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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
09/05/2003 06/09/2002 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
108 minuto(s)

O Último Suspeito
City by the Sea

Dirigido por Michael Caton-Jones. Com: Robert De Niro, James Franco, Frances McDormand, Eliza Dushku, William Forsythe, Patti LuPone, Brian Tarantina e George Dzundza.

Depois de assistir ao trailer de O Último Suspeito, tive a impressão de que este seria mais um daqueles filmes em que o herói (`o melhor policial do departamento!`) enfrentaria vários obstáculos a fim de provar a inocência de alguma pessoa amada. E, de certo modo, é. Porém, este novo trabalho do cineasta Michael Caton-Jones ganha força ao também funcionar em uma esfera adicional: a do drama familiar. Mergulhados em situações extremas, os personagens não agem apenas como figuras unidimensionais, mas como adultos que nem sempre sabem o que fazer.

Levemente inspirado em fatos reais (tão `levemente` que isto sequer é mencionado nos créditos), O Último Suspeito gira em torno do introspectivo detetive Vincent LaMarca (De Niro), que, depois de passar por um conturbado divórcio, há 14 anos, não voltou a ver seu único filho, Joey (Franco). Já adulto, Joey tornou-se viciado em heroína, o que destruiu seu relacionamento com a mãe. Certa noite, ao procurar um traficante a fim de comprar a droga, o rapaz perde o controle da situação e acaba matando o sujeito – e o assassinato é investigado justamente por seu pai, que se surpreende ao descobrir quem é o autor do crime. Com isso, o passado de Vincent começa a ser resgatado pela imprensa sensacionalista, enquanto o detetive se vê no dilema de tentar conciliar sua responsabilidade profissional com seus deveres de pai.

Além de traçar um triste retrato sobre a desintegração de um indivíduo em função das drogas, O Último Suspeito procura analisar a importante – e nem sempre fácil – relação entre pais e filhos, e as profundas marcas que esta pode provocar: além do conflito entre Vincent e Joey, o detetive interpretado por Robert De Niro ainda lida com suas mágoas em relação ao próprio pai - e Joey, por sua vez, também tem um filho pequeno que pode sofrer as conseqüências de seu crime. Para LaMarca, a questão mais importante não diz respeito à autoria do crime que investiga, mas sim à sua própria responsabilidade pelos atos do filho (e, incidentalmente, ao embaraço gerado por seu fracasso, já que as pessoas passam a olhá-lo com reprovação).

Conferindo um tom pesado ao detetive, De Niro transforma o personagem em um indivíduo moralmente ambíguo: apesar de sua honestidade e de suas boas intenções, LaMarca é capaz de atos assustadoramente egoístas, como ao lidar com o neto de forma atroz (embora tente justificar sua decisão com argumentos que considera válidos). Além disso, o policial se envergonha de seu passado – e, quando pressionado por sua atual namorada (McDormand) para dividir suas inquietações, ele deixa suas lembranças jorrarem de forma quase incontrolável, como se a represa formada por suas cicatrizes emocionais houvesse se rompido. Assim como Long Beach (a `cidade à beira-mar` do título original), o detetive vive em um presente de decadência, contrastando, de forma brutal, com um passado em que tudo parecia mais colorido e promissor.

Criando cenas fortes através dos confrontos entre seus personagens (como no momento em que LaMarca e sua ex-esposa discutem os erros do casamento), o roteiro de Ken Hixon perde um pouco de seu foco durante o terceiro ato, quando parece se concentrar mais na trama policial e menos no aspecto dramático dos acontecimentos. Assim, somos obrigados a ver, por exemplo, De Niro `entregando seu distintivo` para o chefe, num dos clichês mais irritantes do gênero. Da mesma forma, a conclusão da história soa de maneira implausível, como se o roteirista procurasse, a todo custo, evitar que o espectador saísse do cinema deprimido.

Apesar de não ser uma obra-prima, O Último Suspeito possui, no mínimo, o mérito de trazer Robert De Niro em um papel digno de seu imenso talento (como prova seu comovente monólogo no ato final da narrativa). Aliás, já estava na hora do ator deixar de lado bobagens como Showtime e A Máfia Volta ao Divã e retornar às produções mais ambiciosas – e espero, sinceramente, que ele tenha retornado de vez.
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6 de Maio de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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