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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
23/06/2006 12/05/2006 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
98 minuto(s)

Poseidon
Poseidon

Dirigido por Wolfgang Petersen. Com: Josh Lucas, Kurt Russell, Richard Dreyfuss, Jacinda Barrett, Emmy Rossum, Mike Vogel, Mia Maestro, Jimmy Bennett, Kevin Dillon, Andre Braugher, Freddy Rodriguez, Stacy Ferguson.

 

O ciclo do canibalismo no Cinema italiano. O período do terror gótico no Cinema da Tchecoslováquia. A enxurrada de filmes-catástrofe do Cinema norte-americano. Ao longo de sua História, a Sétima Arte traz uma série de exemplos curiosos de temas e estilos que, ao contrário de escolas estabelecidas como o Expressionismo e a nouvelle vague, vieram e partiram sem deixar legados consistentes, apresentando-se mais como simples “modismos” do que propriamente como uma filosofia organizada de realização cinematográfica. Mas não importa: com maiores ou menores méritos individuais, realizadores como Ruggero Deodato, Juraj Herz e Irwin Allen certamente merecem ser lembrados, já que influenciaram vários outros cineastas em todo o mundo.

           

Conhecido como “O Mestre do Desastre”, Allen foi o nome mais importante da onda (sem trocadilhos) de filmes-catástrofe que, ao longo da década de 70, rendeu milhões de dólares aos produtores de Hollywood, começando oficialmente com Aeroporto, de 1970, e chegando ao auge com filmes como O Destino do Poseidon (72), Inferno na Torre (74) e Terremoto (74) – os dois primeiros, produzidos justamente por Irwin Allen. Sempre contando com grandes astros em seu elenco e muitos efeitos visuais, estas produções acabaram cruzando a fronteira do ridículo em 1978, com Avalanche (com Rock Hudson e Mia Farrow) e O Enxame (com Henry Fonda e Michael Caine, que também estrelaria a pavorosa continuação Retorno Dramático ao Poseidon, no ano seguinte). O próprio O Destino do Poseidon, apesar de eficiente, tenso e com excepcional direção de arte, está longe de ser um clássico, apesar de seu elenco brilhante que conseguia criar personagens suficientemente interessantes.

             

E é aí que chegamos a esta refilmagem, Poseidon. Com cerca de 20 minutos a menos do que o original, o filme deixa claro, por sua própria duração, que seu interesse reside na ação, e não nos personagens, que se revelam meros esboços: há a latina que viaja clandestinamente; a mocinha que esconde seu noivado do pai; o garotinho que vive se metendo em situações perigosas; e assim por diante (o crucial é que todos parecem ser capazes de segurar o fôlego por vários minutos). A lógica é o que menos interessa: quando o pequeno Conor se afasta do grupo e fica preso em um compartimento que se enche de água, sua mãe pergunta como ele entrou ali e a resposta resume perfeitamente a postura pragmática do roteiro, preocupado em criar cenas tensas a qualquer custo: “Não sei, mas a água está alta!”. Assim, para que criar figuras tridimensionais se é possível apenas dizer que seus protagonistas são um “jogador de cartas” (que, convenientemente, revela ser um ex-marinheiro) e um “ex-bombeiro e ex-prefeito de Nova York”(!!!)?

           

Por outro lado, é inegável que um filme como Poseidon não precisa necessariamente de personagens complexos – se a “catástrofe” for bem encenada e os seres humanos vitimados por esta conseguirem despertar um mínimo de simpatia no espectador, a questão está resolvida. E é o que ocorre aqui: o que interessa não é propriamente a psicologia daquelas pessoas, mas seu comportamento. Quem entrará em pânico? Quem assumirá a liderança do grupo? Quem se rebelará contra o “líder”? Se no original tínhamos o conflito constante entre Gene Hackman e Ernest Borgnine, aqui há um ensaio de tal dinâmica, embora Josh Lucas e Kurt Russell acabem se entendendo com muito mais harmonia. Da mesma forma, enquanto na produção de 72 a veterana Shelley Winters criava a personagem mais humana do grupo, estabelecendo uma importante ligação com o espectador, desta vez é o sempre carismático Richard Dreyfuss quem assume esta função. Na realidade, o roteiro de Mark Protosevich acaba se prejudicando sempre que tenta criar uma subtrama mais dramática, como a artificial relação entre Russell e sua “filha”, vivida por Emmy Rossum. E por que o roteirista se esforça em estabelecer uma conexão trágica entre Nelson (Dreyfuss) e Elena (Maestro) – ele foi o responsável pela morte do “namorado” da moça – se isto jamais desempenhará papel algum no filme? (Estou farejando uma cena excluída que surgirá no DVD...)

           

Apesar de tudo, o que interessa é que torcemos, sim, para que a maioria daquelas pessoas escape viva (há um sujeito antipático, vivido por Kevin Dillon, irmão menos talentoso de Matt, que surge apenas para que torçamos por sua morte) – e este elo com a história, por mais frágil que seja, é o bastante para gerar tensão nas várias seqüências de ação comandadas com segurança por Wolfgang Petersen, veterano em tragédias em alto-mar: são dele o mediano Mar em Fúria e o fantástico Das Boot – O Barco, do qual o cineasta recupera a forte sensação de claustrofobia que envolve a trama. Criando um filme violento e gráfico, Petersen faz questão de mostrar as conseqüências de uma tragédia como a do Poseidon, jamais se preocupando em “higienizar” as inúmeras mortes – e quando determinado personagem se afoga, a montagem não corta para outra cena para evitar o choque, mas permanece dolorosamente neste enquanto a água entra em seus pulmões.

           

Contando com o brilhante design de produção de William Sandell (que, além de Mar em Fúria, também trabalhou nas produções “aquáticas” Mestre dos Mares e Do Fundo do Mar), Poseidon traz efeitos visuais eficientes, como a ótima seqüência em que o barco-título é virado por uma onda gigante – embora, devo dizer, a onda em si não seja das mais realistas, já que os efeitos digitais ainda enfrentam dificuldades óbvias em reproduzir a dinâmica da água. Já o plano que abre o filme e descortina toda a dimensão do Poseidon é fantástica, impecável, e merece aplausos.

           

Eficiente dentro de suas limitações, Poseidon só não se iguala ao original por não ter tanta paciência em investir um pouquinho mais de tempo em seus personagens. E, é claro, por nos torturar com os longos planos em que vemos a cantora Stacy Ferguson gemendo em um microfone e que só nos fazem sentir ainda mais falta da agradável canção “The Morning After”, que se tornou sucesso depois de aparecer no filme de 72. E se você acha que isto é um mero detalhe, espere até ouvir Ferguson tentando chegar ao orgasmo com a própria música.
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23 de Junho de 2006

 

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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