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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
13/02/2004 24/09/2003 4 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
108 minuto(s)

Escola de Rock
School of Rock

Dirigido por Richard Linklater. Com: Jack Black, Joan Cusack, Mike White, Sarah Silverman, Joey Gaydos Jr., Miranda Cosgrove, Kevin Clark, Robert Tsai, Maryam Hassan, Rebecca Brown e Frank Whaley.

Escola de Rock já havia acabado há mais de meia hora quando percebi que continuava a sorrir. Este é, obviamente, um sinal inequívoco de que o filme funcionara maravilhosamente bem – e como poderia não funcionar? Escrita por Mike White, a história gira em torno de Dewey Finn, um sujeito que, alucinado por música (especialmente rock’n’roll), leva seus companheiros de banda à loucura graças à sua insistência em executar solos de guitarra que duram 20 minutos e ao seu impulso de se atirar sobre a platéia (que invariavelmente o ignora, deixando-o cair no chão). Depois de ser expulso da banda, Dewey aceita trabalhar em uma renomada escola de primeiro grau e, ao descobrir que seus alunos têm aulas de música, decide formar um novo grupo a fim de disputar um concurso que acontecerá em um mês – sem, é claro, permitir que a direção do colégio ou os pais das crianças descubram o que está acontecendo.

Como você pode perceber, o filme é protagonizado por um personagem absurdo que vive situações ainda mais absurdas (como manter uma banda de rock em segredo?), mas, como o roteiro demonstra compreender Dewey e respeitar sua lógica (jamais obrigando-o a mudar em função das convenções de Hollywood), Escola de Rock leva o espectador a acreditar no que vê – algo fundamental em uma comédia de situações. Para Dewey, a música é tudo o que interessa na vida, e, enquanto algumas pessoas são viciadas em jogo ou bebida, o rapaz é incapaz de passar um dia sequer sem tocar sua guitarra. Aliás, seu vício é tão intenso que o sujeito torna-se totalmente inconseqüente, não possuindo o menor sinal de bom senso – e quando um aluno pergunta se ele não ensinará matemática para a turma, sua resposta resume suas prioridades: `Não, matemática não é importante`.

Curiosamente, embora esteja mais do que disposto a sacrificar a formação de seus pupilos (a bem da verdade, Dewey realmente acredita estar fazendo um favor a eles), o roqueiro não perde de vista o fato de que está lidando com crianças – e, assim, quando vê uma das crianças conversando com um grupo de músicos em um furgão tomado por fumaça de... cigarro (hum, hum), ele imediatamente recrimina o comportamento destes, exigindo que eles `ajam como adultos` (o que não deixa de ser engraçado, já que Dewey vive como adolescente). Não é à toa que o público jamais consegue deixar de gostar do guitarrista, já que seus erros são motivados por sua paixão pela Arte, e seus acertos, por seu bom caráter. Some-se a isto o fato de que Dewey é um sujeito extremamente ingênuo e terá um personagem adorável (somente alguém sem maldade alguma na mente poderia dizer uma frase como a que o rapaz diz ao conversar com os pais de seus alunos).

Vivido por Jack Black como um poço de energia, Dewey foi escrito especialmente para o ator, o que não é de se espantar: basta conferir os trabalhos de Black em filmes como Alta Fidelidade e Correndo Atrás do Diploma para constatar que a persona cinematográfica do sujeito é mais do que adequada para acomodar as características do personagem (o único outro intérprete que me vem à mente quando penso em Dewey é John Belushi, morto precocemente em 1982). Porém, Jack Black não é bem-sucedido apenas ao retratar o lado selvagem do roqueiro, que também conquista por sua natureza sonhadora – como na cena em que apresenta para os alunos uma de suas composições, com direito a explicações sobre as luzes e os efeitos visuais que deveriam ser utilizados durante a canção.

Outro aspecto interessante de Escola de Rock diz respeito ao seu diretor, Richard Linklater, que, conhecido por seus trabalhos independentes (como os excelentes Antes do Amanhecer e Waking Life), mergulha em um trabalho claramente voltado para um público mais amplo – na realidade, seu primeiro filme para `toda a família`. E a escolha se revela acertada, já que o cineasta estabelece uma boa dinâmica entre Black e o elenco infantil e jamais perde de vista o lado humano de seus personagens, afastando-os da caricatura. Aliás, o mesmo se aplica ao roteirista Mike White, cujos créditos incluem o sensível Por um Sentido na Vida (White também participa de Escola de Rock como ator, interpretando o melhor amigo de Dewey).

Em outras circunstâncias, talvez eu viesse a reclamar da conclusão da história, que é conveniente demais e depende de uma série de coincidências para funcionar. No entanto, como eu já disse, Escola de Rock me encantou de tal maneira que, desta vez, não fiquei incomodado. Ao contrário: correrei o risco de afirmar, inclusive, que o filme nos ensina uma bela lição sobre `a importância de se lutar por seus objetivos`.

Oh, céus... Parece que também fui convertido por Dewey...

Observação 1: Não deixe de conferir toda a música que acompanha os créditos finais e que traz mais uma ótima performance de Jack Black.

Observação 2: A tomada que apresenta os créditos iniciais é bastante parecida com aquela que abre Durval Discos, da brasileira Anna Muylaert. A diferença é que Muylaert foi mais corajosa e incluiu todos os créditos em seu plano de abertura, enquanto Linklater optou por apresentar apenas 3 ou 4 nomes.
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19 de Janeiro de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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