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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
29/04/2005 11/03/2005 1 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
113 minuto(s)

Refém
Hostage

Dirigido por Florent Emilio Siri. Com: Bruce Willis, Kevin Pollak, Jimmy Bennett, Michelle Horn, Ben Foster, Jonathan Tucker, Marshall Allman, Serena Scott Thomas, Rumer Willis, Kim Coates.

Refém é o tipo de filme que deveria ter sido estrelado por Steven Seagal ou Dolph Lundgren e lançado diretamente em vídeo e DVD – ainda assim, somente se tivesse mais duas ou três seqüências de ação. No entanto, como Bruce Willis ainda consegue atrair boas bilheterias (embora esteja trabalhando com afinco para afastar seus fãs), o longa ganhou o direito de estrear nos cinemas de todo o mundo. O resultado: uma história pedestre que traz o astro em uma das performances mais embaraçosas de sua carreira.

E este é o maior pecado de Refém, pois, com o material certo em mãos, Willis é capaz de oferecer atuações memoráveis em gêneros tão diversos quanto Ação (a trilogia Duro de Matar), Comédia (A Morte Lhe Cai Bem), Drama (O Indomável – Assim É Minha Vida), Suspense (O Sexto Sentido, Corpo Fechado) ou mesmo uma mistura de todos estes (Pulp Fiction). Aqui, porém, ele se restringe ao sofrimento exagerado, com direito a choros constantes e terrivelmente artificiais – um festival de cenas constrangedoras que atinge o clímax quando o personagem do ator, ao tentar encorajar um garotinho pelo celular (uma cópia barata de Duro de Matar), é obrigado a dizer, como se estivesse representando Shakespeare, a inacreditável frase: `Sim, Tommy, o Capitão Woobah vai salvar o planeta Xenon`. (Não estou mentindo, juro!)

Por incrível que pareça, Refém já começa a apresentar problemas graves com apenas dez segundos de projeção, quando introduz os nomes do elenco e da equipe em créditos que cruzam a tela em um cenário tridimensional – algo muito mais apropriado a uma produção como Homem-Aranha 2 ou mesmo Sin City do que a um filme que pretende contar uma história realista de forma dramática. A partir daí, temos a inevitável cena da Origem do Trauma, na qual vemos o mocinho enfrentar uma situação que passará a assombrá-lo pelo restante da narrativa – uma seqüência que, tensa e bem realizada, é infinitamente superior aos 100 minutos que a seguem e que, portanto, acabam soando como um longo anti-clímax. Além disso, o visual diferente e interessante de Bruce Willis nesta introdução, quando surge cabeludo e barbudo, obviamente logo desaparece, já que Hollywood há muito tempo não permite que seus heróis tenham uma aparência que não seja totalmente estéril (ah, os bons tempos de Serpico...), reservando os cabelos compridos para os vilões, como o aqui vivido por Ben Foster (uma espécie de sósia de Brad Dourif).

Escrito por Doug Richardson a partir do livro de Robert Crais, Refém ainda comete o equívoco básico de incluir muito mais personagens e subtramas do que o necessário para contar sua historinha: além do trauma do protagonista, temos os negócios escusos do contador interpretado por Kevin Pollak; a presença de mafiosos que permanecem sempre na sombra; três jovens bandidos que invadem uma casa (um deles é psicopata. Por quê? Porque sim.; o interesse sexual/afetivo entre o psicopata e a filha de Pollak; os desentendimentos entre o policial de Bruce Willis e sua filha (encarnada por Rumer Willis, filha do ator na vida real; e, é claro, a crise conjugal enfrentada pelo herói. Conseqüentemente, a maior parte das situações acaba sendo mal desenvolvida pelo roteiro, cuja atenção é dividida entre tantos elementos dispensáveis: o tal `trauma`, por exemplo, não desempenha papel algum no filme e a obsessão do vilão pela adolescente soa arbitrária, artificial (e chega a ser hilário quando, em certo instante, ele praticamente se transforma em um Alien, perseguindo suas vítimas em tubos de ventilação).

E se o diretor Florent Emilio Siri parece não perceber os tropeços narrativos do projeto é porque está excessivamente ocupado em criar um `estilo` próprio, abusando de câmeras lentas, de planos em contraluz e da violência, que aqui não poupa crianças ou animais, como na maioria das produções de Hollywood (neste aspecto, saúdo o cineasta). Demonstrando falta de pulso (ou discernimento) ao orientar seus colaboradores, Siri permite, além disso, que o compositor Alexandre Desplat chegue a ponto de acrescentar um teminha `engraçadinho` para acompanhar as aventuras do garotinho Tommy através das passagens secretas de sua mansão, fugindo completamente do clima proposto pelo filme. E o que diachos passou pela cabeça do diretor ao conceber aquele plano no qual uma garota surge como a Virgem Maria em meio às chamas? Será que Siri pensou que ao incluir uma alegoria religiosa aleatória no projeto estaria enriquecendo-o?

Se você quer assistir a um filme realmente dramático e inteligente sobre jovens que seqüestram uma família e dão início a um tenso jogo de negociações, dê um pulo na locadora e peça o brasileiro Como Nascem os Anjos, dirigido por Murilo Salles em 1996. Seu tempo e seu dinheiro serão mais bem aproveitados desta forma, acredite.
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28 de Abril de 2005

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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