Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
23/10/2004 | 17/06/2004 | 5 / 5 | 5 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
80 minuto(s) |
Dirigido por Richard Linklater. Com: Julie Delpy e Ethan Hawke.
Depois de voltar a assistir Antes do Amanhecer recentemente, para me `preparar` para esta continuação, publiquei o seguinte comentário no Rotten Tomatoes:
`É como testemunhar duas pessoas se apaixonando uma pela outra em tempo real: algo simultaneamente mágico, comovente e de partir o coração.`
Naquele belíssimo filme de 1995, acompanhávamos uma história de amor que, de tão real, tornava-se atípica para uma produção norte-americana: os personagens de Ethan Hawke e Julie Delpy, que haviam se conhecido em um trem, se apaixonam não em função de aventuras que vivem juntos ou de acontecimentos dramáticos, mas simplesmente porque conversam. E, quando são obrigados a se separar na manhã seguinte de seu primeiro encontro (ele tem que pegar um avião de volta para os EUA; ela deve retornar a Paris), combinam reunir-se dali a seis meses, em Viena - mas, levados por um romantismo juvenil, decidem não trocar telefones ou mesmo revelar seus sobrenomes.
O que ocorreu então é algo que Antes do Pôr-do-Sol revela em seus minutos iniciais, mas vou deixar que você descubra através dos próprios personagens; esta é uma história pessoal demais para que um `estranho` interfira no processo. O que posso dizer é que, assim que se encontram nesta continuação, que se passa nove anos depois do original, Jesse (Hawke) e Celine (Delpy) voltam a sentir a antiga química que os aproximou - embora, por alguns momentos, sintam-se visivelmente constrangidos na presença um do outro. Mais uma vez, porém, o tempo que podem passar juntos é curto: em pouco mais de uma hora, Jesse, que está em Paris apenas para divulgar seu livro (que narra justamente o encontro com Celine), terá que pegar outro avião. Isto não os impede, obviamente, de dar uma volta pela cidade enquanto o motorista do rapaz não vem buscá-lo para conduzi-lo ao aeroporto.
Ao contrário de Antes de Amanhecer, este novo encontro do casal é retratado em tempo real, o que é sempre um feito admirável em um longa-metragem (especialmente quando tem um propósito dramático bem definido, como é o caso aqui). Assim, o cineasta Richard Linklater basicamente segue seus atores com sua câmera, utilizando longos planos que permitem que a conversa flua com naturalidade. No entanto, não se engane: é incrivelmente mais difícil rodar longos planos (especialmente em locações e com os atores em movimento) do que dividir as cenas em vários planos menores – e o mais impressionante é que Delpy e Hawke, mesmo sendo obrigados a repetir algumas tomadas diversas vezes, sempre soam de maneira extremamente natural, como se estivessem improvisando seus diálogos (o que não ocorreu). Além disso, as próprias condições de filmagem permitem que o acaso adicione detalhes que conferem charme adicional ao filme, como no instante em que um galho de árvore cai na frente de Hawke, que se assusta mas continua a cena – assim como aconteceria na vida real.
Mas o mais fascinante em Antes do Pôr-do-Sol é que, como no original, conhecemos aqueles personagens não através de suas ações, mas de suas idéias, da forma com que enxergam o mundo. À medida em que trocam suas impressões sobre diversos temas, Jesse e Celine tornam-se absolutamente reais para o espectador – e o fato de que eles também estão se (re)descobrindo estabelece uma profunda identificação com a platéia (e, particularmente, confesso que me apaixonei por Julie Delpy, o que provavelmente vai desagradar minha esposa – mas... foi impossível evitar). Além disso, eles têm um interesse genuíno em escutar o que o outro tem a dizer; não estão apenas esperando a própria vez de falar (como a maior parte das pessoas). Durante a conversa, eles refletem sobre o que está sendo dito e, em alguns casos, mudam de opinião em função do novo ponto de vista que descobriram.
Os assuntos que discutem, aliás, variam do prosaico (como quando Celine comenta que Jesse agora tem profundas linhas de expressão) ao fascinante (a garota explica que, certa vez, passou algum tempo em um país comunista e que a ausência de outdoors e propagandas de qualquer tipo levou-a a pensar com uma clareza inédita). Mas, independentemente do tópico abordado, podemos perceber que Jesse e Celine são basicamente as mesmas pessoas de nove anos atrás, apenas mais amadurecidas – e esta continuidade na composição dos personagens merece aplausos. Da mesma forma, Linklater permite que flagremos pequenos momentos de vulnerabilidade do casal, como na cena em que Jesse toma uma certa liberdade com Celine, colocando-a no colo, mas logo se embaraça ao perceber que talvez tenha passado do limite (e percebam, também, como, em instantes diferentes, eles contém o impulso de tocar o outro – e é a falta do toque que evidencia para o público o turbilhão de emoções pelo qual o casal está passando).
Incluindo três músicas cantadas por Julie Delpy (que possui uma voz maravilhosa), Antes do Pôr-do-Sol é um filme apaixonante sobre duas pessoas que, já experientes, são capazes de perceber como é raro que encontremos alguém com quem possamos estabelecer uma ligação autêntica, sem interesses – mesmo que reconheçam que, no momento, possuem apenas uma visão idealizada um do outro, visão esta que poderá se desfazer caso decidam ficar juntos (e se isto acontece ou não, é uma questão que cada um de nós deverá responder sozinho).
Antes do Amanhecer terminava com uma série de planos nos quais víamos os locais por onde Celine e Jesse haviam passado durante as horas em que estiveram juntos, e o vazio daqueles espaços era o bastante para despertar uma sensação de nostalgia e melancolia no espectador. Já Antes do Pôr-do-Sol inicia desta maneira, exibindo os lugares pelos quais o casal irá passar – e, além desta verdadeira rima temática ser incrivelmente elegante, serve ainda para criar um sentimento oposto, de antecipação e promessa.
O resultado é que este é, ao lado de Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, um dos melhores filmes do ano. E, também como aquele, um dos mais românticos.
29 de Setembro de 2004
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