Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
01/04/2005 23/03/2005 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
115 minuto(s)

Miss Simpatia 2: Armada e Poderosa
Miss Congeniality 2: Armed and Fabulous

Dirigido por John Pasquin. Com: Sandra Bullock, Regina King, Diedrich Bader, Ernie Hudson, William Shatner, Heather Burns, Treat Williams, Enrique Murciano, Abraham Benrubi, Nick Offerman, Stephen Tobolowsky, Eileen Brennan, Dolly Parton.

Quando escrevi sobre Miss Simpatia, em maio de 2001, iniciei o artigo afirmando que considerava Sandra Bullock `uma gracinha`. Pois bem: quatro anos se passaram e continuo a defender o carisma da moça, que, assim como Doris Day e Meg Ryan, é o tipo de atriz que consegue se afastar do rótulo de `estrela` e construir uma carreira assumindo o papel de garota `comum` que poderia ser aquela vizinha bonita do espectador. No entanto, se isto era o bastante para ajudar a transformar Miss Simpatia em um passatempo acima da média, desta vez o resultado é bem menos satisfatório, como se descobríssemos que a tal vizinha é, infelizmente, fã de pagode.

Retomando a história três semanas depois dos acontecimentos narrados no filme original, Miss Simpatia 2 traz a agente Gracie Hart vivendo um problema inesperado: em função do sucesso alcançado em sua missão anterior, quando se disfarçou de candidata a Miss Estados Unidos para investigar uma ameaça de bomba, a agente do FBI tornou-se famosa demais para poder trabalhar sob disfarce – e, assim, recebe a oferta de se tornar a `nova cara` da agência, aparecendo em programas de entrevistas e divulgando um livro sobre suas experiências em campo. Guiada pelo consultor de moda Joel, ela se transforma na verdadeira antítese da moça desleixada do capítulo anterior, o que não deixa de representar uma forma interessante de lidar com a personagem. Porém, se a trama policial de Miss Simpatia já pecava pela obviedade, desta vez o crime a ser investigado pela protagonista é ainda mais idiota: o seqüestro da Miss EUA e do afetado Stan Fields por dois bandidos genéricos e nada interessantes.

Sem sequer se esforçar para dar um desfecho adequado ao romance entre Gracie e o agente Matthews, que merecera destaque no primeiro filme, o roteirista Marc Lawrence se livra do personagem de Benjamin Bratt através de uma rápida conversa pelo telefone, evitando até mesmo pagar o cachê do ator por uma participação curta na continuação (nem sua voz é ouvida do outro lado da linha). Para ocupar o espaço de Matthews como parceiro da heroína, Miss Simpatia 2 nos apresenta à durona agente Sam Fuller, cujo temperamento difícil afasta todos que tentam trabalhar ao seu lado (não me perguntem se o nome da personagem é uma `homenagem` ao diretor de A Dama de Preto e Anjo do Mal, pois, honestamente, não sei responder). Assim, Lawrence aposta num dos mais velhos clichês do gênero: o dos(as) parceiros(as) que se detestam, mas são obrigados(as) a se aturar – e que, com o tempo, se tornam amigos(as). O problema é que, ao contrário do que ocorria em produções bem-sucedidas como Máquina Mortífera e Homens de Preto, aqui a aproximação de Gracie e Sam é retratada de forma artificial, como mera convenção do roteiro, tornando a amizade implausível.

E, se William Shatner volta a protagonizar alguns momentos engraçados, o filme claramente ressente a ausência de Michael Caine, cuja relação com a personagem de Bullock resultara nas melhores cenas do original. O diretor John Pasquin até tenta substituir Caine pelo também engraçado Diedrich Bader (um comediante que sempre me faz rir), mas o roteiro burocrático não consegue explorar o talento do ator, investindo apenas em um estereótipo ofensivo do `gay promíscuo`, que chega até mesmo a gostar da possibilidade de ir para a prisão (aparentemente, ser violentado por centenas de presidiários é algo com que todo homossexual sonha – ao menos, é o que Hollywood parece acreditar). Fechando o elenco, vem Treat Williams, cuja carreira, inicialmente promissora, é um dos grandes desapontamentos que sofri como cinéfilo.

Engessando Bullock em um formato mais do que batido, Miss Simpatia 2 tenta transformar a personagem em uma versão feminina de Fletch ou Axel Foley, mas o fato é que, ainda que funcione vez por outra, o recurso cômico do `policial disfarçado` já não é mais tão eficiente quanto no passado. Além disso, é difícil aceitar que Gracie seja capaz de identificar pistas e obter informações que uma equipe formada por 75 agentes treinados simplesmente ignorou...

Apesar de funcionar como passatempo descompromissado, Miss Simpatia 2 não é particularmente engraçado – e é realmente assustador que um dos pontos altos da narrativa diga respeito a uma perseguição envolvendo... Dolly Parton! Ora, se isto dificilmente soaria divertido na década de 80, imagine nos dias de hoje, quando Parton se tornou uma mera curiosidade do passado? (Posso até imaginar os espectadores mais jovens olhando uns para os outros e perguntando quem é aquela `dona peituda`...) Aliás, para ser sincero, aquela `piada` não funcionaria nem mesmo se envolvesse Jennifer Lopez ou Britney Spears.

Bullock é uma gracinha, mas não faz milagres.
``

31 de Março de 2005

Comente esta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!