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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
23/07/2004 09/04/2004 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
96 minuto(s)

Uma Garota Encantada
Ella Enchanted

Dirigido por Tommy O’Haver. Com: Anne Hathaway, Hugh Dancy, Cary Elwes, Minnie Driver, Aidan McArdle, Vivica A. Fox, Steve Coogan (voz), Jimi Mistry, Eric Idle.

Apesar de se passar em um mundo mágico e contar com personagens como elfos, príncipes e feiticeiras, Ella Enchanted em nada lembra a saga que, de agora em diante, servirá como paradigma do gênero `fantasia`: O Senhor dos Anéis. Enquanto a trilogia de Peter Jackson encarava seu universo como algo real e dramático, o filme de Tommy O’Haver adota o leve tom de fábula, preocupando-se mais com seus jovens espectadores do que com o público adulto (embora também consiga divertir os mais velhos). Assim, quando for assistir a este longa, não se surpreenda ao descobrir que o elfo Slannen nada tem a ver com Legolas, seja em constituição física, elegância ou destreza. Aliás, caso fossem apresentados um ao outro, tenho certeza de que Legolas ficaria petrificado ao descobrir que o sonho de seu `parente` é, acreditem ou não, ser advogado.

Inspirado no livro de Gail Carson Levine, o filme conta a história de Ella de Frell, uma bela jovem que, ao nascer, recebeu o `dom da Obediência` de uma de suas fadas-madrinhas, a temperamental Lucinda. Infelizmente, o presente revela-se uma maldição, já que Ella passa a ser obrigada a fazer tudo que lhe ordenam, por mais absurdas ou perigosas que tais imposições possam ser. A situação torna-se ainda pior depois que o pai da garota se casa com uma mulher cruel que (é claro) tem duas filhas mimadas que fazem de tudo para humilhar a nova irmã. Determinada a encontrar Lucinda e convencê-la a retirar o encantamento, Ella acaba conhecendo o jovem príncipe Charmont, que se apaixona pela moça.

Adicionando elementos modernos ao universo habitado por Ella, a diretora de arte Anna Rackard faz um belo trabalho ao criar gags visuais que se encaixam de forma orgânica na narrativa, como as escadas rolantes de madeira situadas numa espécie de shopping center medieval. Além disso, a natureza quase teatral dos cenários reforça o aspecto fantasioso da história – o mesmo se aplicando aos efeitos visuais, que sequer tentam parecer reais (como a cidade criada em computadores ou o blue screen utilizado na cena em que a mocinha contracena com gigantes).

É uma pena, portanto, que o roteiro (escrito por nada menos do que 5 pessoas – um péssimo sinal!) falhe ao não explorar melhor a interessante premissa do livro de Levine: por que, por exemplo, não incluir uma seqüência na qual Ella conhece outras afilhadas de Lucinda, já que a fada-madrinha é conhecida por seus `presentes de grego`? Ao concentrar-se excessivamente na maldição de Ella, a narrativa torna-se relativamente previsível, desgastando-se com o passar do tempo. Da mesma maneira, o filme cresce sempre que satiriza o próprio gênero (no melhor estilo Shrek), como no momento em que algumas criaturas mágicas manifestam sua antipatia pelos irmãos Grimm, cujas histórias serviram apenas para `reforçar estereótipos` – e, mais uma vez, é lamentável que o roteiro não utilize melhor este recurso.

Comprovando o carisma exibido em O Diário da Princesa, a belíssima Anne Hathaway carrega o filme sem problemas, chegando a demonstrar um razoável tempo para a comédia em algumas cenas. Enquanto isso, Cary Elwes (cuja carreira deslanchou justamente no similar – mas infinitamente melhor – A Princesa Prometida) torna-se o ponto alto do longa com seu vilão exagerado e patético. E, se o ex-Monty Python Eric Idle pouco tem a fazer como o Narrador da história, a também britânica Minnie Driver protagoniza um curioso romance com um livro mágico que tem o rosto de Jimi Mistry, revelado no fraco O Guru do Sexo.

Mesmo pecando por ser convencional demais, este é um filme charmoso e bem-intencionado – e certamente fará grande sucesso entre as crianças. E, se levarmos em consideração a péssima qualidade das produções destinadas a este público que vêm chegando aos cinemas, é inevitável concluir que Ella Enchanted torna-se, por comparação, ainda mais recomendável.
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18 de Junho de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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