Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
19/08/2003 | 15/03/2005 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
87 minuto(s) |
Dirigido por Ricardo Elias. Com: Silvio Guindane, Fábio Nepô, Paulo Igor, Lohan Brandão, Wilma de Souza, Priscila Dias, Mariana Loureiro, Lucélia Maquiavelli, Francisca Queiroz.
No último Festival de Gramado, De Passagem, primeiro longa de ficção do cineasta Ricardo Elias, consagrou-se como o grande campeão, recebendo o prêmio da Crítica e os Kikitos de melhor Filme, Direção e Roteiro. Destes, consigo compreender apenas o de direção, já que Elias, além de conduzir a trama com eficiência, ainda arranca boas performances de praticamente todo o elenco.
Por outro lado, o roteiro (escrito por Elias e Cláudio Yosida) é absolutamente banal, girando em torno de Jeferson, um aspirante a policial que, depois de receber a notícia da morte do irmão, é obrigado a comparecer ao Instituto Médico Legal para reconhecer o corpo. Acompanhado por um antigo amigo de infância, Kennedy, o rapaz reflete sobre as circunstâncias que levaram seu irmão a entrar no mundo do crime enquanto discute com Kennedy sobre o envolvimento deste com o tráfico. Durante o demorado trajeto, os rapazes dividem histórias e lembranças, tentam desvendar o motivo da morte de Washington e avaliam o que o futuro lhes reserva.
À medida que a narrativa vai se desenrolando, as conversas de Jeferson e Kennedy se tornam extremamente repetitivas e cansativas, o que é grave, já que De Passagem é um filme que aposta mais nos diálogos do que na ação. Na maior parte das vezes, as discussões trazem Kennedy defendendo Washington, afirmando que este era um sujeito legal, e sendo criticado por Jeferson, que condena seu passado e não se cansa de dizer que seu irmão não merecia o perdão, já que era um bandido.
E, apesar da boa (e irônica) idéia de batizar os três rapazes com nomes de presidentes americanos (o que, por contraste, ressalta a dura realidade em que vivem), o roteiro se revela descuidado em vários outros aspectos: em certo momento, por exemplo, Jeferson e Kennedy percebem que estão sendo seguidos e, depois de um tempo, confrontam o homem que os persegue - descobrindo, então, que este fôra enviado para levá-los a um certo lugar. Ora, se a tarefa do sujeito era encontrar e conduzir os dois jovens, por que, então, ele agia furtivamente, como se não quisesse ser visto? A resposta: o filme queria apenas criar um suspense barato, e só.
Outro grave problema de De Passagem diz respeito ao seu protagonista, Jeferson: chato e presunçoso, o rapaz passa a maior parte da projeção mandando o colega `calar a boca`, mostrando-se prepotente e intolerante. Enquanto isso, Kennedy se revela uma figura simpática, embora, em alguns momentos, force a barra para levar o espectador a comover-se com sua história. Com isso, as melhores seqüências do longa são aquelas que retratam a juventude dos três garotos através de flashbacks: além de talentosos, os atores-mirins conferem um ritmo ágil aos diálogos e funcionam muito bem como alívio cômico.
Mas a maior frustração provocada por De Passagem é aquela relacionada à trilha de André Abujamra, que erra pela primeira vez em sua carreira (eu já elogiei fartamente seus trabalhos em obras como O Caminho das Nuvens, As Três Marias e 1,99 - Um Supermercado que Vende Palavras, para citar apenas alguns exemplos recentes): executada basicamente com instrumentos de sopro, a trilha é um verdadeiro desastre, forçando, em alguns momentos, um clima cômico incompatível com a trama e, em outros, tentando ressaltar o `drama` de certas situações. Em outras palavras: por mais talentoso que alguém seja, eventualmente irá tropeçar. E este foi o tropeço de Abujamra.
Mesmo que falho, De Passagem dá indícios de que o diretor Ricardo Elias é capaz de comandar bons filmes. Mas, ao contrário do que o Festival de Gramado deu a entender, ainda não foi desta vez que o cineasta chegou lá.
29 de Outubro de 2003