Datas de Estreia: | Nota: | ||
---|---|---|---|
Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
03/06/2005 | 20/04/2005 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
109 minuto(s) |
Dirigido por Garth Jennings. Com: Martin Freeman, Mos Def, Zooey Deschanel, Sam Rockwell, John Malkovich, Warwick Davis, Anna Chancellor, Bill Nighy, Jason Schwartzman e as vozes de Stephen Fry, Alan Rickman, Helen Mirren.
É claro que eu já ouvira falar de O Guia do Mochileiro das Galáxias, de seu humor inventivo e, principalmente, de sua resposta definitiva para a principal pergunta do universo: 42. Ainda assim, é com grande embaraço que admito que jamais li os livros de Douglas Adams, escutei os programas de rádio que os inspiraram, vi a série de tevê ou folheei os quadrinhos baseados nos personagens. Assim, sou absolutamente incapaz de dizer se este filme manteve-se fiel ou não à criação de Adams – e se é isto que você quer saber, peço desculpas. O que eu posso dizer é que o longa é divertido, irreverente e recheado de efeitos visuais que, ao contrário do que acontece com freqüência cada vez maior, contribuem para a história em vez de simplesmente se limitarem a funcionar como espetáculo à parte.
Dirigido pelo estreante Garth Jennings, O Guia do Mochileiro das Galáxias tem início quando a Terra está a 12 minutos de ser destruída por uma espécie alienígena, os Vogons, que pretende construir uma `rodovia hiperespacial` em seu lugar. Felizmente para o patético Arthur Dent, seu melhor amigo revela-se um alienígena disposto a salvar sua vida – e, assim, a dupla deixa o planeta segundos antes de seu fim, pegando uma carona clandestina em uma das naves Vogon. A partir daí, Arthur (sempre em seu roupão desfiado) passa a viver uma série de aventuras ao lado do companheiro Ford Prefect – entre elas, a busca pela `pergunta definitiva` que se encaixaria à tal `resposta definitiva` (42).
Adotando um tom narrativo leve e ágil, esta adaptação aposta no humor absurdo – e a combinação de seu universo de ficção científica com a irreverência de seu roteiro resulta em uma espécie de Homens de Preto Segundo o Monty Python. Para entender melhor o espírito descompromissado deste projeto, basta dizer que é o tipo de filme no qual alguém pode destruir um planeta por engano e despertar, com isso, apenas uma leve irritação nos sobreviventes.
Mas o aspecto mais fascinante de O Guia do Mochileiro das Galáxias é mesmo a magnitude de sua imaginação: povoada por criaturas interessantes (tanto em aspecto quanto em temperamento), a história mantém o espectador sempre surpreso com suas invencionices, como a nave espacial cujos equipamentos contam com personalidade própria: as portas suspiram tristemente quando se abrem, o computador principal mostra-se alegre mesmo ao anunciar tragédias iminentes e, é claro, o robô Marvin (`interpretado` por Warwick ‘Willow’ Davis e dublado por Alan Rickman) rouba todas as cenas em que aparece graças à sua depressão constante. Além disso, há o próprio Guia do título (sempre pronto para fornecer dicas de sobrevivência para aqueles que o consultam) e até mesmo um culto religioso que aparentemente tem adoração pelo... espirro.
Mantendo-se fiéis ao tom adotado pelo roteiro e pela direção, os efeitos visuais jamais buscam atrair atenção para si mesmos: o objetivo, aqui, é dar vida ao universo concebido por Douglas Adams (co-autor do roteiro) mantendo sua aura de `insanidade`: quando a nave dos heróis tem seu controle de `improbabilidade` acionado, por exemplo, todos os seus ocupantes sofrem transformações em sua matéria – e, em certo momento, chegam a surgir como se bordados em lã. Da mesma forma, o líder espiritual vivido por John Malkovich, que à primeira vista parece um ser comum, revela sua natureza desconhecida ao se levantar da cadeira ou ao tirar os óculos para limpá-los. E é impossível deixar de se maravilhar com a presença maciça dos Vogons – podemos praticamente `sentir` o peso das criaturas. (E, como todo bom autor de ficção, Adams utiliza seu mundo para analisar o nosso: é curioso perceber, por exemplo, como ele relaciona a natureza essencialmente burocrática dos Vogons ao mecanismo de inibição de idéias que existe em seu planeta natal.)
Assumindo com naturalidade a aura de `homem comum` de Arthur Dent, o britânico Martin Freeman funciona bem como elo entre o espectador e a galáxia de Douglas Adams, enquanto Mos Def protagoniza alguns bons momentos como Ford Prefect. Já Zooey Deschanel, apesar de ser uma gracinha, continua a sugar a energia dos projetos dos quais participa, já que aparentemente acredita que parecer entediada é a melhor forma existente de atuação – o que se contrapõe de forma brutal ao estilo elétrico, quase maníaco, que o ótimo Sam Rockwell adota ao encarnar o divertido canalha Zaphod Beeblebrox.
Embora ganhe pontos importantes ao demonstrar sua postura anárquica com relação à estrutura narrativa convencional (além das intervenções do Guia, o longa faz uma pausa hilária para acompanhar os últimos pensamentos de uma baleia em queda livre), o roteiro revela falta de coesão em sua conclusão frouxa e na falta de uma justificativa plausível para a seqüência envolvendo John Malkovich, que, apesar de curiosa, parece solta na história (sendo extensa demais para atuar como `pausa`).
No geral, porém, O Guia do Mochileiro das Galáxias funciona mesmo muito bem – não apenas como filme, mas como incentivo para que aqueles que não conhecem os livros (como eu) corrijam esta falha e corram imediatamente para a livraria.
Observação: Há uma cena adicional durante os créditos finais.
03 de Junho de 2005
Comente esta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!