Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
09/05/2003 | 01/01/1970 | 2 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
104 minuto(s) |
Dirigido por Tom Brady. Com: Rob Schneider, Rachel McAdams, Anna Faris, Matthew Lawrence, Robert Davi, Eric Christian Olsen, Michael O’Keefe, Jodi Long e Adam Sandler.
Quando Garota Veneno atingiu a marca dos 5 minutos de projeção, nada menos do que quatro personagens já haviam caído ou sido derrubados por seus colegas de cena. Não que isto seja uma surpresa: nos dois filmes que roteirizou anteriormente, o comediante Rob Schneider (mais uma `cria` do programa Saturday Night Live) utilizou estas `sofisticadas` gags como uma espécie de refrão, repetindo-as a cada 10 minutos. Aliás, só fiquei espantado quando, em certo momento deste seu mais recente trabalho, o personagem vivido por ele começou a rolar por uma longa escadaria, parando no meio do caminho. Será que ele havia `amadurecido` de alguma forma? A resposta veio em seguida: ao levantar-se, o sujeito escorrega e despenca pelos degraus restantes.
Co-escrito por Tom Brady (que também havia colaborado com Schneider em Animal e que, como recompensa por seus crimes, ganhou o direito de estrear como diretor nesta produção), Garota Veneno gira em torno de Jessica, uma estudante superficial e cruel que tem uma vida perfeita: bonita e popular, ela está prestes a vencer um campeonato de líderes de torcida. É então que, em função de um par de brincos mágicos, ela tem seu corpo trocado com o de um ladrão pé-rapado – e, enquanto tenta se esconder dos pais e do namorado, ela procura descobrir o que aconteceu ao lado de suas amigas de colégio.
Como já havia feito em Gigolô por Acidente e Animal, Rob Schneider desenvolve a história a partir de conceitos absurdos e fantasiosos – e que, em mãos hábeis, poderiam render resultados genuinamente engraçados. Infelizmente, depois de estabelecer a base da trama, o roteiro de Garota Veneno falha ao não explorar o potencial cômico de sua premissa, apelando para lugares-comuns e humor de banheiro. Além disso, o comediante-roteirista revive seus tempos no Saturday Night Live e cria várias subtramas (ou seriam esquetes?) que servem apenas para esticar a duração do filme, como a `piada` recorrente envolvendo a mãe asiática de uma garota afro-coreana e a crise no casamento dos pais de Jessica. O pior, no entanto, é que o filme não se preocupa sequer em resolver todas estas subtramas, deixando em aberto, por exemplo, os destinos do irmão de Jessica (que insiste em usar as roupas da moça) e da paranóica mãe de April.
Enquanto isso, Schneider, como a versão masculina de Jessica, prova que nem todo comediante sabe compor personagens: assim, ele se limita a agir com afetação, transformando Jessica no estereótipo do homossexual, e não em uma garota aprisionada no corpo de um homem (para ver um ator talentoso interpretando um papel semelhante, assista à seqüência do tribunal protagonizada por Steve Martin em Um Espírito Baixou em Mim). Exagerando ao máximo nas caretas com o objetivo de provocar risadas, Schneider se sai muito melhor nos momentos em que sua personagem se passa por Taquito, um jardineiro mexicano (felizmente, ele parece não perceber isso. Caso percebesse, provavelmente iria arruinar tudo ao tentar fazer Taquito ser mais engraçado). Aliás, o comediante prova, no mínimo, que possui maior talento para caracterizações do que Adam Sandler, seu amigo e produtor do filme (que se limita sempre ao mesmo tipo, como já comentei em outros artigos). Sandler, diga-se de passagem, faz uma pequena participação em Garota Veneno, conseguindo ser mais divertido do que em todas as suas outras produções (talvez ele só funcione em doses homeopáticas).
Fechando o elenco, vêm Rachel McAdams, que não tem muitas oportunidades de fazer graça, já que a versão feminina do ladrão praticamente não aparece ao longo da projeção; Anna Faris, que, apesar de linda, tem desperdiçado sua carreira em comédias pouco ambiciosas (como a série Todo Mundo em Pânico; e Michael O’Keefe, que, no papel do pai de Jessica, consegue protagonizar alguns bons momentos (geralmente ao contracenar com `Taquito`). Além destes, eu poderia mencionar também o veterano Robert Davi, mas confesso estar constrangido por vê-lo relegado ao papel de quase figurante (ele interpreta o pai de April, personagem de Faris).
O fato é que Garota Veneno poderia ter sido uma comédia realmente engraçada, já que Rob Schneider é infinitamente melhor em criar premissas interessantes do que em desenvolvê-las. Em um universo ideal, ele seria obrigado a repassar suas idéias para que pessoas mais talentosas pudessem utilizá-las. O que ocorre, infelizmente, é justamente o contrário, e Adam Sandler assume o projeto. Bem-vindos ao mundo real.
7 de Maio de 2003