Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
08/07/2005 | 14/01/2005 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
105 minuto(s) |
Dirigido por Shona Auerbach. Com: Emily Mortimer, Jack McElhone, Mary Riggans, Sharon Small, Sean Brown, Jayd Johnson, Gerard Butler e Jonathan Pender (voz).
Frankie Morrison é um garoto surdo de nove anos de idade que mora com a mãe, Lizzie, e com a avó, Nell. Habituado a mudanças freqüentes de cidade, o menino mantém contato com o pai apenas através de cartas, já que este é um marinheiro que se encontra longe de casa desde que o filho era apenas um bebê – ao menos, é isto que Frankie acredita. Na realidade, seu pai era um sujeito extremamente violento, o que levou Lizzie a fugir de casa com o garoto. Sem querer revelar a verdade para o filho, ela passa a interceptar as cartas escritas por este, às quais responde em nome do ex-marido. É então que Frankie descobre que o navio no qual seu pai supostamente se encontra vai atracar em sua cidade dentro de alguns dias, o que obriga Lizzie a contratar um desconhecido para que este finja ser o marinheiro.
Escrito por Andrea Gibb, Querido Frankie começa de forma promissora, dedicando os primeiros 30 minutos à construção dos personagens e ao desenvolvimento das relações entre estes. Neste sentido, as atuações do jovem Jack McElhone e da bela Emily Mortimer (O Jovem Adam) são fundamentais: enquanto o primeiro evita parecer apenas mais uma `criança engraçadinha`, conferindo dimensão a Frankie, a segunda é hábil ao estabelecer a vulnerabilidade de Lizzie. Fragilizada pelos vários anos que passou fugindo do ex-marido, a moça parece ter perdido o prazer de viver, dedicando todo o seu tempo ao filho (e, principalmente, às mentiras sobre o pai deste) e à mãe, uma fumante inveterada que discorda radicalmente de suas atitudes com relação a Frankie. E é este pequeno núcleo familiar que conquista a simpatia do espectador.
Não que a farsa criada por Lizzie seja correta, pois não é: ao manter o filho na ignorância sobre o próprio pai, a mulher impede que o garoto amadureça, mantendo-o distante da realidade. Por outro lado, é inegável que ela age com ótimas intenções e que Frankie é uma criança emocionalmente estável mesmo enfrentando todas as dificuldades impostas por sua surdez – e, por esta razão, é fácil acreditar que ele saberia lidar bem com a verdade. Aliás, é curioso observar que é a própria Lizzie quem parece ter se tornado `dependente` das próprias mentiras, já que as cartas escritas por Frankie representam uma rara oportunidade de ouvir a `voz` do filho. Da mesma forma, é interessante constatar que, apesar de alimentar as fantasias do menino sobre o pai, ela se ressente por não ter sua presença mais valorizada pela criança, numa relação profundamente ambígua com a farsa que criou.
Marcando a estréia na direção de Shona Auerbach, o filme é hábil ao estabelecer o clima melancólico que domina as vidas de seus personagens: a direção de arte, por exemplo, faz um trabalho excepcional ao conferir cores sóbrias, tristes, ao pequeno apartamento da família, abusando do marrom e do verde-escuro. Enquanto isso, a fotografia (também de Auerbach) segue a mesma lógica, apresentando um aspecto lavado, apagado, mas que não deixa de ressaltar a beleza da cidade portuária na qual a história se passa. E, ainda que se perca a partir da metade da projeção (como discutirei adiante), a cineasta merece créditos no mínimo pela boa direção de atores e pelo belo plano no qual Lizzie e o `estranho` (cujo nome verdadeiro jamais é revelado) se olham, em silêncio, durante um longo tempo – um momento cuja intensidade é retratada sem o uso de qualquer intervenção sonora.
É lamentável, portanto, que Querido Frankie comece a se perder assim que o `falso pai` entra em cena, quando deveria ser o contrário, já que o potencial dramático da história aumenta justamente em função de mais esta farsa. O problema é que, apesar da presença carismática de Gerard Butler (algo que me surpreendeu, já que até então eu o vira apenas nos fraquíssimos Drácula 2001, Lara Croft Tomb Raider 2, Linha do Tempo e O Fantasma da Ópera), o fato é que, assim que o sujeito é apresentado, o foco do filme se altera radicalmente: em vez de se dedicar a Frankie e ao relacionamento deste com a mãe e o `pai`, o roteiro entrega-se às convenções românticas e se concentra no interesse que surge entre os dois adultos – e logo estamos ouvindo falas como `Eu não sei como ele pôde abandonar vocês dois`.
Aliás, o envolvimento emocional do `estranho` com Lizzie e Frankie ocorre de maneira excessivamente abrupta: é como se ele entrasse na história já com a intenção de se apaixonar por aquela família. Ora, além da dinâmica entre o sujeito e Frankie se estabelecer de forma absurdamente implausível (em poucas horas, já agem como pai e filho), o próprio romance do casal soa mais como uma exigência do roteiro do que como algo natural. E se o confronto entre Lizze e o ex-marido incomoda por ser melodramático demais, a `revelação` final chega a ofender, de tão forçada (e como é conveniente para a roteirista, que evita ter que criar uma solução mais complexa!).
Se por alguns instantes Querido Frankie parecia estar seguindo os passos de bons filmes similares, como As Cinzas de Ângela e Liam, infelizmente acabou por render-se aos clichês e à água-com-açúcar. É sempre triste ver um bom projeto se perder no meio do caminho.
08 de Julho de 2005
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