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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
31/10/2003 24/09/2003 5 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
99 minuto(s)

As Invasões Bárbaras
Les Invasions barbares

Dirigido por Denys Arcand. Com: Rémy Girard, Stéphane Rousseau, Marie-Josée Croze, Marina Hands, Dorothée Berryman, Louise Portal, Dominique Michel, Yves Jacques, Pierre Curzi.

Em 1987, o cineasta canadense Denys Arcand realizou o ótimo O Declínio do Império Americano, que contava com uma galeria de personagens fascinantes que discutiam, sempre de forma inteligente, diversos temas relacionados, em sua maioria, ao sexo. Pois agora, 15 anos depois, Arcand reúne os mesmos personagens (vividos pelos atores originais) em um filme igualmente eficiente, mas ainda mais ambicioso. Porém, se você não assistiu ao longa de 87, não se preocupe: você certamente irá se divertir e se emocionar da mesma maneira - embora, é claro, a experiência provavelmente se torne um pouco mais complexa para quem já conhece estas pessoas.

Quando o filme tem início, vemos Sébastien, filho do fascinante Rémy, ser chamado por sua mãe para voltar a Montreal, Canadá, a fim de visitar o pai, diagnosticado com câncer. Profissional bem-sucedido do mercado de valores, o jovem yuppie representa tudo que Rémy, um professor de História, sempre desprezou: `Ele é um capitalista puritano e eu sou um comunista voluptuoso`, explica o enfermo, em determinado momento. Mesmo entrando em constantes conflitos com o pai, Sébastien faz o possível para ajudá-lo, chegando a convocar todos os velhos amigos do professor (vistos no primeiro filme) para visitá-lo no hospital.

Conferindo grande energia à narrativa, o diretor Denys Arcand (que também escreveu o roteiro) mantém o espectador sempre envolvido nas discussões dos protagonistas, que, em vez de se limitarem a falar sobre sexo, conversam sobre os mais diversos assuntos, incluindo as conseqüências sociais, políticas e econômicas dos atentados de 11 de Setembro (criticando abertamente o governo Bush, para meu deleite; o caos do sistema público de saúde do Canadá; e a corrupção entre os políticos do país (infelizmente, todas estas discussões encontram reflexo na realidade brasileira). É claro que Rémy, com seu temperamento performático, protagoniza as conversas mais interessantes, chegando a protestar com uma freira sobre a omissão do Vaticano durante a 2a. Guerra Mundial.

Mas o foco de As Invasões Bárbaras é mesmo a relação entre o professor e seu filho: compreendendo que os discursos críticos do pai são um reflexo de sua inteligência viva e não de uma possível frieza emocional, Sébastien não poupa gastos para diminuir os sofrimentos provocados pela doença - e é curioso observar que, assim como Rémy se esconde por trás do escudo da racionalização, o jovem também usa o dinheiro (seu lastro profissional) para manter a distância entre os dois - embora não meça esforços para alcançar seus objetivos (seu acordo com a jovem Nathalie, por exemplo, é de uma irresponsabilidade assustadora).

Levando o público a estabelecer forte identificação com cada um dos personagens, o roteiro de Arcand é recheado de diálogos afiados e capazes de provocar interessantes reflexões: em certo momento, ao discutir com Nathalie o medo que sente da morte, Rémy diz que ama a vida, especialmente por adorar `vinhos, mulheres e viagens` - mas logo completa o raciocínio, lamentando não poder mais aproveitar estes prazeres, já que seu fígado não suporta o álcool, a idade diminuiu seu apetite sexual, e o excesso de turistas atrapalha as viagens. É quando Nathalie responde:

- Não é sua vida atual que você não quer perder, mas a passada. E esta você já perdeu.

São momentos como este que transformam As Invasões Bárbaras em um filme não apenas divertido, mas rico em conteúdo. E o que é mais importante: sem jamais deixar de lado a emoção, ou seja: este é um daqueles raros exemplares que não alimentam apenas a mente, mas também o coração.

``23 de Outubro de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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