Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
27/01/2006 | 25/12/2005 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
96 minuto(s) |
Dirigido por Rob Reiner. Com: Jennifer Aniston, Kevin Costner, Mark Ruffalo, Shirley MacLaine, Richard Jenkins, Mena Suvari, Kathy Bates, Christopher McDonald, Steve Sandvoss, Mike Vogel, George Hamilton.
Os cinéfilos mais jovens, que começaram a acompanhar Cinema a partir da década de 90, provavelmente não têm o diretor Rob Reiner em alta conta – e por que deveriam? Desde 1992, quando dirigiu o fraco Questão de Honra, Reiner vem realizando bomba após bomba (com exceção do bacana Meu Querido Presidente, de 95). Entre as catástrofes comandadas pelo cineasta neste período estão O Anjo da Guarda (94), Fantasmas do Passado (96), A História de Nós Dois (99) e o bobinho Alex e Emma (2003). Ora, o que aconteceu ao responsável por obras como o hilário e seminal This is Spinal Tap! (84), o comovente Conta Comigo (86), o encantador A Princesa Prometida (87), o já clássico Harry e Sally – Feitos um para o Outro (89) e o tenso Louca Obsessão (90)? Poderíamos até pensar que o problema reside na falta de bons roteiros encaminhados em sua direção, mas esta hipótese é descartada graças a este Dizem por Aí, que conta com uma boa premissa e situações interessantes, mas que acaba sendo estraçalhado pela desastrosa direção de Reiner.
Escrito por Ted Griffin (Onze Homens e um Segredo e Os Vigaristas), o roteiro gira em torno de Sarah Huttinger (Aniston), uma jovem jornalista que, prestes a ficar noiva do namorado, faz uma viagem à sua cidade natal a fim de comparecer ao casamento da irmã caçula. Frustrada com sua profissão e insegura sobre seu noivado, ela encara o evento com pessimismo, já que não se identifica com a família. É então que, ao conversar com a tia (uma ponta de Kathy Bates, em sua terceira colaboração com Reiner), Sarah descobre que o livro e, conseqüentemente, o filme The Graduate (no Brasil, A Primeira Noite de um Homem) foram baseados em um romance entre sua já falecida mãe e um jovem da cidade, Beau Burroughs (Costner). Suspeitando ser filha de Beau – o que explicaria seus conflitos internos -, ela parte atrás deste apenas para se tornar a terceira geração de sua família a transar com o sujeito (não se preocupem, o filme não faz suspense acerca do que vai acontecer neste sentido).
Ainda que tenha alguns problemas que discutirei adiante, o roteiro de Griffin poderia perfeitamente dar origem a um longa no mínimo interessante, mas isto deixa de acontecer graças à mão pesadíssima com que Rob Reiner comanda a narrativa. Com o objetivo de conferir mais dinamismo e graça à história, o cineasta impregna o filme com um ar de artificialidade que boicota seus propósitos, a começar pela fraquíssima cena no interior do banheiro de um avião. Além disso, a obviedade de suas tentativas de criar gags visuais permite que o espectador antecipe várias das piadas, como, por exemplo, o plano em que vemos diversas damas-de-honra com sorrisos escancarados (a figurante colocada logo atrás de Aniston é pavorosamente ruim) e que, excessivamente longo, já nos leva a concluir que Sarah aparecerá carrancuda bem antes que isso aconteça. E o que posso dizer sobre o deselegante e melodramático zoom que procura ressaltar a `tocante` (hum-hum) declaração de amor feita pela protagonista, em certo instante?
Não satisfeito em tentar nos forçar a engolir suas idéias de romantismo e comédia, Reiner ainda utiliza a trilha sonora para marcar todas as intenções da história, do drama ao humor – e sua falta de sutileza culmina na terrível cena em que Shirley MacLaine e Kevin Costner se encaram enquanto ouvimos o tema de Três Homens em Conflito, composto por Ennio Morricone: uma piadinha que, além de péssima, é velhíssima. Para completar, o diretor, auxiliado por seu montador habitual, Robert Leighton, tenta criar uma daquelas seqüências marcadas por cortes rápidos e nas quais todos aparecem gritando uns com os outros, o que, mais uma vez, soa batido, artificial e sem graça. Infelizmente, tenho certeza de que os dois colaboradores se parabenizaram na sala de montagem enquanto criavam este momento constrangedor do filme, certos de que o tal `dinamismo` e a gritaria seriam suficientes para levar o público às gargalhadas.
Mas o roteiro também tem sua parcela de culpa pelo fracasso da empreitada: utilizando crises emocionais nada convincentes (a irmã de Sarah se entrega ao choro sabe-se lá por quê), Griffin chega a ponto de promover uma daquelas conversas `francas` que terminam num óbvio `Por que nunca conversamos assim?`, como se uma única tarde de bate-papo fosse o suficiente para resolver todos os conflitos familiares. Aliás, para um filme dominado por mulheres, Dizem por Aí não é dos mais lisonjeiros: todas as personagens femininas se revelam como figuras histéricas, neuróticas, egoístas e/ou confusas, a começar pela própria heroína, que, para explicar por que suspeita ser filha de outro homem, revela que, ao contrário do pai, não gosta de jogar tênis e nem dirige devagar. Se todos passarem a usar parâmetros como estes, os programas de televisão que fazem testes de paternidade se tornarão líderes de audiência.
E mais: por que, afinal de contas, Sarah decide transar com Beau? Aparentemente sem qualquer explicação, ela se entrega ao homem que, há alguns instantes, julgava ser seu pai - o que é, no mínimo, repulsivo. (Outro exemplo da artificialidade de Dizem por Aí pode ser encontrado no instante em que a irmã de Sarah, ao compreender mal o relato desta, julga que a protagonista transou com o próprio pai e solta um tipicamente norte-americano `Ewwwww!`. Francamente... `Ew`? Ew? Mocinha, se você acha que sua irmã transou com seu pai, solte um grito, comece a chorar, estapeie sua irmã ou fure os próprios olhos. Se há uma revelação que merece mais do que um engraçadinho `Ewwww`, aqui está ela.)
Aliás, as atuações femininas também deixam muito a desejar: Jennifer Aniston se limita a repetir os trejeitos e o timing cômico de sua personagem de Friends, Shirley MacLaine transforma Mrs. Robinson em uma caricatura e Mena Suvari encarna Annie como uma adolescente histérica, apesar de sua personagem ser adulta. Já o elenco masculino se mostra bem mais confortável, a começar por Kevin Costner, que vive Beau como um homem seguro de si e seguidor de uma ideologia particular que lhe permite citar Che Guevara e expor fotos suas com Bill Clinton e Fidel Castro (ainda assim, sua insistência em se exibir para Sarah denuncia uma óbvia crise de meia-idade, o que o torna ainda mais interessante). Enquanto isso, Mark Ruffalo cria um personagem simpático e bondoso que certamente merecia uma noiva melhor do que Sarah. Finalmente, temos Richard Jenkins em mais uma boa atuação em 2005, merecendo destaque a conversa tocante que mantém com a filha na cozinha.
Confesso que, nos instantes mais artificiais de Dizem por Aí, cogitei a possibilidade de que Rob Reiner estivesse fazendo questão justamente de salientar a natureza cinematográfica da história, num exercício sutil de metalinguagem que poderia complementar as referências a A Primeira Noite de um Homem. Aos poucos, porém, fui obrigado a constatar que, mais uma vez, o cineasta simplesmente errou a mão e criou um filme que, aí, sim, merece um sonoro `Ewwww!`.
27 de Janeiro de 2006
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