Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
09/03/2007 | 01/01/1970 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
126 minuto(s) |
Entre 1952 e 1958, George Reeves encontrou a fama ao interpretar o herói-título dos 104 episódios da série “Aventuras de Superman”, produzida para a tevê norte-americana. Porém, pouco mais de um ano depois da veiculação do último episódio, o ator foi encontrado morto em seu quarto, baleado na cabeça. Apesar de declarada oficialmente como suicídio, a morte de Reeves até hoje representa um pequeno mistério, já que incongruências nas investigações indicam a possibilidade de que ele talvez tenha sido vítima de homicídio – e é justamente este incidente que serve de base para Hollywoodland, que, assumindo as características de um filme noir, reconta a trajetória do astro rumo ao sucesso, sua decadência posterior à série de tevê e sua morte trágica, intercalando sua história com as investigações feitas por um detetive particular (fictício) contratado pela mãe do ator.
Vivido por Adrien Brody, o detetive Louis Simo é um anti-herói característico do gênero: recém-divorciado, cínico e sempre pronto para disparar um comentário afiado, o sujeito não hesita em assumir casos “malditos” que foram recusados por seu antigo patrão, que o demitiu por vender informações sobre uma atriz a um tablóide. Encontrando na morte de Reeves (Affleck) a oportunidade perfeita para ganhar as manchetes dos jornais, Simo logo passa a incomodar alguns dos homens mais poderosos de Hollywood, como o executivo da MGM (que realmente existiu) Eddie Mannix (Hoskins), cuja esposa Toni (Lane) manteve um longo caso com o ator. Enquanto isso, através de flashbacks, o roteiro de Paul Bernbaum retrata o envolvimento de Reeves e Toni, que nada tinha de secreto – aliás, em certo momento, Eddie e Toni chegam a jantar em público ao lado de seus respectivos amantes, numa prova do imenso poder do executivo sobre a mídia da época, que jamais publicava uma palavra sequer sobre os escândalos que o envolviam (e que incluíam até mesmo algumas mortes suspeitas).
Empregando uma fotografia levemente dessaturada e inclinada para o sépia a fim de estabelecer a aura de um passado de glamour, o filme tem, na recriação de época, seu ponto forte: dos figurinos aos carros e penteados, passando pela leve distorção nas imagens dos aparelhos de tevê daquele período, a equipe do diretor estreante Allen Coulter realmente consegue mergulhar o espectador na Hollywood da década de 50, não hesitando em incluir “pontas” de nomes como Fred Zinnemann, Billy Wilder, Rita Hayworth e Burt Lancaster (este último, através de imagens de A um Passo da Eternidade combinadas digitalmente com Ben Affleck). Aliás, a competência técnica de Hollywoodland também se aplica à montagem de Michael Berenbaum, mais habituado a produções para a televisão e que aqui consegue criar uma boa dinâmica entre as seqüências ambientadas em junho de 1959 (que focam as investigações de Simo) e aquelas que abordam a carreira de Reeves, de 1950 até sua morte: através de transições empregando efeitos sonoros ou âncoras visuais, o montador é bem sucedido ao manter a narrativa sempre num bom ritmo, apesar de ser eventualmente boicotado por um roteiro que se estende muito mais do que o necessário.
Uma destas transições entre as épocas, diga-se de passagem, funciona não apenas como elo narrativo, mas também para ressaltar a tragédia de uma vida interrompida tão precocemente: depois de vermos o corpo lívido e ferido de um George Reeves envelhecido, somos imediatamente confrontados com a imagem do ator uma década mais jovem, feliz e em plena forma física. Contribui para este choque a ótima performance de Ben Affleck, que retrata com competência o arco dramático de seu personagem: inicialmente, Reeves surge como um oportunista charmoso que consegue “invadir” uma foto de Rita Hayworth de maneira divertidamente natural, como se fizesse aquilo todos os dias, transformando-se gradualmente em um amargo e frustrado homem de meia-idade que sorri com dificuldade e que vê todos os seus projetos desabarem em função de sua identificação inevitável com o super-herói que interpretou durante seis anos em rede nacional – algo que o constrange visivelmente. Porém, talvez a maior façanha de Affleck seja conseguir convencer o espectador de que, apesar de se envolver com uma mulher mais velha que é casada justamente com um influente executivo, Reeves está longe de ser um gigolô ou um simples interesseiro, já que seu afeto por Toni parece autêntico, assim como seu constrangimento por não conseguir desenvolver sua carreira por conta própria.
Da mesma forma, Bob Hoskins merece aplausos por retratar Eddie Mannix como um homem contido, mas perigosamente capaz de gestos extremos; e sua aparente falta de interesse na esposa, que jamais esconde seus relacionamentos extra-conjugais, está longe de corresponder à realidade, já que o sujeito acompanha de perto tudo o que ocorre com Toni – que, por sua vez, ganha uma fragilidade comovente à medida que envelhece graças não só ao ótimo trabalho de maquiagem, mas também à atuação de Diane Lane, que ilustra a natureza possessiva de sua personagem sem perder de vista a vulnerabilidade que o peso da idade traz a uma mulher incrivelmente vaidosa.
Finalmente, Adrien Brody faz o possível para conferir alguma complexidade a Louis Simo, mas o fato do detetive ser construído pelo roteiro como um amontoado de clichês não o ajuda – e por mais que o filme tente estabelecer um paralelo entre a sua trajetória e a de George Reeves, que (de acordo com o filme) jamais se mostrou satisfeito com o que tinha e sofria por aquilo que estava fora de seu alcance, esta comparação soa artificial, como se fosse apenas uma maneira frágil de amarrar as duas narrativas (e é exatamente isso). Como se não bastasse, a subtrama envolvendo um cliente de Simo que se mostra paranóico com relação à possível infidelidade da esposa revela-se absolutamente descartável, servindo apenas para aumentar o tempo de projeção, tornando Hollywoodland muito mais longo do que o necessário (e a “culpa” que o detetive sente com relação ao desfecho daquele caso – algo que o leva imediatamente a beber e fumar pelo resto do filme - é implausível demais para provocar qualquer efeito).
Tentando evocar a mesma atmosfera sufocante de Los Angeles – Cidade Proibida, este Hollywoodland surge como pálida (literalmente) imitação do excepcional trabalho de Curtis Hanson. Caso tivesse se concentrado na vida de George Reeves, o filme teria mais chances de prender nosso interesse; ao focar-se principalmente em sua morte, porém, faz jus apenas à carreira decepcionante daquele pobre ator.
11 de Março de 2007
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