Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
24/02/2006 | 04/03/2005 | 3 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
103 minuto(s) |
Dirigido por John Maybury. Com: Adrien Brody, Keira Knightley, Jennifer Jason Leigh, Daniel Craig, Kris Kristofferson, Kelly Lynch, Brad Renfro, Mackenize Phillips, Laura Marano.
Povoado por personagens melancólicos, deprimidos e derrotados pela vida, Camisa de Força é um filme que conta com conceitos interessantes, embora demore um pouco mais do que deveria para revelá-los para o espectador. Durante um longo tempo, o público pode perceber que a história está caminhando em alguma direção, mas não consegue identificar exatamente para onde – algo que, quando feito com cuidado, pode ser um recurso narrativo interessante, mas que aqui se excede a ponto de começar a gerar frustração.
Escrito por Massy Tadjedin, o filme traz Adrien Brody como Jack Starks, um ex-militar que, depois de gravemente ferido durante a (primeira) guerra contra o Iraque, é dispensado do exército apenas para se ver acusado de um crime que, para todos os efeitos, pode ter cometido ou não. Diagnosticado como sendo insano, ele é enviado para um hospício ainda mais desumano do que aquele visto em Bicho de Sete Cabeças. Lá, ele se torna cobaia involuntária de uma experiência `terapêutica` desenvolvida pelo psiquiatra Thomas Becker (Kristofferson), que consiste em trancar os pacientes em uma daquelas gavetas utilizadas para guardar cadáveres em necrotérios. E é então que, de alguma forma, Jack descobre que a tortura é capaz de `libertá-lo` de uma forma inesperada – e a qual não pretendo revelar, já que é o próprio filme parece tão determinado a adiar o momento de apresentá-la ao espectador.
É intrigante, a idéia – isto posso dizer. Não tem a menor lógica, é verdade, mas isto não é problema, já que todos os longas que lidaram com tramas similares encontraram modos não menos fantasiosos de viabilizar a jornada de seus personagens. Não importa, portanto, como Jack consegue fazer aquilo, mas sim o que ele faz ao descobrir aquela possibilidade. É isto que torna Camisa de Força instigante; queremos saber como tudo se resolverá. Ainda assim, a narrativa teria se fortalecido caso os personagens demorassem um pouco mais para aceitar o que está acontecendo; da forma como o roteiro lida com os fatos, é como se Jack (e, mais tarde, Jackie Price, vivida por Keira Knightley) simplesmente dissesse: `O que está acontecendo? Ah, entendi. Legal!`, quando seria mais razoável que relutasse para aceitar as evidências fantásticas que lhe são apresentadas.
Da mesma forma, o alcoolismo de Jackie é jogado na trama de forma inconseqüente, sendo prontamente deixado de lado quando já desempenhou sua função: ilustrar o desequilíbrio emocional da personagem. Além disso, a introdução da história, ambientada durante a guerra do Iraque, é totalmente injustificada, já que não assume a menor importância ao longo da projeção. Aliás, fica óbvio que Tadjedin criou aquela seqüência apenas para utilizar a (boa) fala `Na primeira vez que morri, eu tinha 27 anos de idade`, algo que poderia ter sido feito de maneira mais orgânica com relação ao resto da narrativa.
Felizmente, Camisa de Força acerta em um aspecto importantíssimo para sua proposta: o relacionamento entre Jack e Jackie é desenvolvido de forma sensível, levando o público a se preocupar com os personagens. E, em certo momento, quando o protagonista vê uma garotinha (cuja identidade prefiro não revelar), o carinho demonstrado em seu olhar é tão comovente que sequer paramos para pensar na situação incômoda que o filme acaba de nos apresentar. Neste sentido, a abordagem do diretor John Maybury é bastante inteligente, adotando uma postura contemplativa com relação ao que surge na tela, em vez de investir na ação ou mesmo no suspense. Assim, sua câmera está sempre atenta para olhares e expressões faciais, buscando ilustrar a confusão de sentimentos de Jack e a tristeza crônica de Jackie através de closes e planos-detalhe. E mais: criando enquadramentos que assumem ângulos incomuns, Maybury cria ansiedade no espectador, como se o desconforto dos personagens passasse a ser vivido também pelo público. A esta abordagem, soma-se a trilha sonora discreta do britânico Brian Eno, que procura ressaltar a melancolia daquele universo, e não o suspense.
Beneficiado ainda por boas atuações por parte de todo o elenco (embora, sejamos sinceros, a escalação de Kristofferson tenha sido obviamente incorreta, já que um ator mais jovem soaria mais crível), Camisa de Força acaba entrando em colapso em seus cinco minutos finais, quando se esforça para mandar o público para fora do cinema com um sentimento de otimismo, quando, de fato, nada no filme poderia alcançar este efeito. Ao buscar um final relativamente `feliz`, o longa boicota os próprios esforços, deixando, no lugar do desejado `otimismo`, uma sensação clara de frustração.
27 de Setembro de 2005
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