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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
18/02/2005 11/02/2005 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
118 minuto(s)

Hitch: Conselheiro Amoroso
Hitch

Dirigido por Andy Tennant. Com: Will Smith, Kevin James, Eva Mendes, Amber Valletta, Julie Ann Emery, Adam Arkin, Michael Rapaport, Jeffrey Donovan, Philip Bosco, Jeffrey Donovan, Rain Phoenix.

Havia uma maneira simples de transformar Hitch – Conselheiro Amoroso em um filme infinitamente mais interessante e divertido: bastava alterar o título para Albert – O Contador Bonachão e transferir o foco da narrativa para o simpático personagem interpretado por Kevin James, relegando o tal `conselheiro amoroso` vivido por Will Smith à função de coadjuvante. Afinal, não há como negar o óbvio: toda vez que surge em cena, James traz mais vida ao longa – mas, infelizmente, ninguém da produção parece ter percebido isto durante a realização do projeto (ou, se perceberam, não tiveram coragem de informar Smith, um dos produtores da comédia).

Quando Hitch tem início, somos apresentados ao personagem-título, que, assim como Alfie, tem o hábito nada original de se dirigir diretamente ao espectador para explicar os motivos de seu sucesso com o sexo oposto. Certo de que `qualquer homem é capaz de conquistar qualquer mulher`, o sujeito ganha a vida auxiliando indivíduos inseguros a seduzirem suas amadas. Pois seu mais recente cliente, Albert, representará o maior desafio de sua carreira, já que o objeto do desejo do humilde contador é uma milionária famosa e belíssima cujo rosto está sempre nas colunas sociais (pense em uma Paris Hilton com conteúdo e classe). Enquanto tenta ajudar Albert, Hitch se envolve com Sara (Mendes), uma colunista especializada em fofocas sobre a alta sociedade.

Escrito pelo estreante Kevin Bisch, Hitch – Conselheiro Amoroso é um daqueles filmes dispostos a ignorar qualquer tipo de lógica interna a fim de tentar criar situações engraçadinhas – e não me refiro ao estilo de vida luxuoso do protagonista, aparentemente incompatível com suas atividades (vejamos: ele atua quase no anonimato, tem poucos clientes – já que depende exclusivamente de indicações -, e mesmo estes não parecem ser capazes, em sua maioria, de pagar altos honorários). Não, o grande problema do longa reside nas gags implausíveis e nada engraçadas que recheiam a trama (marca registrada do medíocre cineasta Andy Tennant, que recentemente realizou o fraco Doce Lar), como no momento em que Hitch fica dopado ao tomar medicamentos contra alergia. Além disso, o roteiro transforma o casal principal em um estereótipo do gênero: ele é um sujeito mulherengo que, `no fundo`, quer a estabilidade de uma relação séria; e ela é uma mulher independente que, atrás da fachada durona, oculta seu medo de ser magoada. Mais chavão, impossível.

Mas Hitch comete também outro equívoco comum entre as comédias de Hollywood: para conferir um toque de `profundidade` à história, o filme adiciona elementos dramáticos absolutamente ridículos ao `desenvolvimento` de seus personagens – como a narração, dispensável e tola, feita por Sara sobre um acontecimento de sua infância relacionado à irmã. O que Bisch ignora é que, se comédias brilhantes como Antes Só do que Mal Acompanhado se enriquecem com o sofrimento de seus heróis, é porque o drama encaixa-se de forma orgânica à narrativa, jamais soando como uma imposição. Para piorar, os diálogos pavorosos concebidos pelo roteirista recendem a psicologia barata, evidenciando a artificialidade das conversas entre aquelas figuras de papelão.

Aliás, é incrível que o filme realmente acredite que a colunista interpretada por Eva Mendes possa despertar algum tipo de sentimento mais forte em quem quer que seja. Desejo sexual, sim (a atriz é linda), mas amor? Como se apaixonar por uma mulher egoísta e superficial que ganha a vida expondo a intimidade dos outros? O roteiro até tenta vender a idéia de que Sara só publica fofocas com o objetivo de `ajudar` determinadas celebridades, mas isto chega a ser menos verossímil do que a receita aparente obtida pelo personagem-título com seu trabalho de `consultoria`.

Enquanto isso, Will Smith, um comediante talentoso, se vê limitado pela falta de carisma de Hitch, sendo obrigado a se conter ao compor o protagonista – e se as gags físicas envolvendo o sujeito fracassam (ver o incidente do jet-ski), é justamente porque não combinam com a segurança habitual do conquistador profissional. Desta forma, a única figura realmente adorável de Hitch – Conselheiro Amoroso é Albert, interpretado pelo simpático Kevin James (confesso que também sou fã de seu trabalho na série The King of Queens), que consegue a proeza de roubar todas as cenas que divide com Smith. Se esta comédia oferece algumas boas gargalhadas, todas se devem a James.

Pena que, como já apontei, ninguém tenha tido a idéia de promovê-lo à posição de astro do filme.
``

19 de Fevereiro de 2005

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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