Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
09/04/2004 | 15/04/2005 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
109 minuto(s) |
Dirigido por Monique Gardenberg. Com: Paulo José, Cléo Pires, Danton Mello, Guilherme Leme, Chico Diaz, Nelson Xavier, Rodolfo Bottino, Ernesto Piccolo, Miguel Lunardi e Mauro Mendonça.
A primeira coisa que chama a atenção em Benjamim é a sua `breguice`: além de contar com a participação de Wando (cantando, infelizmente), o filme inclui tomadas clássicas do brega, como aquela em que a protagonista balança os cabelos em câmera lenta e os vários closes da boca de Cléo Pires, que se tornam repetitivos e jamais se revelam sensuais. De todo modo, esta característica, embora não ajude o longa, tampouco o atrapalha. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito sobre sua estrutura narrativa - que, como comentei em minha análise sobre O Jovem Adam, não funciona muito bem.
Inspirado em livro de Chico Buarque e roteirizado por Jorge Furtado, Glênio Póvoas e Monique Gardenberg (que também assume a direção), Benjamim conta a história do ex-modelo fotográfico Benjamim Zambraia (Paulo José), que, esquecido por todos, torna-se obcecado pela jovem corretora de imóveis Ariela Mazé (Cléo Pires), que se parece muito com um grande amor de seu passado, Castana
Para começar, boa parte da projeção limita-se a retratar o esforço de Benjamim para estabelecer uma ligação com Ariela: assim, vemos o sujeito abordar a moça, que foge correndo enquanto ele a persegue. Momentos depois, o ex-modelo volta a avistar sua musa, que mais uma vez escapa - e esta `dinâmica` se repete várias vezes, cansando o espectador. Além disso, é inexplicável o casting de Rodolfo Bottino para interpretar o mesmo personagem em duas fases da história: se Paulo José se `transforma` em Danton Mello, por que o descaso na escalação de Bottino como a versão jovem do diretor de comerciais? (E o que é pior: como o ator é claramente mais velho do que Mello e mais jovem do que José, a idade de seu personagem torna-se incompatível com a cronologia do filme). E o que posso dizer sobre as duas cenas em que Ariela escreve uma carta enquanto recita, com irritante lentidão, o que está colocando no papel? Será que Gardenberg não conhece o princípio da liberdade artística, que permitiria `acelerar` a redação da moça?
Em contrapartida, a cineasta demonstra inventividade ao incluir pequenas pausas antes dos flashbacks que ilustram as lembranças de Benjamim: é como se a memória do personagem fosse uma versão especial (ou embelezada) dos fatos criada por ele e para ele. Aliás, é igualmente interessante observar a presença da imensa rocha que obstrui a vista das janelas de seu apartamento, e que reforçam a idéia de que Benjamim é, de fato, um prisioneiro de seu próprio passado.
Vivido por Paulo José com a competência habitual, o personagem-título é um homem amargurado e marcado por um triste acontecimento de sua juventude. E, ainda que tenha um surpreendente bom humor com relação ao seu atual anonimato (como fica evidente na cena envolvendo uma gincana), Benjamim obviamente ressente a solidão em que se encontra - e é comovente vê-lo saltar de alegria ao redescobrir o amor. E se Nelson Xavier e Chico Diaz exploram bem suas pequenas participações, o mesmo não pode ser dito sobre Danton Mello, que, pela segunda vez em 2003, deixa uma fraca impressão em um longa-metragem (a primeira foi em O Preço da Paz).
Mas a grande estrela da produção é mesmo Cléo Pires, que, além de belíssima, revela possuir um imenso talento ao viver a multifacetada Ariela, uma jovem que possui um lado muito mais sombrio do que poderíamos supor a princípio. Provando ter herdado o talento da mãe, Glória Pires, Cléo protagoniza duas das seqüências mais fortes do filme: aquela em que sua personagem é estuprada e, logo em seguida, outra em que Ariela conta ao marido o que aconteceu. Chega a ser difícil acreditar que este tenha sido o primeiro trabalho da atriz, que preenche a tela com a segurança de uma veterana. (E eu já disse que ela é linda?)
É uma pena, portanto, que Benjamim seja um projeto apenas mediano. Como falei anteriormente, a `cafonice` de certos elementos não interfere muito na qualidade do filme (ora, pelos nomes dos personagens é possível perceber que Chico Buarque tinha isso em mente), mas a estrutura recortada da narrativa e a `bombástica` revelação final provocam um dano irreparável à experiência.
Ao final, Monique Gardenberg consegue reunir as peças do quebra-cabeça e conferir sentido à história, é verdade - mas quando isto acontece, o espectador já perdeu o interesse há muito tempo.
29 de Outubro de 2003