Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
05/11/2004 | 24/09/2004 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
91 minuto(s) |
Dirigido por Joseph Ruben. Com: Julianne Moore, Dominic West, Gary Sinise, Anthony Edwards, Alfre Woodard, Christopher Kovaleski, Linus Roache.
Normalmente, os trailers produzidos para divulgar os últimos lançamentos de Hollywood costumam revelar praticamente tudo o que o filme tem a oferecer, incluindo reviravoltas que só ocorrem no terceiro ato (ver Revelação, Náufrago, O Pagamento, etc. Aliás, eu cheguei a publicar um artigo sobre o assunto há cerca de quatro anos.). Assim, depois de assistir ao trailer de Os Esquecidos, confesso que fiquei satisfeito: apesar de ficar interessado no projeto, eu era incapaz de antecipar as surpresas que o longa reservava para os espectadores. Infelizmente, agora que vi o filme já sei por que o trailer não entregava a trama: se o fizesse, ninguém iria querer pagar o ingresso para assisti-lo.
Escrito pelo fraco Gerald Di Pego (Olhar de Anjo, Instinto), Os Esquecidos enfoca o sofrimento de Telly Paretta (Moore), cujo único filho morreu em um acidente de avião ocorrido há pouco mais de um ano. Cada vez mais distante do marido e sem obter o resultado esperado com a terapia à qual vem se submetendo, Telly se revolta, certo dia, ao constatar que, aparentemente, todas as fotos e vídeos que traziam seu filho desapareceram. Porém, ao confrontar o marido (Edwards) e o psicólogo (Sinise), ela é surpreendida pela informação de que o garoto nunca existiu, que ela o criara em sua mente e que somente agora estava voltando à realidade. Incrédula, a moça parte em busca de provas da existência do filho e acaba se aproximando de Ash Correll (West), cuja filha também teria morrido no desastre de avião.
A primeira meia hora de projeção, durante a qual esta fascinante premissa é desenvolvida, representa o ponto alto de Os Esquecidos: além da ótima atuação de Julianne Moore (como de hábito), que ilustra com sensibilidade o drama de sua personagem, o filme se beneficia da boa química entre a atriz e Dominic West, que também protagoniza um ótimo momento ao `lembrar` da existência da própria filha (ao mesmo tempo em que se alegra por resgatar as memórias felizes, ele sofre por reviver a perda da garota).
Enquanto isso, o diretor Joseph Ruben, dono de uma carreira no mínimo irregular, se sai admiravelmente bem ao desenvolver uma forte atmosfera de inquietação em torno de Telly, além de criar um clima de conspiração mais do que adequado à proposta do filme (o que inclui, como não poderia deixar de ser, o uso abundante de câmera subjetiva, como se a heroína estivesse sendo observada o tempo todo por alguém fora do campo). E é impossível negar que o cineasta desperta nossa curiosidade com relação ao que está ocorrendo com a moça: quando ela diz que a xícara de café que acabara de colocar sobre a mesa desapareceu, ficamos ansiosos para lembrar se a xícara realmente estava ali antes ou não. E o que dizer da estupenda batida de carro criada por Ruben, que chega a rivalizar com aquelas vistas em Adaptação e Paparazzi?
À medida em que o mistério ia se desenvolvendo, minhas expectativas tornavam-se cada vez maiores: como o roteiro iria resolver aquele enigma? Como poderia amarrar os acontecimentos de forma inteligente e coerente? Porém, a cada nova revelação, eu passava a desejar saber menos, e não mais, já que a história ia se enfraquecendo visivelmente. E a partir do instante (não, não vou revelar nada de importante) em que o FBI entra na história, Os Esquecidos simplesmente desmorona. Finalmente, quando Telly apresenta sua teoria sobre o que de fato está ocorrendo, confesso que senti vontade de rir, achando que o roteiro estava tentando fazer uma piada antes de realmente explicar o mistério. Não tive esta sorte.
Assim, o que tinha tudo para se transformar em um thriller psicológico de primeira acabou assumindo a forma de um filme B pouco inspirado. E o que é mais lamentável: depois que a projeção chega ao fim, boa parte das perguntas apresentadas pelo longa continua sem resposta, incluindo a mais importante: `Por que, afinal de contas, Telly tem lembranças diferentes dos acontecimentos?`. Para piorar, o desfecho sentimentalóide de Os Esquecidos completa o colapso da empreitada, que já havia se tornado risível graças à maneira ridícula com que a protagonista vai se lembrando de detalhes da partida do filho (lembra-se do aparelho utilizado por Deckard em Blade Runner para procurar detalhes em fotografias? Pois, neste filme, Julianne Moore faz o mesmo, mas com suas lembranças, buscando detalhes na fuselagem de um avião, por exemplo.)
É difícil imaginar o que teria levado um produtor relativamente experiente como Bruce Cohen (Peixe Grande, Beleza Americana) a aceitar realizar este projeto. Particularmente, se estivesse na sala de reuniões no momento em que Gerald Di Pego descreveu a história, eu iria dar uma sonora gargalhada, me recompor e, em seguida, oferecer alguns trocados pelos direitos sobre o roteiro.
E, no dia seguinte, contrataria alguém para desenvolver um tratamento completamente diferente a partir do fim do primeiro ato da trama, que certamente merecia ter dado origem a um filme melhor.
27 de Outubro de 2004
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