Unidos. Porém, depois de dormir por algumas horas, ela desperta apenas para descobrir que a garota desapareceu. E o mais estranho: ninguém se lembra de ter visto a menina no avião. Certa de que alguém seqüestrou sua filha, Kyle é vista com suspeita pelas aeromoças, pelo comandante do aparelho e pelo oficial responsável pela segurança do vôo – suspeita que se transforma em descrédito completo depois que uma mensagem enviada por rádio informa que a menina faleceu no mesmo dia em que o pai, indicando a possibilidade de que a protagonista tenha apenas imaginado que a filha continuava ao seu lado.

Se você assistiu ao recente Os Esquecidos, com Julianne Moore, certamente percebeu a semelhança das situações enfrentadas pelas heroínas dos dois filmes. Felizmente, enquanto aquele longa desmoronava à medida que a história se desenrolava, Plano de Vôo consegue manter o interesse do espectador através do suspense bem conduzido pelo diretor Robert Schwentke. Para começar, o cineasta já demonstra inteligência ao manter uma certa ambigüidade de significados ainda nos primeiros minutos de projeção, ao retratar Kyle como uma mulher ansiosa e ao incluir planos nos quais ela parece conversar com o marido morto – o que, de fato, pode indicar sua instabilidade psicológica (ou meramente sua carência emocional). Além disso, ao concentrar-se nas conversas entre mãe e filha durante o primeiro ato, Schwentke freqüentemente deixa de incluir a parte posterior da cabeça da menina ao realizar os contraplanos que enfocam o rosto de Jodie Foster – uma opção pouco comum que planta no espectador uma sensação incômoda, como se algo estivesse `faltando` naqueles quadros (e, mais tarde, esta impressão fortalecerá nossas dúvidas sobre a existência da garota).

Explorando com sabedoria o trauma dos norte-americanos com relação aos atentados de 11 de setembro, o roteiro injeta uma dose adicional de tensão na narrativa através da insegurança provocada pelo comportamento nervoso da protagonista a bordo do avião – situação que se torna ainda mais explosiva depois que esta acusa um passageiro de origem árabe de ser o responsável pelo desaparecimento de sua filha (e a fácil aceitação desta atitude por parte de alguns passageiros preconceituosos acaba servindo como importante crítica à postura intolerante de boa parte da população norte-americana oriunda dos Estados republicanos – como é o caso claro do sujeito que logo tenta provocar uma briga com os tais árabes).

Enquanto isso, a dupla de roteiristas realiza uma proeza que o responsável pela trama do Vôo Noturno não teve habilidade suficiente para conseguir: manter praticamente toda a história dentro do avião – algo que contribui para aumentar o suspense ao conferir um clima claustrofóbico à narrativa. Além disso, ao estabelecer a personagem de Foster como uma das engenheiras responsáveis pelo aparelho, Plano de Vôo passa a contar com o triunfo dramático de mostrar a heroína utilizando seus conhecimentos para superar os obstáculos que surgem em seu caminho, tornando o filme ainda mais interessante e dando origem a seqüências de perseguição bastante eficazes.

Intensa como de costume, Jodie Foster consegue viver Kyle como uma mulher cujo comportamento parece sempre oscilar entre o desespero e a insanidade – e, desta forma, a atriz mantém o público inseguro com relação à verdadeira natureza de sua personagem: ela está apenas ansiosa em função do sumiço da filha ou realmente é vítima de alucinações e de distúrbios paranóicos? Sean Bean, por sua vez, surge absolutamente convincente como o competente piloto do avião, servindo como contraponto à perturbada protagonista e realçando, desta maneira, o comportamento irracional da mesma – o que aumenta a dúvida do espectador. Já Peter Sarsgaard faz o que pode com um personagem que parece mudar de comportamento de acordo com as necessidades imediatas do roteiro, já que algumas de suas atitudes, quando analisadas em retrospecto, não parecem fazer o menor sentido.

Aliás, apesar de ficar longe das imbecilidades reveladas no terceiro ato de Os Esquecidos, a conclusão de Plano de Vôo não é das mais coerentes, deixando uma série de perguntas sem respostas ou mesmo respondendo de forma inverossímil a algumas das questões levantadas ao longo da trama (quem, afinal de contas, Kyle viu pela janela, no início da história?).

Ainda assim, Plano de Vôo é um filme que cumpre o que promete: mantém o espectador tenso e interessado no que acontecerá a seguir. É uma pena que não se preocupe também em resistir a uma segunda visita: quem tentar assistir ao longa novamente imediatamente perceberá todas as trapaças e furos do roteiro – e esta falta de ambição artística certamente comprometerá sua longevidade.

20 de Outubro de 2005

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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