Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
28/10/2005 | 09/09/2005 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
83 minuto(s) |
Dirigido por Les Mayfield. Com: Eugene Levy, Samuel L. Jackson, Miguel Ferrer, Luke Goss, Susie Essman, Anthony Mackie.
De modo geral, não há como evitar a constatação de que O Cara é apenas mais uma comédia policial protagonizada por dois personagens que se odeiam e que, inevitavelmente, trará uma cena na qual um dos heróis, além de ser investigado pela corregedoria, é suspenso pelo(a) tenente, que solicita `seu distintivo e sua arma`. Esta suspensão acontecerá justamente quando o detetive estiver bastante próximo de resolver o caso – e é óbvio que ele continuará a investigá-lo mesmo assim, resolvendo tudo sozinho no momento mais oportuno.
Desta vez, os personagens são vividos por Eugene Levy e Samuel L. Jackson e seguem à risca os tipos que os dois atores já são capazes de interpretar enquanto dormem, já que estão mais do que habituados a encarná-los: Levy é Andy Fiddler, um vendedor de equipamentos de ortodontia que se preocupa sempre em encarar a vida de maneira alegre e otimista e cuja simpatia (excessiva, alguns diriam) nada tem de artificial. Jackson, por sua vez, é o detetive Derrick Vann, um sujeito durão, shaftiano, que se vê obrigado a conviver com Andy depois que este é confundido por contrabandistas de armas como sendo um possível comprador da mercadoria. O fato é que não há um pingo de originalidade no roteiro de O Cara, escrito por nada menos do que três pessoas (é sempre assim!): Stephen Carpenter, Margaret Oberman e Jim Piddock
E, apesar de tudo isso, eis que me vejo levado a dizer que o filme é suficientemente divertido para merecer uma (moderada) recomendação. O responsável por esta façanha? Eugene Levy, que mais uma vez conquista o espectador com sua voz característica (e suas inflexões que já são quase uma merca registrada de sua carreira), suas sobrancelhas espessas que se movimentam praticamente por toda a sua testa, seu sorriso aberto e sedento de aprovação e, acima de tudo, seu timing cômico impecável que, com raríssimas exceções (Splash – Uma Sereia em Minha Vida, American Pie e o maravilhoso A Mighty Wind) foi empregado por filmes que simplesmente não mereciam contar com seu talento (os exemplos são inúmeros: O Céu Pode Esperar (2001), Debi e Lóide 2, A Casa Caiu, No Pique de Nova York, etc, etc, etc). Felizmente, em O Cara Levy consegue superar a mediocridade do material e desperta nossa simpatia com sua indignação contida (assim como o personagem de Jack Lemon em Forasteiros em Nova York, ele acredita em `escrever cartas`) e sua incapacidade de permanecer calado – e, no processo, torna o filme suportável e mesmo ocasionalmente engraçado.
Aliás, a leveza de sua atuação quase chega a ser suficiente para compensar a presença inadequadamente pesada de Samuel L. Jackson, que, numa tentativa de criar um contraste maior entre Andy e Derrick, erra a mão e transforma o detetive em uma figura quase insuportável: antipático, violento e incapaz de qualquer gesto generoso, o sujeito é detestável demais para uma comédia como esta. Uma coisa é criar um contraponto engraçado; outra é provocar o ódio do espectador. Além disso, sou capaz de apostar que as várias cicatrizes presentes no rosto do personagem foram uma idéia do próprio ator, que provavelmente julgou que elas o tornariam mais interessante. Jackson é um intérprete talentoso, mas, como comediante, consegue ser ainda pior do que Charlton Heston.
Para piorar, quando o filme finalmente consegue estabelecer um ritmo bacana entre Levy e Jackson (graças ao primeiro e apesar do último), o péssimo roteiro volta a atacar com suas convenções, introduzindo mais uma daquelas subtramas padronizadas sobre a família do detetive, que `nunca está presente` nos eventos importantes para a filha e que ainda é apaixonado por sua ex-esposa. Esta subtrama é tão desimportante e descartável, diga-se de passagem, que os roteiristas simplesmente a abandonam depois de algum tempo, resolvendo-a de forma rápida e impensada.
Estendendo-se uns bons dez minutos além do necessário (depois de tudo `resolvido`, o roteiro parece procurar desesperadamente uma piadinha final para amarrar a história), O Cara é mais uma evidência do carisma de Eugene Levy, que, caso tivesse mais discernimento ao escolher seus projetos (ou um empresário melhor), certamente teria uma carreira tão bem-sucedida quanto aquelas de comediantes como Steve Martin ou Robin Williams. Em vez disso, ele vai atuar em Doze É Demais 2. Tem gente que não aprende mesmo.
20 de Outubro de 2005
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