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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
09/04/2004 19/03/2004 1 / 5 2 / 5
Distribuidora
Duração do filme
103 minuto(s)

Roubando Vidas
Taking Lives

Dirigido por D.J. Caruso. Com: Angelina Jolie, Ethan Hawke, Kiefer Sutherland, Tchéky Karyo, Olivier Martinez, Gena Rowlands, Jean-Hugues Anglade, Paul Dano.

Sempre que um espectador diz `Isso só poderia acontecer em um filme, mesmo!`, em reação a algo que viu na tela, duas diferentes interpretações podem ser feitas, uma positiva e outra negativa. A positiva: o incidente retratado é absurdo, mas divertido e eficaz do ponto de vista cinematográfico (exemplo: a perseguição subterrânea, nos trilhos da mina, em Indiana Jones e o Templo da Perdição – especialmente o instante em que o carrinho comandado por Indy sobrevoa um abismo e volta para os trilhos). Por outro lado, o comentário (neste caso, com conotação negativa) pode ter sido despertado por um daqueles momentos em que o roteiro força a barra para que a história siga o caminho desejado por seu autor. Infelizmente, Roubando Vidas abusa destes absurdos e coincidências a fim de prender a atenção da platéia, sem perceber que, no processo, está fazendo algo muito pior: insultando nossa inteligência.

Adaptado por Jon Bokenkamp a partir do livro de Michael Pye, Roubando Vidas tem um início promissor: durante a seqüência que precede os créditos, vemos um jovem dar início à sua carreira de serial killer de forma chocante e surpreendente. Pena que, logo em seguida, o filme dê adeus a qualquer traço de originalidade e comece a plagiar o excepcional Se7en já em seus créditos de abertura, praticamente idênticos, em tom e estilo, aos do longa de David Fincher. A partir daí, a trama dá um salto de 20 anos e passa a acompanhar as investigações lideradas pela agente do FBI Illeana Scott (Jolie), que recebe a tarefa de auxiliar dois detetives canadenses (Martinez e Anglade) em sua perseguição ao tal assassino, que agora se encontra bem mais experiente. Aos poucos, Illeana percebe que o criminoso assume as identidades de suas vítimas (daí o título) e, neste ínterim, se apaixona pelo marchand James Costa (Hawke), que testemunhou o ataque mais recente do bandido.

Utilizando a interessante premissa do livro de Pye como mera desculpa para copiar produções como O Silêncio dos Inocentes, Instinto Selvagem e tantos outros exemplares afins, Roubando Vidas utiliza praticamente todos os clichês consagrados pelo gênero: o herói (no caso, heroína) insiste em investigar sozinha locais afastados e sombrios; o assassino estabelece uma ligação com seu perseguidor (em certo momento, chega a dizer para Illeana: `Nós somos iguais!` – uma frase praticamente obrigatória no manual do serial killer hollywoodiano; e, é claro, o confronto final ocorre em um casarão situado no meio do nada. Além disso, o envolvimento entre Illeana e Costa soa exatamente como aquilo que é: um clichê. Em nenhum momento conseguimos entender por que uma mulher corajosa e inteligente (dentro da lógica do filme, pelo menos) como aquela se apaixonaria por um sujeito fraco e ansioso como aquele.

Esforçando-se ao máximo para transformar sua personagem em uma figura tridimensional, Angelina Jolie tenta abandonar a sensualidade habitual (como se seus lábios permitissem) e confere um ar aborrecido, quase melancólico, a Illeana. Ao mesmo tempo, o diretor D.J. Caruso (que estreou em longas com o mediano A Sombra de um Homem) procura ilustrar a competência da agente do FBI ao mostrar, através de constantes (e descartáveis) closes de seus olhos, sua capacidade de observação. Infelizmente, o filme acaba exagerando neste sentido, já que a insistência de Illeana em carregar as fotos dos crimes para todo lado se torna ridícula (ela almoça e até mesmo toma banho olhando para as imagens). Outro exagero reside no hábito da moça em deitar-se em determinados lugares a fim de tentar `identificar-se` com o assassino: é até compreensível que ela faça isto na antiga cama do criminoso, mas qual é o sentido em se deitar no local em que o corpo da vítima mais recente foi encontrado? Como se não bastasse, as teorias da agente com relação às motivações do serial killer são risíveis: logo no início da projeção, somos informados de que o tal assassino tinha um irmão gêmeo, o que leva a moça a concluir que ele `rouba as vidas` de suas vítimas por não ter sido (acreditem ou não!) o filho favorito de sua mãe! Contenha o riso se for capaz.

Contando com uma fotografia sombria e com a edição eficaz da excepcional Anne V. Coates, Roubando Vidas ainda comete o grave equívoco de julgar que a revelação da identidade do assassino será realmente capaz de surpreender o espectador – quando, na realidade, qualquer um que tenha assistido a meia dúzia de produções do gênero será capaz de reconhecer o criminoso em sua primeira cena. Mas o elemento mais comprometedor da produção é mesmo seu desfecho disparatado, inverossímil e ridículo – um dos piores concebidos por Hollywood nos últimos 10 anos. Agora, se depois de ver este final (caso cometa o erro de assistir ao filme) você não disser um revoltado `Isso só poderia acontecer em um filme, mesmo!`, é porque não entendeu o absurdo daquela situação.

Mas a culpa não será sua: aposto que os envolvidos nesta produção também não entenderam.
``

8 de Abril de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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