Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
23/11/2005 | 26/09/2003 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
98 minuto(s) |
Dirigido por David Mackenzie. Com: Ewan McGregor, Tilda Swinton, Peter Mullan, Emily Mortimer, Jack McElhone.
Durante a 27a. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, fiquei particularmente surpreso com a quantidade de produções que adotavam uma estrutura narrativa cronologicamente livre, com utilização (às vezes excessiva) de flashbacks e de ações paralelas que se passam em tempos distintos: em alguns casos, esta estrutura revelou-se eficaz (como em Elefante e Narradores de Javé; em outros, nem tanto (Benjamin, A Janela da Frente). Infelizmente, O Jovem Adam se encontra entre estes últimos.
Escrito e dirigido pelo escocês David Mackenzie, o filme é baseado em livro de Alexander Trocchi e conta a história de Joe Taylor (McGregor), um rapaz que reside e trabalha em uma barcaça de transporte de carvão. Certa manhã, ele encontra o cadáver de uma jovem flutuando no rio e comunica o fato à polícia. À medida que as investigações sobre a morte da garota vão transcorrendo, Joe passa a relembrar seu envolvimento com Cathy (Mortimer), de quem se separara há alguns anos, e também acaba se tornando amante de Ella (Swinton), esposa do homem que o empregou, Les (Mullan). E, como os três moram juntos na barcaça, o clima logo se torna tenso entre todos.
O primeiro grande problema do roteiro diz respeito à obviedade da identidade do cadáver, cujo rosto não é revelado a princípio: qualquer pessoa que já tenha assistido a dois ou três filmes do gênero imediatamente percebe que o corpo é de Cathie - e é inexplicável, o motivo que leva Mackenzie (errando duplamente, como diretor e como roteirista) a tratar o assunto como um enigma. Para piorar, o afogamento da garota (cujas circunstâncias não revelarei, embora não faça a menor diferença) é encenado de forma implausível, artificial. É difícil acreditar que pudesse ter acontecido daquela maneira, mesmo em um filme.
Por outro lado, a abordagem que O Jovem Adam faz do sexo é bem interessante, mesmo que nada original: aqui, os personagens se entregam ao sexo não por amor - e nem mesmo por atração física -, mas por puro instinto animal. Transar é a única forma que eles encontram de sentir alguma coisa, mesmo que não seja prazerosa. Para estas pessoas, o sentimentalismo é pura abstração; algo irreal e ao qual eles não podem se dar ao luxo de conhecer. Assim, quando Joe pergunta a Ella, depois de transarem pela primeira vez, se ela está arrependida, a resposta é lógica e direta: `Que bem isso me faria?`.
Aliás, Tilda Swinton, como Ella, faz o possível e o impossível para aniquilar qualquer traço de sensualidade (ou mesmo feminilidade) que sua personagem pudesse ter: com os cabelos sempre oleosos e a postura encurvada (mesmo nas cenas de nudez, o que prejudica a forma dos seios e da barriga), Swinton ainda faz questão de exibir as axilas não depiladas e de comer sempre com a boca aberta. O resultado óbvio é que o espectador não consegue compreender o que levaria o belo e culto Joe a se tornar parceiro de Ella, que sequer é simpática, divertida ou particularmente inteligente - o que ressalta o foco animalesco que o filme confere ao sexo.
Mas Swinton não é a única a fazer escolhas corajosas: ao compor Joe, Ewan McGregor criou um personagem introspectivo, que jamais deixa transparecer qualquer tipo de emoção. Ora, quem assistiu a Trainspotting, Velvet Goldmine ou Moulin Rouge sabe que McGregor é um ator talentoso e expressivo - e que, portanto, a caracterização de Joe é uma opção, e não uma limitação de seu intérprete. E é formidável que ele consiga retratar os conflitos internos do protagonista sem `utilizar` o rosto.
Ainda assim, há algo que McGregor não consegue evitar: graças principalmente à introspecção do personagem, O Jovem Adam se torna um filme frio que encontra sérias dificuldades em estabelecer conexão com o espectador - e, ao final da projeção, temos uma certa sensação de `E daí?`, o que compromete a experiência. Da mesma forma, o título pode soar inexplicável para parte do público, já que não há Adam algum na trama. Porém, se observarmos que a barcaça na qual Joe mora se chama Lady Eve, o título começa a fazer um pouco mais de sentido - principalmente se lembrarmos que Adão e Eva protagonizaram uma história clássica de tentações (especialmente sexuais) e de conseqüentes promessas não cumpridas.
Pena que nada disso transforme O Jovem Adam em um filme melhor.
28 de Outubro de 2003