Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
09/04/2004 | 14/11/2003 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
94 minuto(s) |
Dirigido por Billy Ray. Com: Hayden Christensen, Peter Sarsgaard, Chloë Sevigny, Melanie Lynskey, Hank Azaria, Rosario Dawson, Steve Zahn, Mark Blum, Ted Kotcheff.
Em 1998, a tradicional revista semanal The New Republic, que se orgulhava de ser lida no avião presidencial e de influenciar a opinião dos políticos americanos, sofreu um duro golpe ao descobrir que um de seus colaboradores de maior sucesso, o jovem Stephen Glass, havia forjado nada menos do que 27 das 41 matérias que escrevera para a publicação ao longo de 3 anos, chegando ao ponto de citar fontes e fatos completamente fictícios. Mas o que o levou a fazer isso? Insegurança? Pressão excessiva de seus superiores? Imaturidade? O desejo de ser reconhecido? Esta é apenas uma das questões que Shattered Glass, estréia do roteirista Billy Ray na direção, se propõe a examinar.
Adaptado a partir do artigo escrito por Buzz Bissinger para a Vanity Fair, o filme também procura esclarecer como uma farsa tão grande pode ter passado despercebida pelos revisores da New Republic, já que o processo de verificação dos fatos era extremamente cuidadoso, ocorrendo em várias etapas – e uma das conclusões de Shattered Glass é assustadora: caso um jornalista esteja realmente disposto a publicar uma história fictícia, pouca coisa pode ser feita para desmascará-lo. O que fazer, por exemplo, nos casos em que a única forma de checar os fatos de uma matéria é através das notas feitas pelo próprio repórter? E, mesmo que a mentira seja descoberta, como provar que sua atitude foi proposital, considerando-se que ele (ou ela) pode alegar, entre outras coisas, ter sido `enganado(a) por suas fontes`? Não é à toa que, nos últimos anos, escândalos semelhantes ao da New Republic estouraram em publicações como o New York Times, New Times LA e até mesmo a Sports Illustrated (que divulgou uma matéria sabidamente inverídica como uma piada, provocando a revolta de vários leitores) .
No caso particular de Stephen Glass, no entanto, ainda há um outro elemento interessante em questão: a própria personalidade do jornalista. Sempre gentil e humilde (mesmo depois de se tornar um dos profissionais mais requisitados da revista), o rapaz era querido por todos os seus colegas de redação, mostrando-se sempre solícito e disposto a aceitar quaisquer críticas eventuais. Interpretado com sensibilidade por Hayden Christensen (mais conhecido por viver Anakin Skywalker em O Ataque dos Clones), Glass revela-se um exímio contador de histórias, acrescentando detalhes que acabavam por conferir verossimilhança às suas narrativas.
Possuindo um traço claramente infantil em seu comportamento, o rapaz pergunta constantemente se os demais estão `bravos` com algo que ele fez – o que, por si só, é capaz de desarmar seus antagonistas. Porém, ao agir desta maneira, Glass estava sendo autêntico ou não? Em alguns momentos, o filme parece acreditar que cada atitude do jornalista era cuidadosamente estudada; mas, em outros, o roteiro se mostra benevolente e retrata a imaturidade emocional de Glass como fato (quando pede desculpas por algum erro, ele parece esperar que tudo se resolva como num passe de mágica). Seja como for, Christensen transforma o personagem em um indivíduo complexo e capaz de despertar a simpatia do espectador.
Por outro lado, Shattered Glass (título que faz um trocadilho com o sobrenome de Stephen, podendo ser traduzido como Vidraça Partida) não se concentra apenas no jovem jornalista, o que seria um equívoco, e apresenta para o público aquele que foi o responsável por desmascarar a fraude orquestrada por Glass: o editor Chuck Lane. Hostilizado por boa parte de seus colegas de trabalho por ter sido contratado para substituir o antigo (e querido) editor da revista, Lane é um profissional competente que logo reconhece o grave problema que tem nas mãos – e o ator Peter Sarsgaard oferece um excelente desempenho ao evitar que seu personagem se transforme em uma espécie de vilão que se dedica a prejudicar o `pobre herói`: Glass é simpático, é verdade; mas é impossível, para o espectador, ignorar que Lane está com a razão.
Apresentando com energia o fascinante cotidiano das redações para o público, Shattered Glass representa uma importante lição de ética para os profissionais do meio e merece ser exibido em todos os cursos de Comunicação. Quem sabe desta maneira não poderíamos evitar novos casos como o de Stephen Glass ou como o de Janet Cook, que, em 1981, chegou a ganhar o Prêmio Pulitzer por uma matéria falsa? Afinal, a ficção merece aplausos no Cinema, mas jamais no Jornalismo.
6 de Janeiro de 2004
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