Datas de Estreia: | Nota: | ||
---|---|---|---|
Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
10/03/2006 | 10/02/2006 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
105 minuto(s) |
Dirigido por Richard Loncraine. Com: Harrison Ford, Paul Bettany, Virginia Madsen, Mary Lynn Rajskub, Robert Patrick, Alan Arkin, Robert Forster, Carly Schroeder, Jimmy Bennett, Matthew Currie Holmes, Kett Turton, Nikolaj Coster-Waldau.
O sucesso duradouro e inquestionável de Harrison Ford como herói de ação não é difícil de explicar e nem reside puramente em seu físico, mas em seu talento para transformar seus personagens em indivíduos com os quais o espectador pode se identificar: homens comuns que, diante de circunstâncias extraordinárias, são levados a assumir uma postura de... ora, de herói de ação – basta ver seus ótimos desempenhos em filmes como Busca Frenética, Jogos Patrióticos e O Fugitivo (e mesmo em Força Aérea Um, um longa inferior, mas que traz o ator em boa performance). Assim, o astro consegue atingir um grau de proximidade com o público que colossos como Schwarzenegger, Stallone e Van Damme jamais poderiam alcançar, já que estão longe do tipo que poderíamos encontrar na esquina ou no escritório.
Em Firewall – Segurança em Risco, Ford assume o papel de Jack Stanfield, um expert em segurança eletrônica que trabalha há mais de vinte anos para um banco de médio porte. Sujeito simpático, daqueles que cumprimentam pelo nome todos que trabalham na empresa, Jack é também um homem dedicado à esposa e ao casal de filhos – uma família cuja harmonia o filme exagera ao retratar (o protagonista chega a dizer que não poderá demorar muito em uma reunião de negócios porque aquela é “noite de pizza” em sua casa). Irritado com a fusão de seu banco com uma instituição bem maior, Jack questiona a ética de trabalho de seu novo patrão, mas logo se envolve em uma situação muito mais dramática quando uma quadrilha seqüestra sua família e o obriga a usar seus conhecimentos para transferir 100 milhões de dólares para contas no exterior.
Comandado por Richard Loncraine, responsável pela divertida comédia romântica Wimbledon – O Jogo do Amor, o filme é claramente inspirado (embora não assuma o fato) no eficiente Encontro com a Verdade, que o próprio Loncraine dirigiu em 1987. Com um roteiro assinado por Joe Forte, Firewall tem seus melhores momentos durante os dois primeiros atos, quando acompanhamos o duelo de estratégias protagonizado por Harrison Ford, que faz várias tentativas de salvar sua família, e pelo vilão de Paul Bettany, que parece antecipar todos os movimentos do herói. Com isso, o longa revela-se um thriller eficiente, quase levando o espectador a ignorar clichês irritantes como o da “criança alérgica ou com problemas de saúde” (O Quarto do Pânico, Encurralada) e o do criminoso que não hesita em matar os próprios companheiros como punição por falhas triviais (será que isto não abala o moral do grupo?). Trazendo uma montagem tensa, a seqüência em que Beth (Madsen) tenta escapar por baixo da casa – que ela mesma projetou – é particularmente eficiente e empolgante.
Infelizmente, o roteiro atravessa a fronteira do ridículo no terceiro ato, quando os acontecimentos se tornam comicamente implausíveis, dependendo, entre outras coisas, de uma coleira de cachorro (!) cuja existência fora estabelecida sem a menor sutileza no início da projeção. Além disso, nem mesmo o mais complacente dos espectadores será capaz de ignorar o absurdo que a presença do tal cãozinho representa naquele ponto da história - mas, como todos sabem, bichinhos de estimação jamais morrem nas produções de Hollywood. Da mesma forma, o filme inclui uma cena (envolvendo Robert Forster em uma conversa por telefone) que é simplesmente desonesta: a única justificativa para sua existência é enganar o espectador, já que é atirada de forma artificial na narrativa e não desempenha nenhuma outra função no desenrolar dos acontecimentos.
Já a farta utilização de recursos tecnológicos por parte dos personagens é uma sacada divertida do longa, que emprega celulares, laptops, GPS, iPods, aparelhos de fax, leitores ópticos e tudo que emita um bip ou precise de bateria para funcionar – e, embora eu não faça a menor idéia sobre a possibilidade de capturar informações de um monitor através de um leitor e armazenar os dados obtidos em um iPod, confesso que a segurança de Jack ao fazê-lo me convenceu. (E creio que é isto que importa, não?) Aliás, é graças a Harrison Ford que Firewall permanece interessante mesmo em seus piores momentos: do tremor exibido depois de um confronto extenuante à maneira desajeitada com que salta em uma sacada, o ator sempre alcança a dose certa de verossimilhança, convencendo-nos ser capaz de todas aquelas proezas sem, com isso, negar o fato de que já tem 63 anos de idade. E se o filme desperdiça as presenças de Alan Arkin, Robert Forster e Robert Patrick, ao menos oferece a Paul Bettany uma boa oportunidade de encarnar o “vilão europeu cruel e sofisticado” cujo tipo foi estabelecido de forma inequívoca por Alan Rickman em Duro de Matar.
Pena que o açucarado e deselegante plano que fecha o filme, com direito a câmera lenta e tudo mais, soe como algo que poderia pertencer a um melodrama feito para a televisão. Há certos tropeços que são impossíveis de ignorar – e, justamente em seus últimos segundos, Firewall dá uma topada sensacional.
10 de Março de 2006
Comente esta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!