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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
11/07/2003 01/01/1970 2 / 5 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
93 minuto(s)

Cruzeiro das Loucas
Boat Trip

Dirigido por Mort Nathan. Com: Cuba Gooding Jr., Horatio Sanz, Roselyn Sanchez, Viviva A. Fox, Maurice Godin, Victoria Silvstedt, Lin Shaye, Will Ferrell e Roger Moore.

Do ponto de vista moral, Cruzeiro das Loucas é um filme incrivelmente hipócrita: depois de retratar os homossexuais como indivíduos estranhos, pervertidos e, de certa forma, ameaçadores, o roteiro tenta se prevenir contra as inevitáveis acusações de preconceito ao fazer com que um de seus protagonistas `descubra` que os gays são homens `comuns`, `normais` – apesar de praticamente só conhecer a estranha galeria de sadomasoquistas, transexuais e outros estereótipos que habitam a produção. Por outro lado, é impossível negar que o filme tem certo charme e sua parcela de piadas razoáveis.

Escrito por William Bigelow e Mort Nathan (que também estréia na direção), Cruzeiro das Loucas traz Cuba Gooding Jr. no papel de Jerry, um sujeito que, depois de ser abandonado pela namorada, entra em profunda depressão e se recusa a sair de casa. Para ajudá-lo a se recuperar, seu amigo Nick (vivido por Horatio Sanz, do programa Saturday Night Live) o convence a embarcar em um luxuoso cruzeiro, com a promessa de que, a bordo, haverá uma proporção de três mulheres para cada homem. Porém, depois de uma discussão com o dono da agência de viagens (uma ponta não-creditada de Will Ferrell, ex-integrante do SNL), os dois acabam sendo enviados em um cruzeiro exclusivo para gays – e só descobrem que foram enganados quando o navio já está em alto-mar. Inicialmente apavorada com a perspectiva de passar dez dias cercada por homossexuais, a dupla se acalma depois que um grupo de belas garotas (todas devidamente siliconadas) é resgatado em um bote salva-vidas e quando descobrem que, além disso, há uma linda professora de dança a bordo. O problema é que, para se aproximarem das mulheres, os dois amigos são obrigados a fingir que são gays.

Além das péssimas desculpas oferecidas para justificar a necessidade dos protagonistas se passarem por homossexuais, o roteiro comete o erro de acreditar que a premissa da história é o bastante para que tudo seja engraçado – e, com isso, Cruzeiro das Loucas se torna um filme de uma piada só, colocando os dois amigos em simples variações da mesma situação: cenas em que eles ficam constrangidos pela presença de seus esdrúxulos companheiros de viagem. Para piorar, o diretor Mort Nathan não consegue se decidir sobre o tipo de humor no qual pretende investir, oscilando entre a comédia de situação (como Será Que Ele É?) ou o besteirol puro (como Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu). Em alguns momentos, o filme parece seguir o primeiro estilo (como na seqüência em que, depois de uma noite de bebedeira, Nick acorda ao lado de um homem; e, em outros, o segundo (como a tomada em que, depois de transar sob uma laranjeira, Jerry se vê enterrado em um monte de frutas).

Além disso, Nathan procura arrancar risadas através da utilização, em certas tomadas, de closes fechadíssimos e de lentes e enquadramentos que provocam ligeira deformação nos atores, numa tentativa mal-sucedida de aumentar os elementos bizarros das personalidades dos personagens. Assim, os únicos momentos em que Cruzeiro das Loucas consegue genuinamente provocar o riso são aqueles em que determinada piada existente no roteiro sobrevive à direção do cineasta estreante – e, obviamente, a maioria destas piadas reside em diálogos inspirados, como na cena em que alguém pergunta para o milionário Lloyd, vivido por Roger Moore, qual foi o lugar mais estranho em que este fez amor. A resposta: `Dentro de uma mulher`.

E já que mencionei o ex-James Bond, é preciso dizer que Moore é, sem dúvida alguma, um dos melhores elementos da produção, já que parece estar se divertindo imensamente ao brincar com a imagem de conquistador estabelecida ao longo de sua carreira. Da mesma forma, Maurice Godin, como o escandaloso Hector, também arranca algumas risadas, embora esteja obviamente repetindo o tipo criado por Hank Azaria na refilmagem de A Gaiola das Loucas, o mordomo Agador. E se Horation Sanz demonstra possuir certo timing cômico (embora esteja longe de realmente funcionar), Cuba Gooding Jr. está constrangedoramente ruim, apelando para caretas e trejeitos que nos fazem questionar (assim como em Tá Todo Mundo Louco) a forma com que o premiado ator vem conduzindo sua carreira. Fechando o elenco (além de Richard `Shaft` Roundtree em uma ponta dispensável), vem a bela Roselyn Sanchez, que protagoniza a cena (auxiliada por uma banana) que provavelmente resultou na forte censura que Cruzeiros das Loucas recebeu nos Estados Unidos.

Utilizando constantemente um humor apelativo, esta comédia poderia até funcionar como um esquete do Saturday Night Live (o que combinaria até mesmo com o elenco), mas, como um longa de 94 minutos de duração, é irregular, cansativa e pouco original. Em outras palavras: o filme ideal para se assistir na tevê a cabo em uma madrugada de sábado.
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17 de Julho de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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