Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
04/04/2003 | 06/12/2002 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
96 minuto(s) |
Dirigido por Harold Ramis. Com: Robert De Niro, Billy Crystal, Anthony LaPaglia, Lisa Kudrow, Joe Viterelli e Cathy Moriarty.
Robert De Niro é um ator absolutamente sensacional – e qualquer pessoa que venha a questionar este fato certamente não assistiu a obras como O Poderoso Chefão Parte 2, Touro Indomável ou Tempo de Despertar, nas quais ele encarnou três personagens completamente diferentes entre si, mas igualmente verossímeis (e nem preciso citar outros de seus grandes trabalhos...). Dito isso, confesso estar cansado desta recente fase cômica vivida pelo ator. Depois de roubar a cena em Jackie Brown, onde interpretou o confuso Louis Gara, De Niro parece ter gostado de provocar o riso e, dois anos depois, voltou com a comédia Máfia no Divã, onde utilizou sua ameaçadora persona cinematográfica como ponto de partida para várias situações engraçadas. Em seguida, vieram o terrível As Aventuras de Alceu e Dentinho (no qual ele tentou ser engraçado, com resultados trágicos), o ótimo Entrando Numa Fria (onde ele novamente deixou seu ar hostil fazer o serviço) e o razoável Showtime. Agora, o ator repete o personagem de gângster em crise em A Máfia Volta ao Divã.
Aliás, `repete` é a palavra certa: sem se preocupar em criar uma nova história, os roteiristas Peter Tolan, Peter Steinfeld e Harold Ramis (que também dirige o filme) simplesmente reciclam a trama básica do original. Senão vejamos: mais uma vez, De Niro sofre uma crise nervosa (embora falsa) e se entrega aos cuidados do psiquiatra vivido por Billy Crystal - que novamente enfrenta uma crise de identidade provocada por seu relacionamento com o pai (que agora está morto). Além disso, as situações de humor também são criadas a partir da dinâmica estabelecida em Máfia no Divã: De Niro enfrenta seus inimigos enquanto Crystal se amedronta diante de tudo. E, como se não bastasse, o relacionamento entre o psiquiatra e sua esposa (Kudrow) é igualmente abalado pela presença do mafioso.
O pior é que os três roteiristas não conseguem sequer encontrar uma explicação plausível para que os dois protagonistas voltem a se encontrar: se, no primeiro filme, Paul Vitti procurava a ajuda do Dr. Ben Sobol para tratar da Síndrome do Pânico, desta vez ele recorre ao psiquiatra ao se julgar ameaçado na prisão – quando o mais apropriado seria, obviamente, solicitar o auxílio de seus capangas ou de sua `Família`. E o que é pior: ao convencer Sobol de que está `louco` (o que transforma o personagem de Crystal em um profissional incompetente, incapaz de identificar uma fraude), o mafioso é liberado da prisão sob a custódia do médico. Hein? Espero que Fernandinho Beira-Mar não descubra esta estratégia, que é muito mais prática do que pagar milhões para organizar uma fuga. (E, por favor, não justifiquem a libertação de Vitti como sendo uma `estratégia` do FBI para prender outros mafiosos – uma idéia ridícula e totalmente absurda. Teria sido muito melhor se os roteiristas tivessem simplesmente estabelecido que, em função de atenuantes ou de provas obtidas ilegalmente pela polícia, Paul Vitti deveria ser solto. Seria, no mínimo, menos ofensivo para a inteligência do espectador.)
Gastando um tempo precioso no desenvolvimento de uma subtrama sobre o conflito entre duas gangues e no planejamento de um roubo, A Máfia Volta ao Divã cria pouquíssimas situações com potencial cômico – e mesmo estas cenas acabam falhando, como na cena em que De Niro é apresentado a um ator (LaPaglia) que interpreta um mafioso em um programa de televisão. Aliás, os roteiristas evidenciam seu desespero ao jogar, no meio da projeção, uma cena absolutamente forçada em que Billy Crystal age de forma constrangedora ao misturar tranqüilizantes e bebida alcóolica. E o que dizer da (péssima) piada recorrente sobre o fato do psiquiatra estar de luto, o que representa `um processo lento`? Para piorar, o filme ainda procura preencher o tempo de projeção (95 minutos) com seqüências burocráticas de perseguição de carros e tiroteios, o que também é um mau sinal.
Vivendo um personagem mais sério do que o habitual (numa comédia, infelizmente), Billy Crystal praticamente serve de `escada` para De Niro, que protagoniza praticamente todos os principais momentos de A Máfia Volta ao Divã. Assim, Crystal não tem a oportunidade de provocar o riso como fez no filme original, quando teve que se passar por mafioso em uma reunião entre gangues. Por outro lado, De Niro, apesar de (como já dito) se transformar na estrela cômica da dupla, pouco consegue fazer, já que o roteiro jamais cria momentos realmente hilários (vê-lo cantar músicas do superestimado Amor, Sublime Amor é divertido, mas só). Para completar, Lisa Kudrow limita-se a repetir os maneirismos de Phoebe, sua personagem na série Friends, e Cathy Moriarty pouco faz em cena (ainda assim, é curioso vê-la novamente ao lado de De Niro, tanto tempo depois de Touro Indomável).
Contando com uma resolução forçada (que, apesar disso, funciona no absurdo contexto estabelecido pelo filme), A Máfia Volta ao Divã é um filme tão inseguro que, não satisfeito com o final feliz apresentado, ainda se sente na obrigação de fazer com que um dos protagonistas diga: `Este é um grande final feliz!`. E, numa desesperada tentativa final de provocar o riso, a produção ainda inclui, durante os créditos finais, alguns erros de gravação. Que também não são engraçados.
No dia em que aceitou dirigir esta continuação, Harold Ramis deve ter saído da cama com o pé esquerdo. E aqueles que decidiram assistir a este filme também.
8 de Abril de 2003