Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
13/08/2004 | 16/04/2004 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
108 minuto(s) |
Dirigido por Michael Lembeck. Com: Nia Vardalos, Toni Collette, David Duchovny, Stephen Spinella, Ian Gomez, Dash Mihok, Robert John Burke, Nick Sandow, Boris McGiver, Debbie Reynolds.
Ainda que seja intitulado Connie e Carla – As Rainhas da Noite, este filme conta com apenas um personagem relativamente interessante e uma subtrama digna de nota: o personagem é Tibor (Boris McGiver), o capanga do vilão, que é enviado pelo chefe para procurar as protagonistas e, no processo, acaba se tornando fã dos shows de drag queens; e a subtrama (dramática) é aquela que envolve dois irmãos que, depois de anos, voltam a se encontrar e se esforçam para superar o fato de que um deles tornou-se transformista. Como podem ver, há dois grandes problemas nestas constatações: (1) Connie e Carla deveria ser uma comédia e (2) girar em torno das personagens-título.
Embalada pelo sucesso surpreendente do divertido Casamento Grego, a atriz e roteirista Nia Vardalos desperdiça o prestígio recém-conquistado ao criar uma história pouco inspirada sobre duas cantoras que, certo dia, testemunham um assassinato e são obrigadas a fugir da cidade. Cientes de que estão sendo perseguidas, resolvem se disfarçar como drag queens e acabam fazendo sucesso em Los Angeles depois de serem contratadas para substituir um trio de drags que se mudou para Las Vegas. É claro que poderíamos perguntar por que, afinal de contas, elas não procuraram a polícia em primeiro lugar, mas isto seria exigir demais do fraco roteiro de Vardalos: ela precisava de uma desculpa para colocar a trama em movimento e, aparentemente, só conseguiu imaginar este.
Eu disse `imaginar`? Bom, o termo certo seria `copiar`, já que ela claramente se inspirou na premissa de Quanto Mais Quente Melhor para conceber sua história, apropriando-se, também, de diversos elementos de Mudança de Hábito (quando vemos Connie e Carla pela primeira vez, elas estão cantando um medley, exatamente como a personagem de Whoopi Goldberg fazia naquele filme). Demonstrando falta de foco desde a primeira cena (por que mostrar as protagonistas na infância?), Vardalos mostra-se incapaz de desenvolver uma gag sequer: em certo momento, por exemplo, a dupla principal estoura um saco de cocaína no interior de um carro em movimento e, quando achamos que a grande piada está por vir, a cena termina sem dizer a que veio. Para piorar, a roteirista tenta adicionar ao filme mensagens de `auto-confiança` ao levar a personagem de Toni Collette a fazer um discurso vazio sobre a `necessidade de nos valorizarmos`.
Utilizando boa parte de seus 98 minutos de duração para mostrar os shows das protagonistas, Connie e Carla – As Rainhas da Noite ainda força a barra para incluir cenas em que Connie, vivida por Vardalos, conta piadinhas durante suas apresentações (algo nada surpreendente, já que a atriz/roteirista começou a carreira justamente fazendo stand-up comedy). Como se não bastasse, o inevitável `momento Tootsie` que ocorre nos minutos finais da projeção é maniqueísta e inverossímil, enfraquecendo o filme ainda mais. Na realidade, o longa possui uma única fala inteligente: ao conversar sobre o sujeito por quem se apaixonou – e que acredita que ela é um homem -, Connie lamenta: `Quando finalmente conheço o homem dos meus sonhos, ele é hetero!`.
Mas não é só isso: ao conceber o show das personagens-título, Vardalos demonstra total desconhecimento sobre o universo drag – algo que pode ser constatado através de uma rápida comparação deste filme com o excelente As Aventuras de Priscilla, Rainha do Deserto: quando se apresentam pela primeira vez, Connie e Carla são ovacionadas apenas porque cantam de verdade, em vez de dublarem suas canções. Com isso, Vardalos insinua que as drag queens dublam apenas por serem incapazes de cantarem, ignorando que a essência destes shows reside justamente no contraste entre as vozes originais e o visual extravagante dos artistas, além, é claro, das estranhas coreografias. Ora, no teste que as consagra, a dupla utiliza um figurino batido (algo que é observado por alguém da platéia) e permanece parada, sem sequer dançar. É difícil acreditar que algo assim faria sucesso como `show de drags` – e, de fato, mais tarde na história elas criam uma apresentação muito mais elaborada, com danças e figurinos coloridos (o que não explica o sucesso inicial, obviamente).
Apagadas diante do elenco secundário, Vardalos e Collette tornam-se coadjuvante em seu próprio filme, o que é uma proeza e tanto. Em contrapartida, David Duchovny cria um personagem carismático e se revela bastante convincente como um sujeito retraído que se esforça ao máximo para descontrair-se diante de todas aquelas figuras excêntricas – e seu relacionamento com o personagem de Stephen Dillane é mais interessante do que toda a `aventura` vivida pelas protagonistas. Da mesma forma, confesso que gostei da performance discreta de Ian Gomez (marido de Vardalos na vida real), que interpreta Stanley, dono da boate na qual Connie e Carla se apresentam – observem, por exemplo, a autenticidade com que ele retrata a timidez do sujeito ao anunciar as `estrelas` e também a sutileza com que `engasga` de emoção ao falar sobre a reinauguração do estabelecimento.
Trazendo Debbie Reynolds em uma ponta absurda, Connie e Carla ganha pontos por sua ótima trilha sonora, que inclui clássicos extraídos de produções como Rocky Horror Picture Show, Grease - Nos Tempos da Brilhantina e Hair. Pena que a boa qualidade das músicas não encontre reflexo no resultado final do projeto – e muitos espectadores talvez julguem melhor economizar o dinheiro do ingresso do cinema, utilizando-o para comprar o CD do filme.
13 de Agosto de 2004
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