Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
29/10/2004 | 05/11/2004 | 3 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
103 minuto(s) |
Dirigido por Charles Shyer. Com: Jude Law, Marisa Tomei, Susan Sarandon, Jane Krakowski, Omar Epps, Nia Long, Gedde Watanabe, Sienna Miller.
Em Como Conquistar as Mulheres, do qual este Alfie é uma refilmagem, Michael Caine lançou-se para a fama ao viver um personagem cujo chauvinismo não era uma simples característica, mas um modo de vida. Chegando ao ponto da crueldade ao tratar as mulheres em sua vida como meros objetos de satisfação sexual, Alfie representava o protótipo a ser combatido na revolução feminista prestes a acontecer. Como se não bastasse, suas `vítimas` eram, na maioria, garotas vulneráveis que não apenas sofriam em função do abuso emocional imposto por Alfie, mas que podiam facilmente se tornar malvistas pela sociedade, considerando-se que, na época (1966), ser mãe solteira era mais do que algo complicado; era uma ofensa aos `bons costumes`.
Assim, o eventual amadurecimento do protagonista era um espetáculo a ser admirado, já que Michael Caine fazia poucos esforços para torná-lo simpático aos olhos do espectador. Em contrapartida, nesta nova versão, Jude Law procura suavizar Alfie desde o princípio: o sujeito continua egoísta e manipulador, é verdade, mas já em uma de suas primeiras cenas conhecemos um lado mais sensível do rapaz, quando este revela sua afeição pelo filho pequeno de sua (quase) namorada Julie (Tomei). Além disso, fica difícil ter pena de suas conquistas amorosas, considerando-se que todas as mulheres vistas ao longo desta refilmagem são lindíssimas, independentes e experientes – e, portanto, mais voluntárias do que vítimas nas mãos de Alfie. E ser mãe solteira é, hoje, algo que não provoca sequer um erguer de sobrancelhas em quem quer que seja.
O resultado é que, agora, Alfie tornou-se um indivíduo cujo maior pecado é a imaturidade – o que pode facilitar sua aceitação pelo público mais jovem, mas que certamente arruina quaisquer tentativas de se fazer um complexo estudo de personagem. Da mesma forma, o roteiro escrito por Elaine Pope e Charles Shyer tem tanto receio de afastar o espectador que, aqui, o protagonista começa a experimentar mudanças já nos 15 minutos iniciais, quando, supostamente, ainda deveríamos estar conhecendo suas falhas de caráter. Infelizmente, tais alterações não vêm de forma natural, como no excelente (e similar) Um Grande Garoto, mas através de acontecimentos bombásticos: uma suspeita de câncer, um aborto e impotência temporária. Ora, até mesmo Fernandinho Beira-Mar poderia mudar de vida caso passasse por tais experiências em tão pouco tempo...
E se em 1966 era algo relativamente inovador obrigar o personagem a conversar diretamente com a câmera, o recurso já se desgastou significativamente nos últimos 40 anos e, portanto, soa como um clichê sem muito propósito, ainda que gere momentos divertidos. Aliás, não compreendo por que estas conversas com a câmera não foram, todas, transformadas em narrações em off, o que permitiria que conhecêssemos melhor as motivações de Alfie sem que, para isso, a `quarta parede` fosse rompida, gerando uma distração dispensável. Afinal, não deixa de ser interessante ouvir as opiniões do anti-herói sobre a falta que faz um relacionamento estável durante as festas de fim de ano e sobre aquele inevitável sentimento de incerteza que experimentamos depois de romper um namoro - mesmo que este estivesse enfrentando graves problemas.
Assumindo a difícil tarefa de recriar um papel vivido de forma inesquecível por Michael Caine, Jude Law se sai admiravelmente bem, ilustrando com competência a segurança e o carisma de Alfie – e se este não se revela tão tridimensional quanto a versão de 66, a culpa é do roteiro, não do ator. Já Marisa Tomei (por quem tenho uma quedinha, confesso) e Nia Long pouco podem fazer com suas personagens, que, apesar de deixarem marcas profundas em Alfie, são caracterizadas pelos roteiristas como meras figuras decorativas. Por outro lado, as mulheres vividas por Susan Sarandon e Sienna Miller oferecem muito mais oportunidades para suas intérpretes, já que são bem mais complexas (Sarandon, em particular, protagoniza uma cena brilhante, na qual surpreende seu amante com uma resposta que funciona como um verdadeiro tapa na cara).
Adotando um estilo `anos 60` em sua direção, o cineasta Charles Shyer faz bom uso de freeze frames (e dos zooms nestas imagens congeladas), telas divididas e, é claro, da ótima trilha sonora, composta em parceria por Mick Jagger e Dave Stewart (a canção Old Habits Die Hard é belíssima). É uma pena, portanto, que o filme ande em círculos e não ofereça uma resolução satisfatória. Chega a ser estranho: apesar do monólogo final de Jude Law ser praticamente idêntico ao de Michael Caine no original, as circunstâncias que o levam àquele estado de espírito soam tão bobinhas que o resultado, em vez de funcionar como uma catarse, soa apenas como um discurso vazio, sem maiores conseqüências.
De todo modo, Alfie é uma falha nobre, já que, em uma época na qual a maior parte dos filmes gira em torno de explosões e efeitos especiais, ao menos tenta abordar temas adultos. Faltou-lhe coragem, mas não boas intenções.
P.S.: Sim, a tatuagem no seio esquerdo da personagem de Susan Sarandon é uma homenagem feita pela atriz a este humilde crítico, relembrando o affair que tivemos há vários anos. ;)
17 de Dezembro de 2004
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