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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
17/09/2004 27/08/2004 1 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
97 minuto(s)

Anaconda 2 - A Caçada pela Orquídea Sangrenta
Anacondas: The Hunt for the Blood Orchid

Dirigido por Dwight H. Little. Com: Johnny Messner, KaDee Strickland, Mathew Marsden, Nicholas Gonzalez, Eugene Byrd, Karl Yune, Salli Richardson, Morris Chestnut.

A Caçada pela Orquídea Sangrenta.

Basta ler o subtítulo de Anaconda 2 para perceber que há grandes chances de que o filme não seja uma obra-prima. É claro que, vez por outra, surge um A Maldição do Pérola Negra que nos pega de surpresa, mas, de modo geral, qualquer produção que julgue necessário explicar sua premissa no título não merece muita confiança. E, infelizmente, esta não é a exceção que exige a regra.

Escrito por nada menos do que quatro roteiristas (honestamente, não consigo entender como foram necessárias quatro pessoas para redigir uma história de 97 minutos de duração que basicamente envolve cobras gigantes perseguindo humanos), Anaconda 2 gira em torno de um grupo de cientistas que estão à procura da planta-título, que, por possuir propriedades capazes de retardar o envelhecimento celular, poderia ser utilizada para produzir medicamentos que aumentariam a expectativa de vida de quem os ingerisse regularmente. O problema é que (juro que não estou brincando!) a tal orquídea só floresce de sete em sete anos, permanecendo viva por apenas seis meses – e, assim, os cientistas partem em uma expedição desesperada para colher amostras enquanto isto é possível, já que a planta só tem mais duas semanas de vida. É claro que poderíamos perguntar por que, afinal de contas, eles não partiram mais cedo, logo no início dos seis meses que a orquídea dura, mas a resposta é óbvia: foi a única maneira que os quatro roteiristas encontraram para conferir urgência à missão dos personagens.

Assim, com menos de dez minutos de projeção, os protagonistas (ou eu deveria dizer `comida de cobra`?) já estão em um rio no meio da mata cerrada, o que é um ponto positivo: ao menos, o roteiro não gasta um tempo desnecessário com a apresentação de cada personagem, já que estes serão mesmo apenas caricaturas: há o herói de voz grave que não apenas conduz a embarcação, mas também entende de engenharia náutica, botânica, zoologia e tudo o mais; o casal que vive brigando, mas que na verdade se ama; o vilão ganancioso capaz de tudo para alcançar seus objetivos; a mocinha bonita que inevitavelmente se apaixonará pelo herói, e assim por diante. E, como sempre acontece neste tipo de produção, é fácil saber quem morrerá ou viverá: aqueles que amam dinheiro acima de tudo irão parar na barriga das anacondas, a não ser, é claro, que revejam seus caminhos.

Há, também, o macaquinho `divertido` que tem a função de conquistar a platéia e que, graças à direção de Dwight H. Little, torna-se destaque do longa – e isto não é um elogio: durante a projeção, o cineasta inclui dezenas de tomadas que mostram a reação do bichinho a tudo que acontece, o que é irritante e típico de um amador (o que Little, por incrível que pareça, não é). Aliás, posso dizer que Anaconda 2 ultrapassa o limite do aceitável quando, depois de ser atacado por uma cobra, o macaco volta para o barco e uma personagem comenta: `Parece que ele viu um fantasma!`, como se decifrasse a expressão no rosto do animal. Ainda assim, este não é o elemento mais chato do filme – posto que cabe ao também onipresente `coadjuvante cômico negro`. Tentando fazer graça com a covardia do personagem, seu jeito histérico e sua forma estereotipada de conversar (de brother irreverente das periferias), Eugene Byrd transforma-se em uma presença simplesmente insuportável – e confesso que torci desesperadamente (e em vão) para que ele se tornasse uma das primeiras vítimas das anacondas.

De todo modo, o filme tem seus bons momentos: a queda do barco em uma imensa cachoeira é bem-realizada e a cena em que um personagem canta o tema de Tubarão diverte por acontecer no momento mais apropriado para a citação. Da mesma forma, a explicação para a presença de inúmeras cobras na selva é tão absurda que torna-se engraçada (imagine uma orgia protagonizada por anacondas; o mesmo aplicando-se à justificativa para o tamanho descomunal das vilãs.

No entanto, nem estes poucos exemplos conseguem salvar Anaconda 2: afinal, não há como ignorar a péssima direção de Little, que pode ser resumida pelo zoom extremamente deselegante (e ultrapassado) no rosto do herói, no exato instante em que este encontra um corpo na mata. Além disso, os diálogos criados pelos quatro (sim, é difícil aceitar este número) roteiristas são lamentavelmente ruins. Logo no início do filme, por exemplo, um personagem diz que as pílulas produzidas com o `extrato de Orquídea Sangrenta` poderia ser o equivalente farmacêutico da Fonte da Juventude, ao que outra pessoa responde:

- Isto poderia ser maior do que o Viagra!

Apesar de medíocre, o primeiro Anaconda tinha a vantagem de trazer rostos conhecidos em seu elenco – e é sempre interessante ver astros do calibre de Jennifer Lopez, Owen Wilson (que ainda não eram tão conhecidos no Cinema), Jon Voight, Jonathan Hyde, Eric Stoltz, Danny Trejo e Ice Cube atuando em uma produção claramente trash.

Se vou perder uma hora e meia de minha vida vendo uma cobra comer pessoas, quero, no mínimo, que a refeição seja composta por caras conhecidas.
``

14 de Setembro de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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