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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
13/06/2003 01/01/1970 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
92 minuto(s)

A Creche do Papai
Daddy Day Care

Dirigido por Steve Carr. Com: Eddie Murphy, Jeff Garlin, Steve Zahn, Regina King, Kevin Nealon, Lacey Chabert, Khamani Griffin e Anjelica Huston.

Ao contrário do que o cartaz e o trailer de A Creche do Papai podem nos levar a crer, esta produção não é um veículo para que Eddie Murphy possa explorar seu imenso talento como comediante. Na realidade, o ator é constantemente relegado ao segundo plano durante a história, servindo como mera `escada` para piadas protagonizadas por seus dois companheiros de cena, Jeff Garlin e Steve Zahn. No entanto, mesmo estes últimos não conseguem se destacar muito, já que o diretor Steve Carr aposta todas as suas fichas no elenco infantil, acreditando que enfocar crianças engraçadinhas é o bastante para prender a atenção do público. Infelizmente, não é.

Escrita pelo estreante Geoff Rodkey, a trama de A Creche do Papai gira em torno de Charlie (Murphy) e Phil (Garlin), dois publicitários que, certo dia, são demitidos da empresa em que trabalhavam. Sem possuir condições para manter o filho na luxuosa creche que este freqüentava, Charlie convence a esposa a matricular o garoto em outra instituição – e descobre, com surpresa, a falta de boas opções em sua cidade. Assim, ele decide abrir, ao lado de Phil, sua própria creche. Porém, a empreitada acaba se tornando muito mais difícil do que a dupla imaginava, já que as crianças se revelam verdadeiros monstrinhos, chegando ao ponto de literalmente desmontarem a casa do ex-publicitário. Para complicar ainda mais as coisas, Charlie deve enfrentar a ira da Sra. Harridan (Huston), diretora da antiga creche de seu filho, já que a inescrupulosa mulher não consegue aceitar o fato de que seus alunos a estejam trocando por outro estabelecimento.

É aí que surge minha primeira dúvida: por que vários pais tiram seus filhos da instituição comandada por Harridan (que, diga-se de passagem, é excepcional, já que ensina línguas estrangeiras e artes marciais para as crianças) e os colocam na `Creche do Papai`? Se eles haviam escolhido inicialmente aquela creche específica, é porque queriam oferecer aos seus filhos uma boa educação, creio eu – algo que a empresa de Charlie e Phil obviamente não oferece. `Se vocês querem destruir seus próprios filhos, este é um direito que vocês têm. Com relação aos filhos dos outros, o padrão de exigência deve ser maior`, diz a Sra. Harridan em certo momento – e, apesar de saber que suas motivações são puramente financeiras (e não morais), não posso deixar de concordar com ela. A título de comparação, veja a conversa que os diretores da Creche do Papai têm, em determinada cena: `Estamos cuidando de quantas crianças?`, pergunta Charlie, ouvindo a seguinte resposta de seu sócio: `Perdi a conta. Elas são rápidas demais`.

Mas creio que estou sendo excessivamente exigente – afinal, estou falando de uma comédia (mas, como pai, confesso que não pude deixar de pensar nisso). Analisemos, então, A Creche do Papai como produção descompromissada com a lógica (felizmente, podemos ter certeza de que as crianças estarão seguras, já que estão em um filme). A má notícia é que, mesmo neste nível, o projeto não funciona, já que falha em um pré-requisito básico do gênero: não é engraçado. Apostando apenas na premissa (Eddie Murphy cercado de crianças bagunceiras), o diretor Steve Carr não se preocupa em criar situações interessantes, limitando-se apenas a enfocar o despreparo de Charlie e Phil. E o que é pior: o cineasta não consegue sequer explorar o carisma do elenco infantil. É claro que não podemos conter uma risada ao ver uma garotinha protestar: `Precisamos de aprender mais coisas. Estamos em uma idade crítica, vocês têm que alimentar nossas mentes!` – porém, o riso em questão é uma reação natural a uma criança bonitinha dizendo um texto engraçadinho, e não uma resposta a algo realmente hilário. (Neste sentido, Um Tira no Jardim de Infância, que Arnold Schwarzenegger protagonizou em 1990, ainda funciona muito bem.)

Sem exibir a energia habitual, Eddie Murphy atravessa A Creche do Papai de forma burocrática, sem parecer muito interessado no que está fazendo. Enquanto isso, Jeff Garlin explora o próprio físico na tentativa de se tornar engraçado, como se devêssemos rir automaticamente de todo homem acima do peso que tropece em nossa frente (sua especialidade é justamente cair). Em contrapartida, Steve Zahn, que se une à equipe da creche depois da primeira hora de projeção, consegue arrancar algumas risadas com seu jeito tímido e distraído (fanático por Jornada nas Estrelas, seu personagem leu o livro do terapeuta infantil Dr. Spock por julgar que se tratava de algo relacionado à série estrelada pelo Capitão Kirk). Já a veterana Anjelica Huston se submete ao vexame de interpretar uma vilã ridícula e completamente dispensável, protagonizando algumas das piores cenas do filme.

Apelando ainda para o sentimentalismo barato e para lições-de-moral simplistas, A Creche do Papai é uma produção sem propósito e cuja premissa poderia ter sido utilizada na criação de uma série cômica de televisão – e talvez suas cenas funcionassem melhor caso fossem acompanhadas por uma trilha de risadas gravadas. Esta, aliás, seria a única forma de ouvirmos risos nos cinemas que exibirem este filme.
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19 de Junho de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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