Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
18/03/2005 | 12/09/2006 | 2 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
90 minuto(s) |
Dirigido por Bruno Barreto. Com: Marco Ricca, Luana Piovani, Luis Gustavo, Martha Mellinger, Mel Lisboa, Leonardo Miggiorin, Berta Zemel, Renato Consorte, Zé Vasconcelos, Marina Person, Cybele Jácome.
Bruno Barreto parou no tempo. É esta a impressão clara que tive ao sair da sala de exibição, depois de assistir a O Casamento de Romeu e Julieta. Exibindo alguns dos vícios mais antigos (e ultrapassados) dos cineastas ligados à nouvelle vague - e, conseqüentemente, ao Cinema Novo (por origem ou influência) -, como o deselegante travelling circular em torno de personagens, o diretor conduz o filme de forma incerta, errando a mão no ritmo da narrativa, na composição de vários planos (apelando para a mais básica das câmeras subjetivas) e, é claro, na edição, que inclui até mesmo a jurássica montagem que retrata a cidade de São Paulo durante a noite a fim de indicar uma elipse – um recurso utilizado à exaustão por telenovelas (a Globo, por exemplo, deve ter um arquivo imenso só com imagens do Cristo Redentor feitas por helicóptero).
Inspirado em um conto de Mário Prata, O Casamento de Romeu e Julieta substitui a inimizade entre Montecchios e Capuletos pela rivalidade das torcidas de dois grandes times paulistas: Palmeiras e Corinthians. Um dos líderes da torcida corinthiana, Romeu (Ricca), apaixona-se por Julieta (Piovani), filha de um dos membros da diretoria palmeirense. Para conquistar o sogro, Romeu aceita se passar por torcedor do `Verdão`, chegando a estudar a fundo a história do clube e até mesmo a viajar para o Japão a fim de acompanhar uma partida do time – o que, obviamente, dá origem a uma série de problemas com sua própria avó, uma corinthiana fanática.
Embora os erros de ritmo e estilo prejudiquem o filme, o problema mais grave de O Casamento de Romeu e Julieta reside no tom adotado por Barreto: para que o ótimo potencial cômico da trama pudesse funcionar, o cineasta deveria ter apostado na farsa, o que permitiria que as situações continuassem a representar um drama para os personagens ao mesmo tempo em que liberaria o espectador para rir de todo aquele absurdo. Infelizmente, em vez disso, o diretor leva a sério os conflitos vividos pelos protagonistas – e, assim, quando a avó de Romeu afirma que irá deserdá-lo em função da traição, a cena assume uma voz realmente dramática, incluindo-se, neste esforço equivocado, a trilha composta por Guto Graça Mello (que, aliás, também adota a seriedade durante uma discussão entre Romeu e seu filho). Mas não é só: contrariando um dos princípios mais básicos da comédia, o diretor de fotografia Adriano Goldman cria um visual escuro para o filme, especialmente nas cenas em interiores (a casa dos Baragatti é um exemplo inquestionável desta opção).
Enquanto isso, o roteiro (escrito por Jandira Martini, Marcos Caruso e Mário Prata) exibe claras evidências de que não foi suficientemente revisado – de outro modo, como explicar as presenças absolutamente dispensáveis do filho de Romeu e da namorada do garoto, que provavelmente teriam sido retirados do filme caso alguém se desse ao trabalho de questionar a (falta de) relevância dos personagens? Ora, em vez de perder um tempo precioso explicando o envolvimento do rapaz com uma mágica profissional, por que não investir no desenvolvimento da avó de Romeu, que acaba tornando-se (graças, também, a atuação excessivamente pesada de Berta Zemel) uma figura antipática, levando o público a `torcer` por seu antagonista, o palmeirense Baragatti.
Luis Gustavo, aliás, parece ser um dos únicos integrantes do elenco que realmente entenderam a proposta que a narrativa deveria adotar: criando um personagem exagerado, quase caricatural (mas sem perder sua ambigüidade), o veterano ator conquista o espectador, que torna-se capaz de amar aquela figura nervosa ao mesmo tempo em que reconhece suas falhas de caráter. (A vó Nenzica, em contrapartida, revela-se apenas detestável.) Da mesma forma, Marco Ricca retrata o sofrimento de Romeu de maneira leve (exceto quando a direção de Barreto o empurra na direção contrária), resultando em momentos realmente engraçados, como a angústia que sente ao ser levado a assistir a um jogo na torcida palmeirense. Lamentavelmente, com exceção de Ricca e Luis Gustavo, o único outro ator a conseguir arrancar risadas do público é o sempre ótimo Renato Consorte, que vive um antigo jogador de futebol cheio de casos para contar.
Exibindo um talento semelhante ao de Daniel Filho para o merchandising escancarado (vocês certamente se lembram dos balões da Goodyear em A Partilha e A Dona da História), Bruno Barreto chega a ponto de incluir uma subtrama, em O Casamento de Romeu e Julieta, cujo único propósito aparente é permitir que o logotipo da Pirelli tome conta da tela durante o terceiro ato. Tão sutil quanto o desprezo de Michael Moore pelos republicanos, eu diria.
17 de Março de 2005
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