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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
19/06/2003 01/01/1970 1 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
89 minuto(s)

Canguru Jack
Kangaroo Jack

Dirigido por David McNally. Com: Jerry O’Connell, Anthony Anderson, Estella Warren, Dyan Cannon, Michael Shannon, Bill Hunter, Marton Csokas e Christopher Walken.

Steve Bing é um herdeiro americano bilionário cujo passatempo favorito é namorar mulheres famosas – algo que já lhe rendeu alguns problemas, como na ocasião em que Elizabeth Hurley ameaçou processá-lo depois que o playboy se recusou a assumir a paternidade de seu filho com a atriz. E antes que você comece a indagar os motivos que me levam a iniciar esta análise com informações típicas de revistas de fofocas, eu explico: em suas horas vagas (leia-se: quando não está dormindo), Bing procura extravasar seu `potencial artístico` em produções de Hollywood, como no desastroso Sedução Perigosa, que escreveu, produziu e dirigiu em 1993. E é então que finalmente chegamos a Canguru Jack, cujo roteiro traz justamente a assinatura inconfundível do sujeito. Agora imagine um filme roteirizado por Chiquinho Scarpa e terá uma leve idéia do que estou falando.

Infelizmente, a coisa não pára por aí, já que o projeto foi produzido por Jerry Bruckheimer – que costuma equilibrar cada um de seus acertos (como os ótimos A Rocha e Maré Vermelha) com inúmeros outros tropeços (Con Air, Em Má Companhia, 60 Segundos, Pearl Harbor, entre outros). Mas tem mais: para dirigir o longa, o produtor escalou ninguém menos do que David McNally, com quem já havia trabalhado no lamentável Show Bar. E se você já ficou com medo dos resultados que uma equipe como esta pode produzir, prepare-se para o pior, já que ainda nem descrevi a história do filme: dois rapazes, Charlie (O’Connell) e Louis (Anderson), são obrigados por um perigoso mafioso (Walken) a transportar 50 mil dólares para a Austrália. Lá chegando, eles atropelam um canguru e, julgando-o morto, resolvem vesti-lo com uma jaqueta para que possam tirar algumas fotos do animal (hein?). É então que o bicho desperta e foge – levando, no bolso do casaco, o dinheiro do bandido. A partir daí, passamos a acompanhar os dois protagonistas enquanto estes perseguem o canguru, que recebe o apelido de `Jack Pernas`.

Co-escrito por Scott Rosenberg (autor de Con Air e 60 Segundos), o roteiro de Canguru Jack se limita a trazer seus patéticos heróis em situações pouco imaginativas (e nada engraçadas) enquanto estes tentam capturar sua presa, como no momento em que montam em camelos com `problemas de gases` e na cena em que são atacados por cães selvagens (o que dá origem a uma piada de péssimo gosto envolvendo o notório caso do bebê que foi morto por um destes animais e cuja história se transformou no triste Um Grito no Escuro). Além disso, a estrutura da narrativa parece ter sido concebida por amadores, utilizando de forma nada sutil as lições pregadas pelo (simplista) teórico Syd Field, como no instante em que um personagem explica o funcionamento de um dardo tranqüilizante somente para, cinco minutos depois, repetir as explicações quando atinge alguém por acidente.

Aliás, os diálogos de Canguru Jack não poderiam ser piores. Como exemplo, cito a conversa entre Charlie e Louis no momento em que perdem o dinheiro: `Eu pus o dinheiro na jaqueta. E a jaqueta, no canguru. E o canguru foi embora`, diz Louis, chegando ao ponto de imitar, com as mãos, os saltos do animal. A resposta de Charlie: `O canguru está com o dinheiro? O canguru está com os 50 mil dólares de Salvatore Maggio?`. Esta repetição poderia até ser justificável caso o público-alvo da produção fosse formado por crianças (como em Leitão – O Filme), mas duvido que seja este o caso, já que a história envolve assassinos profissionais, ameaças de morte e até mesmo a cena em que um dos protagonistas apalpa os seios de uma bela garota (o que impediu o filme de receber a classificação `livre` nos Estados Unidos).

Mas ainda não citei o problema mais óbvio: cangurus animados em computadores não combinam muito com tramas sobre mafiosos violentos (como este projeto se encarrega de provar). E o que é pior: apesar de funcionar bem nas tomadas em que aparece sozinho, Jack Pernas não possui o mesmo grau de realismo ao interagir com atores de carne-e-osso, ao contrário do que acontecia em O Pequeno Stuart Little, Harry Potter e a Câmara Secreta ou As Duas Torres. Isso sem mencionar que o canguru não possui traço algum de personalidade, o que compromete seu apelo junto ao espectador (por outro lado, o tema musical criado por Trevor Rabin para o personagem é engraçadinho).

Sem poder contar com a ajuda do roteiro, o simpático Jerry O’Connell (que estreou no cinema interpretando o gordinho Vern de Conta Comigo) se esforça ao máximo para transformar Charlie em uma figura interessante, mas pouco pode fazer. Já Anthony Anderson repete exatamente o mesmo tipo que utilizou em filmes como Eu, Eu Mesmo & Irene e Vovó...Zona, tornando-se incrivelmente irritante com o passar do tempo. Fechando o elenco, vêm Estella Warren, bela (e inexpressiva) como sempre, e Christopher Walken, que mais uma vez desperdiça seu talento ao interpretar um de seus vilões habituais em uma produção indigna de sua presença.

Infelizmente, é bastante provável que o público infantil, empolgado com a forte participação do canguru nos trailers do filme, acabe enchendo as salas de exibição (e, posteriormente, as contas bancárias das locadoras). Assim, aproveito para avisar: a campanha de divulgação de Canguru Jack é incrivelmente desonesta, já que o personagem-título aparece pouquíssimo ao longo da projeção: se somarmos todas as suas cenas, é possível que o resultado não passe de 15 minutos. E se estes 15 minutos já são ruins, imaginem os 75 minutos restantes...
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18 de Junho de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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