Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
07/05/2003 | 06/12/2002 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
90 minuto(s) |
Dirigido por Franc Reyes. Com: John Leguizamo, Peter Sarsgaard, Denise Richards, Vincent Laresca, Delilah Cotto, Nestor Serrano, Fat Joe, Isabella Rossellini e Sônia Braga.
Império é o tipo de filme capaz de frustrar qualquer amante do Cinema: depois de capturar a imaginação do espectador com um início envolvente e promissor, a história se perde de forma irremediável, desperdiçando o imenso potencial de seus dois primeiros atos. Caso tivesse continuado a investir em sua exposição sobre o submundo das drogas, esta produção poderia ter se tornado realmente marcante, mas, infelizmente, acabou optando por apostar suas fichas em uma reviravolta inconseqüente e – o que é pior – em uma `lição de moral` não apenas equivocada, mas potencialmente perigosa.
Narrado pelo traficante Victor Rosa, interpretado por John Leguizamo, Império começa de forma provocadora, com seu protagonista desafiando a platéia: `Sou jovem, latino e bonito. Vou te dizer tudo o que penso, mesmo que você não queira`. Confiante e ambicioso, ele explica de maneira rápida o funcionamento da distribuição de drogas em sua região, que é dividida em quatro áreas (cada uma destas sendo comandada por um traficante diferente). Prestes a se tornar pai, Victor conhece Jack (Peter Sarsgaard), um corretor de Wall Street que lhe apresenta a um mundo novo e repleto de oportunidades: através de alguns (altos) investimentos, o sujeito descobre que pode aumentar seu já considerável patrimônio ao mesmo tempo em que `lava` seu dinheiro sujo.
Dirigido e roteirizado pelo estreante Franc Reyes, Império não esconde a influência exercida por Os Bons Companheiros: além da temática semelhante (as dificuldades enfrentadas por um gânsgter jovem em um universo de violência), o filme conta com uma edição ágil e câmeras sempre em movimento – o que, de certa forma, denuncia o passado de Reyes, um ex-diretor de videoclipes. A velocidade da narrativa, aliás, encontra eco na própria personalidade de seu protagonista: sempre atento ao que acontece, Victor é obrigado a proteger seu território contra a invasão de seus concorrentes: `Cada seis metros da vizinhança representam 30 mil dólares por semana`, ele revela. Bem-sucedido em sua área de atuação, o traficante já possui uma fortuna de 4 milhões de dólares – o que, obviamente, desperta a desconfiança da Justiça. Experiente, no entanto, o sujeito explica para o espectador como agir no caso de ser preso e interrogado: ``Mantenha a boca fechada. Desligue sua mente. Não escute. Tudo o que eles dizem é mentira: eles dirão que têm testemunhas, que seus capangas te entregaram... tudo mentira. Se eles tivessem testemunhas, não se incomodariam em interrogá-lo`.
Infelizmente, Império não consegue fazer jus às expectativas que cria: depois de um tiroteio envolvendo a gangue de um rival (o carismático Tito, interpretado de forma convincente pelo rapper Fat Joe), Victor decide abandonar o crime – e, a partir daí, a narrativa perde o ritmo e o foco. A princípio, a entrada em cena do corretor Jack parece promissora, já que coloca o traficante, que até então mostrara-se bastante seguro de si, em um ambiente desconhecido e possivelmente ameaçador. Porém, o roteiro permite que o espectador perceba com facilidade o que está por vir, deixando-nos à frente dos acontecimentos por mais de 30 minutos (o que, sem dúvida, torna a experiência um pouco cansativa). Por sorte, as boas atuações de Leguizamo, Sarsgaard e Sônia Braga (que vive a sogra de Victor) conferem dinâmica à narrativa, mas não o suficiente (fechando o elenco, vem Isabella Rossellini, que, apesar dos esforços de sua figurinista, não convence como a perigosa `La Colombiana`).
Mas o pior erro de Império é transformar o traficante Victor em herói, tentando obrigar a platéia a torcer pelo sujeito. Ora, é natural que o personagem procure justificar os próprios atos; menos compreensível, no entanto, é que o filme tente vender a idéia de que ele merece um `final feliz` (é claro que não pretendo revelar se ele consegue isso ou não). Insistindo em uma retórica corrompida, o roteiro busca justificar as ações de Victor ao compará-lo a Jack, como se dissesse: `Quem é pior? O traficante ou o hipócrita de terno e gravata?`. O tortuoso raciocínio de Franc Reyes é simplista: ao menos, Victor assume o que é. A verdade, contudo, é que isso não o redime: ambos são indivíduos viciados pelo dinheiro e pelo poder – e ambos são responsáveis pela destruição de muitas vidas.
Não quero dizer, com isso, que um filme protagonizado por um personagem `maldito` não possa funcionar: além de Os Bons Companheiros, há vários outros exemplos bem-sucedidos de produções estreladas por canalhas, como Cães de Aluguel, Assassinos por Natureza e Psicopata Americano. A diferença, aqui, é que o espectador não tem sequer a oportunidade de `julgar` as motivações, os méritos e os defeitos de Victor - o roteiro já fez esse trabalho por nós.
7 de Maio de 2003