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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
31/01/2003 01/01/1970 4 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
115 minuto(s)

Direção

Gore Verbinski

Elenco

Naomi Watts , Martin Henderson , David Dorfman , Jane Alexander , Lindsay Frost , Daveigh Chase , Brian Cox

Roteiro

Ehren Kruger

Produção

Laurie MacDonald

Fotografia

Bojan Bazelli

Música

Hans Zimmer

Montagem

Craig Wood

Design de Produção

Tom Duffield

Figurino

Julie Weiss

Direção de Arte

Patrick M. Sullivan Jr.

O Chamado
The Ring

Dirigido por Gore Verbinski. Com: Naomi Watts, Martin Henderson, David Dorfman, Jane Alexander, Lindsay Frost, Daveigh Chase e Brian Cox.

Ao contrário dos brasileiros, cuja cultura cinematográfica está diretamente relacionada à leitura de legendas, os espectadores norte-americanos odeiam assistir a filmes produzidos em países de línguas diferentes da inglesa. Assim, é cada vez mais comum que boas obras realizadas em espanhol, francês ou japonês sejam refilmadas por Hollywood, com o objetivo de atrair o público ianque para as salas de cinema. Infelizmente, na maioria das vezes os resultados são decepcionantes, como nos relativamente recentes O Silêncio do Lago (1993), Diabolique (1996) e Vanilla Sky (2001).

Assim, foi com grande reserva que me preparei para assistir a O Chamado, nova versão do ótimo suspense japonês Ringu, dirigido em 1998 por Hideo Nakata (ainda inédito no Brasil). Afinal, apesar de não contar com grandes efeitos visuais ou maquiagens elaboradas, o original prendia o público na poltrona ao contar uma interessante história sobre uma misteriosa fita de vídeo que, ao ser assistida, lançava uma terrível maldição em seus espectadores, que morriam exatamente sete dias depois. É então que uma jornalista resolve investigar o caso e, sem acreditar muito na lenda, acaba assistindo ao vídeo – somente para descobrir, logo em seguida, que a tal praga é real. Desesperada, ela pede a ajuda do ex-marido para que, juntos, consigam descobrir uma forma de cancelar a maldição antes que esta provoque sua morte.

A boa notícia é que, apesar de não superar o original, O Chamado é um suspense bem realizado que, à sua própria maneira, funciona de maneira exemplar. Mantendo praticamente as mesmas reviravoltas de Ringu (as quais não pretendo revelar), esta nova versão opta por, basicamente, ampliar a escala da obra japonesa. Tomemos, como exemplo, a seqüência inicial do filme, que repete até mesmo os diálogos do trabalho de Nakata, mas que acaba extraindo alguns minutos a mais de suspense ao prolongar a ação: enquanto Ringu encerrava a seqüência com uma determinada personagem ainda na cozinha de sua casa, esta refilmagem faz com que a garota suba as escadas e vá até seu quarto, `ganhando`, com isso, mais um ou dois sustos.

Escrito por Ehren Kruger (que possui mais erros do que acertos em seu currículo), o roteiro de O Chamado perde um pouco do foco ao conferir excessiva importância ao garotinho Aidan (filho da protagonista), que se transforma em uma espécie de clone do personagem de Haley Joel Osment em O Sexto Sentido. Com isso, a trama envolvendo a fita amaldiçoada acaba cedendo espaço à percepção `extrasensorial` do menino, o que prejudica o filme. Da mesma forma, Kruger parece incapaz de compreender que um casal de adultos pode dividir a cena sem, necessariamente, ter que mergulhar em um clima romântico: no original, a jornalista Asakawa e seu ex-marido investigavam o mistério, mas mantinham-se distantes emocionalmente, o que, inclusive, acrescentava mais dimensão à história. Já na versão americana, Rachel (como a heroína foi rebatizada) logo demonstra que seu divórcio não é coisa do passado, o que é uma pena.

Em contrapartida, o roteirista acerta ao acrescentar novos `sinais` que indicam a iminente concretização da maldição, como o mosquito que cruza a tela dos monitores de vídeo e as hemorragias nasais. Além disso, Kruger procura até mesmo encontrar uma explicação para o fato das vítimas morrerem exatamente sete dias após assistirem ao vídeo, o que é interessante. Para finalizar, O Chamado inclui, ainda, uma nova seqüência realmente tensa envolvendo um cavalo em um ferryboat (assista ao filme e compreenderá o que estou dizendo).

Assumindo seu primeiro grande papel depois do surpreendente Cidade dos Sonhos, Naomi Watts demonstra firmeza como Rachel: forte e inteligente, a jornalista jamais se torna uma daquelas `mocinhas histéricas` do gênero suspense, já que, mesmo amedrontada, enfrenta as adversidades com determinação. Enquanto isso, Brian Cox assume um personagem intrigante que – diga-se de passagem – não aparecia no original. Por outro lado, Martin Henderson, como o ex-marido de Rachel, jamais causa forte impressão, o que é lamentável (principalmente se considerarmos o ótimo desempenho de Katsumi Muramatsu em Ringu).

Mas a grande surpresa de O Chamado é mesmo o cineasta Gore Verbinski que, depois de dirigir duas comédias leves (O Ratinho Encrenqueiro e A Mexicana), prova sua versatilidade ao transformar esta refilmagem em uma experiência tensa e envolvente. Respeitando a inteligência do espectador, o diretor não abusa dos sustos provocados por altos acordes da trilha sonora, optando, em vez disso, por manter um constante clima de suspense que deixa os nervos da platéia em frangalhos. A única ressalva que faço diz respeito às referências feitas aos trabalhos de Hitchcock, como Psicose (água escorrendo para o ralo da banheira e a cadeira giratória no apartamento de Noah) e Janela Indiscreta (o vizinho de perna quebrada): sem nada acrescentar à história (principalmente porque O Chamado é bem diferente das produções que Hitchcock costumava comandar), estas referências soam como brincadeiras inconseqüentes do cineasta, servindo apenas para distrair o espectador.

Contando ainda com revelações capazes de surpreender até mesmo quem assistiu à versão japonesa, O Chamado é uma surpresa gratificante em uma época em que as grandes produções do gênero são títulos como Jogo dos Espíritos e Alucinação. Desta vez, pelo menos, é a história que nos mete medo – e não a possibilidade de sermos obrigados a assistir continuações medíocres de filmes idem.

20 de Janeiro de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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