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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
05/03/2004 03/10/2003 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
105 minuto(s)

Por um Triz
Out of Time

Dirigido por Carl Franklin. Com: Denzel Washington, Eva Mendes, Sanaa Lathan, Dean Cain, John Billingsley, Alex Carter, Terry Loughlin, Nora Dunn.

Matt Lee Whitlock é o chefe de polícia de uma cidadezinha da Flórida e se encontra em uma grande enrascada: há algumas semanas, ele apreendeu 485 mil dólares de um traficante de drogas e recebeu ordens de guardar o dinheiro em sua delegacia até o momento do julgamento. No entanto, depois de descobrir que sua amante (uma mulher casada) está com um grave câncer que só pode ser tratado em uma clínica no exterior, Whitlock resolve entregar o dinheiro para a moça a fim de financiar sua viagem e os gastos com médicos. Infelizmente, um incêndio criminoso acaba matando a garota e seu marido, e agora o policial não apenas têm de prestar contas sobre o dinheiro, como também deve desvendar o que realmente aconteceu antes que os detetives encarregados do caso percebam algo óbvio: todos os indícios sobre a identidade do responsável pelo incêndio apontam em sua direção.

Escrito pelo estreante David Collard, Por um Triz é um filme desigual: por um lado, leva nada menos do que 45 minutos para realmente dar início à história (algo que o trailer fazia em menos de 2 minutos; por outro, consegue prender a atenção do espectador a partir do momento em que se concentra nas tentativas de Whitlock em despistar os investigadores. Obviamente inspirado no interessante Sem Saída (1987), no qual Kevin Costner enfrentava circunstâncias semelhantes, o roteiro mergulha o personagem de Denzel Washington em uma série de situações tensas, como aquela em que deve impedir que os detetives recebam um fax que pode revelar algo importante e, é claro, outra em que procura evitar se encontrar com uma testemunha que pode lhe reconhecer (algo exatamente igual ocorria em Sem Saída).

Outro ponto forte de Por um Triz reside em sua ambientação, uma pequena cidade litorânea, que o difere de praticamente todos os exemplares do gênero, cujas histórias são sempre situadas em metrópoles. Assim, é curioso perceber como Whitlock e seus subordinados costumam trabalhar de bermudas (o que, de certa forma, leva o espectador a subestimá-los) e também é sintomático perceber que o xerife (ou `delegado`, como seria designado no Brasil) costuma checar as portas das casas da cidade para confirmar se estas foram trancadas – sinal de que não tem muitas outras preocupações como oficial da lei. Aliás, este contraste entre a trama policial e o cenário `tropical` é refletido logo nos créditos iniciais, que combinam toques de noir com uma trilha mais `dançante` de verão.

Como não poderia deixar de ser, o longa também tem a sorte de contar com Denzel Washington, um ator brilhante que sempre confere energia aos seus papéis – mesmo os mais burocráticos, como o que assume aqui: Whitlock, para início de conversa, é um herói cuja principal característica é o desespero – algo que Washington retrata com talento. Porém, o roteiro acaba negligenciando outro aspecto que deveria ser importante para o personagem: a inteligência. Afinal de contas, o xerife não deve ter alcançado este posto por pura sorte – e o fato de ter prendido um traficante (algo que ocorre antes do início da história) comprova isto. Infelizmente, apesar de demonstrar astúcia em alguns momentos (como na perseguição em uma escadaria), Whitlock é transformado em um idiota no terceiro ato, quando decide agir sozinho sem a menor necessidade; ao contrário, qualquer imbecil com um mínimo de bom senso saberia reconhecer a importância de solicitar auxílio antes de agir naquelas circunstâncias (que não descreverei). A única explicação para que o policial aja daquela maneira é o clichê: Collard queria criar um confronto nos minutos finais e, por esta razão, precisava manter seu protagonista longe de todos. O problema é que isto enfraquece terrivelmente o filme.

Além disso, o roteirista apela também para o velho clichê do `casal recém-divorciado que ainda se ama, mas que passa toda a história fingindo ter superado o relacionamento` - o que dá lugar a uma conversa constrangedoramente ruim que ocorre em um restaurante e interrompe o fluxo da narrativa. E o que é pior: o filme não consegue sequer fazer com que nos importemos com o tal romance, não fazendo a menor diferença se Whitlock e sua ex-esposa irão se reconciliar ou não. Para piorar, Collard ainda inclui uma revelaçãozinha idiota no ato final que, além de não alterar nada do que foi descoberto até então, pode até mesmo provocar o riso involuntário do espectador.

E se o diretor Carl Franklin (Crimes em Primeiro Grau) consegue criar tensão em algumas seqüências (como a que se passa no balcão de um hotel), acaba falhando miseravelmente em outras, como ao alternar o confronto entre Whitlock e determinado(s) personagem(ns) com cenas em que vemos seu amigo pegando uma forte chuva (neste caso, a culpa também deve ser atribuída à edição de Carole Kravetz, colaboradora habitual de Franklin, que se perde totalmente nos 15 minutos finais).

Por um Triz vale, portanto, por seu ótimo segundo ato, já que o início e o fim do longa são abaixo da média. E, ainda assim, permita-me fazer uma pergunta que, espero, você saberá responder após o filme: por que alguém que poderia facilmente conseguir 1 milhão de dólares abriria mão deste dinheiro a fim de conseguir `apenas` 485 mil dólares? Se você conseguir solucionar esta questão, parabéns: já pode se candidatar ao posto de novo xerife da tal cidadezinha vista no filme. Ela está precisando.
``

28 de Fevereiro de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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