Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
04/03/2005 17/12/2004 2 / 5 1 / 5
Distribuidora
Duração do filme
113 minuto(s)

O Vôo da Fênix
Flight of The Phoenix

Dirigido por John Moore. Com: Dennis Quaid, Giovanni Ribisi, Miranda Otto, Tyrese Gibson, Tony Curran, Hugh Laurie, Scott Michael Campbell, Jacob Vargas.

Apesar de estar longe de ser um clássico do Cinema, a versão original de O Vôo da Fênix, realizada em 1965, é um filme correto que funciona, ainda hoje, como um interessante estudo de personagens e do comportamento humano em condições adversas. Ao enfocar um grupo de indivíduos que se via perdido no deserto depois de um acidente de avião, o longa dirigido por Robert Aldrich criava tensão ao ilustrar a mudança gradual na interação entre homens rudes e individualistas, que acabavam revelando elementos de altruísmo e/ou egoísmo absoluto em seus temperamentos – e nem sempre da forma esperada pelo público, já que o personagem mais antipático podia, a qualquer momento, demonstrar uma dignidade surpreendente.

Infelizmente, esta refilmagem comandada por John Moore, apesar de seguir basicamente a mesma trama do original, deixa de lado quaisquer ambições psicológicas e investe no lugar-comum das produções hollywoodianas, trocando o desenvolvimento dos personagens por piadinhas bobas, incidentes implausíveis e confrontos estereotipados. O roteiro de Scott Frank e Edward Burns (sim, o ator) acha tempo até mesmo para incluir um daqueles interlúdios musicais típicos das produções de Jerry Bruckheimer, nos quais todos executam uma tarefa enquanto trocam olhares de satisfação ao ouvirem uma música cool. Como se não bastasse, o dilema vivido pelo grupo nem parece ser dos piores, já que, apesar de perdidos no meio do nada, todos parecem relativamente tranqüilos e raramente enfrentam problemas realmente graves.

Aliás, os `problemas`, quando surgem, são de dois tipos: ridículos ou improváveis. Na primeira categoria, encontra-se o acidente envolvendo um dos sobreviventes do desastre, que logo na primeira noite no deserto sai do abrigo por algum motivo besta e... (suspiros)... morre depois de tropeçar em alguma coisa e rolar por uma duna, perdendo-se dos colegas. Pior do que isto, só mesmo a ameaça representada pela presença absurda de um grupo de guerreiros nas proximidades dos destroços: a única função destes `vilões` é criar algum tipo de tensão (não conseguem) enquanto os heróis tentam reconstruir o aparelho que os levará de volta à civilização – e vale notar que eles atacam justamente no momento que o roteiro julga mais adequado para seus objetivos, e não em outras oportunidades que certamente soariam mais plausíveis.

Sem confiar na capacidade do espectador em acompanhar uma história que se concentrasse mais nos jogos psicológicos entre seus personagens, o novo O Vôo da Fênix está sempre introduzindo algum tipo de `acontecimento` para prender a atenção do público – e, conseqüentemente, jamais conseguimos sentir a lenta passagem do tempo e o desgaste físico e emocional dos protagonistas. No original, o deserto era uma presença ameaçadora, mas, aqui, representa uma mera oportunidade para que o diretor de fotografia Brendan Galvin crie planos superexpostos óbvios que parecem se preocupar mais com a beleza do que com a função narrativa do lugar.

Assumindo o papel que pertenceu a James Stewart na versão de 65, Dennis Quaid até que compreende bem a necessidade de retratar o capitão Frank Towns como uma figura inicialmente antipática que, aos poucos, assume a condição de líder natural do grupo – mas, infelizmente, o roteiro não lhe permite conduzir o arco do personagem de maneira natural, fazendo com que sua `transformação` soe forçada (e o discurso proferido por Quaid em certo momento é absolutamente ridículo, merecendo destaque sua `brilhante` conclusão: `Não somos lixo! Somos pessoas!`). Para piorar, os demais integrantes do elenco jamais conseguem se estabelecer como indivíduos, apenas como caricaturas: há o `sábio` com seu vasto conhecimento sobre o deserto; o irlandês estouradinho; o almofadinha pedante; e, é claro, a bela, jovem e solteira garota cuja única função é criar algum tipo de tensão sexual ao lado do piloto vivido por Quaid.

E há, é claro, Elliott, o enigmático personagem de Giovanni Ribisi, um ator geralmente eficiente (O Resgate do Soldado Ryan, O Dom da Premonição) que, aqui, oferece uma performance constrangedora. Assumindo o papel que no original pertenceu ao alemão Hardy Krüger, Ribisi e o diretor John Moore fazem uma salada-de-frutas indigesta na composição do sujeito, que, apesar de americano, é uma caricatura anacrônica do `alemão hollywoodiano`, com seus cabelos descoloridos e postura rígida (já sua voz anasalada parece uma imitação do austro-húngaro Peter Lorre). Além disso, o diretor utiliza um recurso nada sutil para estabelecer o grau de confiança que Elliott desperta nos colegas: a princípio, ele aparece sempre de óculos escuros, tirando-os a partir do instante em que deve passar uma impressão mais simpática e voltando a usá-los à medida em que se torna mais instável. Psicologia para principiantes...

Em contrapartida, O Vôo da Fênix impressiona do ponto de vista técnico – especialmente na seqüência envolvendo a queda do avião, que é tensa e angustiante. (E é reconfortante saber que a evolução dos efeitos visuais tornou a realização deste tipo de cena mais segura, já que, durante as filmagens do original, o piloto Paul Mantz morreu em um trágico acidente ao fazer as manobras exigidas pelo roteiro.) Já a trilha sonora do usualmente fraco Marco Beltrami irrita pela obviedade, salientando ao ponto da exaustão o tom de cada cena, exagerando tanto nos momentos dramáticos quanto nos de ação e `suspense` (algo que o filme jamais consegue criar).

Tentando parecer mais sério ao incluir uma crítica vazia às grandes corporações (algo sobre a relação custo-benefício em organizar equipes de busca para localizar os acidentados), O Vôo da Fênix eventualmente revela seu próprio descompromisso com a seriedade na montagem de fotos que surge antes dos créditos finais e que expõe a mentalidade juvenil (no pior termo da palavra) dos roteiristas, do diretor e dos produtores que, em vez de corrigirem os pontos fracos do filme original, optaram por incluir uma série de novos defeitos que comprometem irremediavelmente o resultado final.

E assim, é o próprio O Vôo da Fênix que jamais consegue decolar.
``

07 de Janeiro de 2005

Comente esta crítica em nosso novo fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!