Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
23/09/2005 | 05/08/2005 | 1 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
104 minuto(s) |
Dirigido por Jay Chandrasekhar. Com: Seann William Scott, Johnny Knoxville, Jessica Simpson, Burt Reynolds, Lynda Carter, Michael Weston, James Roday, M.C. Gainey, David Koechner, Joe Don Baker, Nikki Griffin, Jay Chandrasekhar, Willie Nelson.
Não me lembro de muitos detalhes sobre o seriado Os Gatões, ao qual assisti durante parte de minha infância: me recordo de dois caras que entravam em um carro (batizado de General Lee) apenas pelas janelas, de algumas perseguições interessantes e, é claro, de uma garota que, com seus shortinhos curtos e apertados, me ajudou a dar os primeiros passos rumos ao meu amadurecimento sexual. Pois agora que assisti a esta versão cinematográfica, creio ser capaz de antecipar como me lembrarei do filme daqui a alguns anos: me recordarei vagamente de dois caras que entravam em um carro apenas pelas janelas e, é claro, de uma loira escultural que, digamos, conseguiu me deixar inquieto na poltrona do cinema. Já as perseguições... bom, duvido que tenham deixado alguma impressão mais forte em minha memória.
E isto é basicamente o que Os Gatões – Uma Nova Balada tem a oferecer. Escrito por John O’Brien e Jonathan L. Davis, o roteiro nada mais é do que uma colagem de seqüências envolvendo carros em alta velocidade intermediadas por cenas nas quais a já citada loira escultural exibe o corpo (sempre usando aqueles biquínis enormes que as norte-americanas inexplicavelmente adoram). Para enganar os espectadores, os roteiristas acrescentam à `trama` um daqueles eventos esportivos (no caso, uma corrida) que culminam em um confronto entre mocinhos e bandidos durante o terceiro ato – e que, sabe-se lá como, acabam resolvendo também todos os demais problemas dos heróis. Fora isso, o filme nada mais tem a oferecer a não ser mais clichês, como brigas de bar, carros andando sobre as rodas laterais (algo que se tornou velho em 007 – Os Diamantes São Eternos, de 1971) e radiopatrulhas sendo destruídas (algo que se tornou velho em Os Irmãos Cara-de-Pau, de 1980).
Já no rest... hein? Você está ficando entediado com este texto? Quer parar de ler? Não, não! Veja isso:
Já no restante do tempo, Os Gatões – Uma Nova Balada preocupa-se apenas em agredir o público com absurdos que seriam imperdoáveis até mesmo em uma novela de Carlos Lombardi: como, por exemplo, os protagonistas podem se livrar de uma punição legal depois de explodirem um carro de polícia em movimento? Por mais que sejam heróis em sua pequena cidade, não é fato que são culpados, no mínimo, de tentativa de homicídio? Ou devemos ignorar o crime da dupla apenas porque ela dá título ao filme? E já que estou citando exemplos do descaso dos realizadores, observem a cena na qual os primos Duke são agredidos pelos motoristas dos outros carros em função da bandeira Confederada pintada no teto do General Lee: como, oh Céus, aquelas pessoas (com exceção das que dirigem veículos altos) podem ter enxergado a bandeira, para início de conversa? E por que, em nome de Ed Wood, o cavanhaque exibido por Burt Reynolds durante toda a projeção simplesmente desaparece na cena final?
É claro que eu poderia facilmente culpar o diretor Jay Chandrasekhar, do grupo Broken Lizard (um Monty Python ruim), mas isto seria injusto. Sim, ele insiste naquelas pausas intencionais depois de certos diálogos, como se esperasse que o silêncio salientasse a graça (inexistente) do que foi dito. Sim, ele mantém os comentários irrelevantes do narrador, que, mesmo fiéis à série, são inquestionavelmente ridículos. Sim, ele aumenta a importância da própria ponta ao criar um suspensezinho barato que antecipa a revelação de seu rosto, quando surge fazendo uma referência à comédia Super Tiras, que dirigiu em 2001. Sim, ele atinge o fundo do poço ao permitir que um determinado personagem quebre a quarta parede e faça uma careta para o espectador. Mas, apesar de tudo... não... Querem saber? É justo, sim, culpá-lo pela idiotice que atravessa este longa de ponta a ponta.
Ainda assim, a maior... o quê? Sua atenção está se dissipando novamente? Rápido, olhe para isso:
Ok. Ainda assim, a maior parte da responsabilidade pela tragédia cinematográfica representada por Os Gatões cabe, de fato, ao roteiro, que nem sequer evita o velho truque de mostrar o vilão explicando seu plano em detalhes para os heróis supostamente neutralizados – que, obviamente, usarão as informações assim que escaparem da armadilha do bandido. E os diálogos? Deus do Céu, o que posso falar sobre os diálogos? Bom, na maior parte do tempo, estes se limitam a uma série de `Uôus!`, `Iuhus!` e `Hahahas!` – e, por incrível que pareça, são menos ofensivos do que a série de piadinhas contadas por um Willie Nelson que só podia estar bêbado para aceitar participar de uma porcaria como esta.
Mas Os Gatões não é apenas sem graça; é, também, moralmente ofensivo. Povoado por personagens desprezíveis, ignorantes e preconceituosos (o que inclui os `heróis`), o filme é recheado de estereótipos ofensivos a negros, orientais e, sim, às mulheres, que são tratadas como pedaços de carne graciosamente distribuídos com o objetivo de provocar ereções a granel.
Ora, mas ao ilustrar este texto com fotos de Jessica Simpson eu não estaria contribuindo para a exploração do corpo feminino? Sim, mas não me culpem, por favor: em vez disso, dirijam suas reprovações à própria Jessica Simpson, que, ao aceitar participar de um filme no qual é levada a tirar a roupa em praticamente todas as suas cenas, aceitou espontaneamente oferecer seu corpo para o consumo do público masculino. E se ela não se respeita nem se importa em ajudar a fomentar o ideário machista que ainda domina o mundo... bem, me desculpem, mas a tratarei de acordo.
22 de Setembro de 2005
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