Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
25/04/2003 | 10/04/2003 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
88 minuto(s) |
Dirigido por Peter Howitt. Com: Rowan Atkinson, John Malkovich, Natalie Imbruglia, Ben Miller e Radha Mitchell.
Antes de começar a falar sobre Johnny English, sinto-me na obrigação de fazer uma confissão: sempre considerei Mr. Bean, personagem mais famoso do britânico Rowan Atkinson, terrivelmente engraçado. Aliás, eu já havia manifestado minha simpatia pelo ator ao escrever sobre Tá Todo Mundo Louco!: com seu rosto expressivo e seu hábito de interpretar personagens torturados pela falta de traquejo social, Atkinson poderia perfeitamente ser considerado um discípulo de Peter Sellers, que imortalizou o tipo em Um Convidado Bem Trapalhão e na série A Pantera Cor-de-Rosa.
Assim, logo que o comediante surgiu em cena, na primeira tomada de Johnny English, comecei a sorrir: vê-lo bancar o agente mortal e sedutor em uma paródia da série 007 certamente prometia ser uma boa diversão. Infelizmente, eu estava errado. Co-escrito por Neal Purvis e Robert Wade (responsáveis por 007 – O Mundo Não É o Bastante e 007 – Um Novo Dia para Morrer), o roteiro de Johnny English compreensivelmente captura os principais elementos da franquia protagonizada por James Bond: o carro equipado com um verdadeiro arsenal; as armas escondidas em objetos como canetas e anéis; o vilão caricatural com planos de dominação; as belas mulheres que se apaixonam pelo herói; e, é claro, as seqüências de ação. No entanto, o filme peca em um elemento crucial: a maior parte de suas piadas é completamente previsível, permitindo que o espectador perceba as `mancadas` do protagonista antes mesmo que estas aconteçam – o que é fatal em uma comédia.
A culpa, porém, também reside no fraco trabalho do cineasta Peter Howitt (De Caso Com o Acaso, Ameaça Virtual), que revela o fim das gags ao mesmo tempo em que as desenvolve. É como se ele dissesse: `Conhece a piada do elefante que caiu na lama? Não? Então tá: quer ouvir uma piada suja e pesada?`. Tomemos, como exemplo, a cena em que English revista algumas cortinas vermelhas em uma festa: quando vemos uma garota com vestido avermelhado parada ao lado das cortinas, já sabemos que o sujeito irá apalpá-la por engano – e, quando isso acontece, a piada já perdeu o sentido. Por que, no entanto, o diretor não fechou o quadro no agente, evitando mostrar a moça com antecedência? Assim, o espectador só perceberia o engano no momento em que English também se desse conta de estar com as mãos no lugar errado, transformando a surpresa em piada. (Há inúmeros exemplos como este ao longo do filme.)
Além disso, o roteiro estabelece várias situações que jamais encontram o desfecho apropriado: quando o herói entra em um carro suspenso por um guincho, o espectador imagina que uma grande gag está por vir – algo que nunca acontece (outra prova de que Purvis e Wade são melhores em conceber seqüências de ação do que em transformá-las em piada).
Apesar de tudo, John Malkovich, que assume o papel de vilão, parece estar se divertindo a valer: usando uma longa peruca e falando com um forte sotaque, o ator tem algumas boas reações às trapalhadas de seu inimigo, mas, de modo geral, sua presença é desperdiçada pelo roteiro. Já Rowan Atkinson, que (como Mike Myers) não tem o menor temor em se expor ao ridículo, só consegue provocar o riso nos momentos em que se esquece de Johnny English e volta a agir como Mr. Bean, já que seu forte é mesmo o humor físico, e não os diálogos. (E, de modo geral, o agente está correto em praticamente todas as suas deduções, o que diminui seu apelo cômico.)
Contando com poucos momentos realmente divertidos, Johnny English acaba empalidecendo frente a outras produções que se dedicaram a satirizar o gênero `espionagem`: por mais que tente, English não é páreo para o Inspetor Closeau, Derek Flint ou Austin Powers.
Aliás, ele não é páreo sequer para o próprio Mr. Bean.
19 de Abril de 2003