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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
24/09/2004 09/04/2004 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
108 minuto(s)

Show de Vizinha
The Girl Next Door

Dirigido por Luke Greenfield. Com: Emile Hirsch, Elisa Cuthbert, Timothy Olyphant, James Remar, Chris Marquette, Paul Dano, Timothy Bottoms, Donna Bullock.

Joel Goodsen é um jovem prestes a se formar no segundo grau. Rapaz brilhante e dedicado aos estudos, ele tem grandes chances de conseguir uma vaga em uma prestigiada universidade, dependendo apenas de se sair bem em uma avaliação que será feita por uma comissão da instituição. É então que ele conhece uma `profissional do sexo` por quem se encanta – e quando o cafetão da garota entra em cena, Joel se mete em uma terrível enrascada, sendo obrigado a arrecadar uma grande quantia em poucos dias. Para isso, ele contará com a ajuda de sua garota e das `colegas de trabalho` desta.

Sim, esta poderia perfeitamente ser a sinopse de Show de Vizinha, com uma única diferença: o nome do protagonista deste filme é Matthew Brickman, não Joel Goodsen. Joel era, na realidade, o nome do personagem de Tom Cruise em Negócio Arriscado – e a descrição que abre este artigo refere-se à produção de 1983. Curiosamente, Show de Vizinha não assume relação alguma com Negócio Arriscado, apropriando-se de sua premissa sem oferecer créditos ao diretor/roteirista Paul Brickman, responsável pelo trabalho que chamou a atenção de Hollywood para o jovem Cruise – e, portanto, é incrível que a Warner não tenha processado a Fox por plágio e... opa, esperem um momento: quando escrevi sobre De Repente 30 comentei justamente que a Fox deveria ter processado a Columbia e a Revolution por terem plagiado Quero Ser Grande, ou seja: a Columbia plagiou a Fox, que plagiou a Warner, que... Esses estúdios americanos provavelmente contam com um acordo secreto para evitar processos, é isso. Só pode ser.

Enfim. Seja como for, desta vez a `profissional do sexo` não é uma prostituta, mas uma ex-estrela pornô interpretada por Elisa Cuthbert. Dona de uma beleza absolutamente deslumbrante, a atriz encarna o velho sonho masculino da `mulher doce e delicada que na cama vira um furacão` (ideal também conhecido como `prostituta com um coração de ouro`). Decidida a mudar de vida, a garota muda primeiro de cidade e acaba conhecendo o jovem Matthew (vivido por Emile Hirsch), com quem se envolve – até que ele descobre seu passado e comete o erro de tentar levá-la para a cama, quando, então, ela resolve voltar à ativa, já que gostava `do jeito que Matthew olhava para ela antes de saber a verdade`.

Deixe-me ver se entendi: que jeito era este? Antes de saber o que Danielle fazia, o rapaz queria transar com ela. Depois disso... continuou a ansiar pelo mesmo. Ou seja: o tal `olhar` que ela gostava antes era de `desejo`, mas agora ela não suporta vê-lo com olhar... de `desejo`? E mais: se tudo o que bastava para mandá-la de volta à pornografia era um adolescente excitado com seu corpo, teria sido melhor que ela nem abandonasse o emprego. E já que estou tentando compreender como a mente da garota funciona, o que ela viu em Matthew que pudesse tê-la atraído? Patético e inseguro, ele não passa de um garoto que se torna ainda mais ridículo quando tenta bancar o adulto. O que uma mulher experiente poderia querer com um moleque daqueles? E antes que alguém venha com o clichê da `inocência`, lembrem-se de que ela o convida para sair depois de surpreendê-lo observando-a trocar de roupa...

Infelizmente, o roteiro dos plagiadores Stuart Blumberg, Brent Goldberg e David Wagner não se preocupa muito em conferir verossimilhança às motivações de seus personagens, e a mesma falta de critérios pode ser constatada em outros aspectos da trama – ou você realmente acredita que algum funcionário de banco permitiria um saque vultoso sem que o cliente apresentasse seus documentos? Além disso, o velho clichê do `discurso-que-é-aplaudido-de-pé` é utilizado, em Show de Vizinha, em um contexto que beira o ridículo: um discurso daqueles só poderia despertar a admiração de uma platéia que estivesse sob o efeito de drogas alucinógenas. Como se não bastasse, o filme ainda inclui várias seqüências nas quais o protagonista fantasia situações absurdas – algo que, apesar de ocasionalmente engraçado, leva o espectador a desconfiar de tudo o que vê, já que qualquer cena pode, de um momento para outro, se revelar apenas uma ilusão de Matthew.

Apesar de tudo, Show de Vizinha oferece duas recompensas para aqueles que se aventurarem a assisti-lo: a ótima atuação de Timothy Olyphant, que transforma o cínico Kelly em um personagem divertido e surpreendente carismático; e, como já mencionei anteriormente, a beleza de Elisa Cuthbert. Por outro lado, é no mínimo ridículo perceber que, apesar de interpretar uma estrela pornô, a atriz não aparece nua um momento sequer – e minha reclamação não vem apenas do desejo de vê-la sem roupas (tudo bem, admito: seria bacana), mas da própria covardia do filme, que se esforça para parecer `picante`, mas não tem coragem sequer de exibir o corpo de sua protagonista (já outras atrizes aparecem de topless).

Neste sentido, é curioso observar como o `politicamente correto` transformou Hollywood em uma senhora pudica: há mais de 20 anos, Rebecca De Mornay não hesitou em exibir a nudez em Negócio Arriscado – afinal, é o que sua personagem exigia. Já em pleno século 21, temos apenas uma versão `censura livre` de uma atriz do cinema pornô, o que, é claro, enfraquece sua história.

Ao que parece, não falta apenas originalidade aos realizadores contemporâneos. Falta, também, coragem.
``

23 de Setembro de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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