Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
08/04/2005 | 15/10/2004 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
95 minuto(s) |
Dirigido por Omar Naim. Com: Robin Williams, Mira Sorvino, Jim Caviezel, Mimi Kuzyk, Stephanie Romanov, Thom Bishops, Genevieve Buechner, Brendan Fletcher.
Um dos aspectos essenciais da produção cinematográfica reside na montagem. Aliás, tornou-se lugar-comum dizer que um filme pode ser totalmente reescrito na sala de edição, o que é fato. Imagine, agora, se nossas vidas pudessem ser resumidas em uma coletânea de cenas, de momentos que nos marcaram ao longo dos anos e que ficaram registrados em dispositivos de gravação implantados em nossos cérebros – e que o `filme` resultante fosse uma forma comum de se homenagear os falecidos donos daquelas memórias. Pois é justamente a partir deste curioso conceito que Violação de Privacidade desenvolve sua história, que gira em torno de Alan Hakman, um profissional especializado em resumir as centenas de horas de lembranças de seus clientes em vídeos curtos que possam ser exibidos em seus funerais.
Vivido por Robin Williams como um homem introspectivo e com expressão sempre amargurada, Hakman é conhecido por sua predileção em trabalhar com recordações trágicas que pertenceram a indivíduos cruéis, violentos – e, provando o poder da edição citado no parágrafo acima, é capaz de virtualmente transformar existências reprováveis em vidas aparentemente admiráveis. Traumatizado por um incidente de sua infância (que é ilustrado na chocante seqüência pré-créditos), o sujeito recebe a tarefa de montar um vídeo a partir das lembranças de um dos executivos da empresa que criou a tecnologia de gravação de memórias – o que acaba envolvendo-o em uma perigosa conspiração.
Seguindo os passos de Asimov e suas leis da robótica, o diretor-roteirista jordaniano Omar Naim estabelece, logo no início de Violação de Privacidade, as regras básicas de seu universo e da tecnologia que surge como centro da narrativa: entre outras coisas, um cutter (termo aqui usado para descrever a profissão do personagem de Williams) não pode ter um implante em seu cérebro para registrar memórias, o que faz perfeito sentido, já que suas recordações certamente incluiriam todas as lembranças de seus inúmeros clientes. Além disso, é interessante notar como Naim explica por que os cutters são profissionais independentes, não possuindo ligação alguma com a empresa que criou a tecnologia com a qual trabalham: é uma simples questão de respeito à lei anti-truste.
Mas o melhor aspecto do filme reside na maneira inteligente com que discute as implicações sociais, políticas e morais da tal invenção para guardar memórias – e esta é a marca registrada de toda boa ficção científica: a exploração racional das conseqüências hipotéticas das `fantasias` apresentadas pela história. Philip K. Dick tornou-se um dos mais importantes autores do gênero não apenas por sua imaginação, mas por sua determinação em inserir suas narrativas em um contexto social adequado: sim, o conceito de um departamento de polícia capaz de prever crimes futuros é fascinante por si só, mas não há como negar que torna-se ainda melhor quando gera discussões sobre o impacto que tal tecnologia provocaria no mundo.
Assim, em Violação de Privacidade, Omar Naim questiona como a `gravação de memórias` iria interferir nas relações entre as pessoas: você se sentiria à vontade para expor seus pensamentos diante de alguém que pudesse estar gravando tudo o que é dito? E seria justo `recriar` a vida de um indivíduo que deixou um legado de tristeza e abusos? (Neste sentido, é genial constatar que o personagem de Williams se considera um `devorador de pecados`, num sentido quase literal da expressão.) Finalmente, Naim encontra tempo até mesmo para discutir a subjetividade de nossas recordações, que são facilmente alteradas por qualquer fator que altere nossa percepção sobre os fatos reais.
Sem se preocupar em criar um mundo futurista, o diretor economiza em cenários e efeitos visuais para se concentrar em sua história – uma decisão acertada que poderia se revelar ainda melhor caso o roteiro não apelasse para uma subtrama policial boba e dispensável. Por que não empregar este tempo, por exemplo, no desenvolvimento da interessante idéia sobre implantes defeituosos que, além de memórias, guardam também os sonhos e acontecimentos apenas imaginados por seus donos? Quando o longa chegou ao fim, não pude deixar de sentir uma frustração imensa por não ter tido chance de saber mais sobre a tecnologia apresentada pela história.
Por outro lado, não é um bom sinal quando um filme te deixa com o famoso gostinho do `quero mais`?
07 de Abril de 2005
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