Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
15/07/2005 | 29/12/2004 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
109 minuto(s) |
Dirigido por Paul Weitz. Com: Dennis Quaid, Topher Grace, Scarlett Johansson, Marg Helgenberger, David Paymer, Clark Gregg, Selma Blair, Frankie Faison,Ty Burrell, Kevin Chapman, Philip Baker Hall, Malcolm McDowell.
No excelente Um Grande Garoto, o cineasta Paul Weitz (ao lado de seu irmão Chris) contava, de forma sensível e divertida, o encontro entre dois indivíduos que se achavam em fases completamente distintas em suas vidas - o bon vivant Will (vivido por Hugh Grant) e o garotinho Marcus (interpretado por Nicholas Hoult) – e o amadurecimento experimentado por ambos em função desta reunião. Tematicamente, portanto, este novo trabalho de Weitz (agora sem o auxílio do irmão) não difere muito daquele filme, já que também enfoca o impacto resultante da relação de conflito-amizade entre dois homens de idades bastante diferentes.
Escrito pelo próprio cineasta, o roteiro nos apresenta primeiramente a Dan Foreman, um veterano executivo de marketing que trabalha há anos vendendo anúncios para uma grande revista dedicada a esportes. Pai e marido atencioso, ele vê sua segurança (financeira e psicológica) entrar em colapso depois que um grupo multimilionário compra a publicação e decide reestruturar sua equipe – o que pode significar sua demissão. De fato, os receios de Dan se tornam realidade quando um rapaz de 26 anos assume seu emprego – mas, em vez de demitir o antigo executivo, o jovem decide mantê-lo como seu `braço-direito`, obrigando-o a aceitar a nova realidade de que, a partir dali, será subordinado de um garoto moço o bastante para ser seu filho.
Seguindo a tendência cada vez mais óbvia do Cinema moderno em apresentar as grandes corporações como suas novas vilãs favoritas, Em Boa Companhia dedica parte de sua narrativa para ilustrar como as decisões corriqueiras das instituições capitalistas afetam de forma drástica as vidas dos homens comuns: quando a venda da revista é anunciada, seus funcionários imediatamente entram em pânico, já que sabem perfeitamente o que ocorre nestas situações – o novo dono sempre trará sua própria equipe que, por sua vez, substituirá os antigos empregados (por mais competentes que sejam) por outros de sua confiança, mesmo que estes tenham que aprender o serviço a partir da estaca zero. Impessoais por natureza, as corporações pensam apenas em termos de receita e despesa; o elemento humano é reduzido a um número que, geralmente anotado em vermelho, significa a ruína de uma família cujo(a) provedor(a) geralmente está ligado(a) à tal empresa há um longo tempo.
Vale dizer, aliás, que Malcolm McDowell encarna o dono da corporação com inteligência, assumindo a típica postura do empresário bem-sucedido que se mostra simpático com todos (a fim de inspirar fidelidade e adoração), mas que é capaz de demitir uma centena de pessoas sem pensar duas vezes. Enquanto isso, Dennis Quaid assume o papel que, há 50 anos, teria ido parar inevitavelmente nas mãos de James Stewart: o de homem comum e de bom coração que dedica sua existência à família e ao emprego, nesta ordem de importância. Simpático, Quaid é hábil ao exalar a confiança que um sujeito tão experiente em seu cargo certamente teria ao lidar com os clientes e também ao demonstrar seu amor pela esposa e pelas filhas – e é graças ao seu carisma que mergulhamos na história, já que a identificação com seu personagem é fundamental como ponto de referência para o espectador.
Enquanto isso, Topher Grace, mais conhecido pela série That 70’s Show, oferece indícios de que, em dez anos, poderá alcançar facilmente o posto de `novo Tom Hanks`, já que possui um ótimo timing cômico, é uma presença agradável na tela e – o mais importante – exibe talento nos momentos que exigem maior carga dramática: em certo momento, aliás, Grace consegue a proeza de nos fazer rir com o sofrimento de Carter (seu personagem), que é obrigado a demonstrar confiança ao se apresentar para seus novos subordinados apesar de estar emocionalmente arrasado. Outro que consegue extrair humor do drama, diga-se de passagem, é o experiente David Paymer, cuja pequena (mas importante) participação envolve alguns dos diálogos mais engraçados do filme, que envolvem sempre sua opressão pela esposa – o detalhe é que Paymer jamais parece estar sendo irônico sobre o que diz; é justamente a forma deprimida com que relata seu infortúnio que realça a graça da situação. Em contrapartida, Marg Helgenberger e Scarlett Johansson pouco têm a fazer, evidenciando a falta de interesse do roteiro pelas personagens femininas.
Pontuando a narrativa com uma trilha sonora impecável (outra característica dividida com Um Grande Garoto), Paul Weitz exibe, aqui, um notável crescimento como diretor, utilizando a câmera com inteligência para retratar determinadas nuances emocionais de seus protagonistas. Quando Dan e Carter se encontram pela primeira vez, por exemplo, o cineasta utiliza closes fechadíssimos não apenas para enfocar os olhares de desafio de ambos, mas também para ressaltar as linhas de expressão de Dennis Quaid, contrapondo-as à face juvenil de seu substituto. Outro momento inspirado é aquele em que Carter, depois de expor seus sentimentos para certa personagem, percebe que não é plenamente correspondido: a fim de salientar ainda mais a fragilidade do rapaz, Weitz afasta a câmera, diminuindo-o na tela. Por outro lado, o diretor força a barra ao conferir um tom excessivamente ameaçador a Malcolm McDowell, mergulhando-o em sombras que quase o transformam em um `vampiro` moderno, enquanto Dennis Quaid é banhado por cores quentes que o fazem parecer ainda mais simpático (aliás, observe também como a logomarca da empresa do milionário é estrategicamente colocada atrás do sujeito na cena em que este faz um discurso para seus funcionários: as extremidades da logo parecem surgir como asas de um demônio das costas de McDowell – o que, mais uma vez, soa exagerado).
Engraçado e humano, Em Boa Companhia perde-se apenas em seu terceiro ato, quando `trapaceia` e força uma conclusão inverossímil apenas para mandar o espectador para fora do cinema com um sentimento de satisfação artificial. Em apenas dez minutos, o filme abre mão de suas qualidades e entrega-se às convenções, o que, infelizmente, o enfraquece. Um pouquinho mais de cinismo teria feito bem ao projeto.
10 de Junho de 2005
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