Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
13/02/2004 | 30/01/2004 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
109 minuto(s) |
Dirigido por Patty Jenkins. Com: Charlize Theron, Christina Ricci, Bruce Dern, Pruitt Taylor Vince, Scott Wilson e Annie Corley.
No Oscar 2003, muito se falou sobre o nariz protético de Nicole Kidman em As Horas, e, ao anunciá-la como a Melhor Atriz do ano, Denzel Washington chegou a comentar que ela vencera `por um nariz` – uma tremenda injustiça, já que Kidman ofereceu um desempenho memorável naquele filme. De todo modo, se apenas um nariz falso foi capaz de gerar tanto falatório, imagino como será este ano, considerando-se que a belíssima Charlize Theron está absolutamente irreconhecível em Monster, no qual interpreta a serial killer (que realmente existiu) Aileen Wuornos, que matou sete homens em 1989, sendo executada em 2002.
Quatorze quilos mais gorda e utilizando uma pesada maquiagem que a envelheceu mais de uma década, Theron, a princípio, parece uma espécie de `Gollum de saias`: sabemos que não estamos vendo algo real, mas não conseguimos deixar de acreditar em sua existência. E, assim como o ator Andy Serkis conferiu vida à criatura de O Senhor dos Anéis, Charlize Theron transforma Wuornos não apenas em uma figura verossímil, mas também em uma personagem trágica e comovente, levando o espectador não exatamente a perdoar, mas, no mínimo, a compreender as causas de suas cruéis atitudes.
Vítima de abusos durante a infância, Aileen Wuornos tornou-se prostituta ainda na adolescência e, quando Monster tem início, está prestes a acabar com a própria vida. É então que ela conhece Selby (Ricci), uma jovem lésbica com quem acaba se envolvendo. Certa noite, depois de ser agredida por um cliente, Wuornos acaba matando o sujeito – incidente que, funcionando como uma verdadeira válvula de escape, transforma-se em rotina para a atormentada mulher, como se esta decidisse desviar toda a raiva que sempre sentiu de si mesma em direção aos homens que cometem o erro de utilizá-la como simples objeto.
Procurando interpretar os próprios crimes como `atos de justiça`, Wuornos é incapaz de perceber a terrível natureza do que está fazendo – e, assim, quando é confrontada por Selby, afirma com segurança: `Eu sou uma boa pessoa!`. Aliás, a relação entre as duas mulheres é, sem dúvida alguma, o centro do filme, que, de certa forma, funciona como uma história de amor entre duas pessoas extremamente carentes, anti-sociais e com profundas cicatrizes emocionais. Não é errado dizer, diga-se de passagem, que a paixão de Wuornos por Selby é fruto não de um ou mais atrativos específicos desta última, mas sim da forma carinhosa com que a jovem lhe tratou – uma delicadeza que Aileen provavelmente jamais havia conhecido.
Entregando-se totalmente aos seus papéis, Charlize Theron e Christina Ricci protagonizam um relacionamento assustadoramente doentio, no qual Selby estimula Aileen a continuar na prostituição a fim de sustentá-la. Mimada e comodista, a garota chega ao ponto de fazer-se de cega para os crimes cometidos pela amante a fim de evitar um confronto que poderia destruir o `equilíbrio` do casamento. Em contrapartida, Aileen parece usar (até certo ponto) sua `causa` como mera desculpa para conseguir o dinheiro que garantirá a permanência de Selby ao seu lado.
Porém, ainda que a dinâmica entre as duas protagonistas seja bem desenvolvida pelo roteiro de Patty Jenkins (que também estréia na direção de longas-metragens), o fato é que Monster acaba atribuindo um peso excessivo a Selby ao estudar as razões que transformaram Aileen Wuornos em uma serial killer. O filme ignora, por exemplo, elementos importantes da vida de Wuornos, como seu casamento (ela chegou a ser presa por espancar o marido, que jamais é mencionado pela história) e a pedofilia de seu pai. Como resultado, o projeto acaba romantizando os atos da assassina, pouco se importando com suas vítimas (apenas um dos homens mortos por ela é retratado de forma positiva).
Graças a esta omissão, Monster torna-se um projeto deficiente e pouco objetivo, falhando em analisar com maior cuidado as origens deste seu triste `monstro`. Mas uma coisa é inegável: Theron está magnífica e merece elogios. Só espero que, desta vez, ninguém cometa a injustiça de atribuir a força de sua performance à maquiagem, e não ao seu talento.
6 de Janeiro de 2004
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