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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
28/06/2002 18/01/2002 1 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
94 minuto(s)

Direção

Marcus Adams

Elenco

Lukas Haas , Joe Absolom , Lara Belmont , Alec Newman , Marsha Thomason , James Hillier , Tom Bell , Michael Feast

Roteiro

Andy Day

Produção

James Gay-Rees

Fotografia

Nic Morris

Música

Don Davis

Montagem

Lucia Zucchetti

Design de Produção

Alison Riva

Figurino

Pamela Blundell

Direção de Arte

Sam Stokes

O Jogo dos Espíritos
Long Time Dead

Dirigido por Marcus Adams. Com: Lukas Haas, Joe Absolom, Lara Belmont, Alec Newman, Marsha Thomason, James Hillier, Tom Bell e Michael Fiest.

A maior parte das produções que seguem o estilo `terror adolescente` gira em torno de vilões sobrenaturais que perseguem jovens vítimas. A diferença é que alguns filmes (como Pânico e A Hora do Espanto) procuram desenvolver um pouco melhor suas histórias, enquanto outros (como Jason X e Lenda Urbana) se contentam em saltar de uma cena de morte para outra. Mesmo nestes casos, o resultado pode ser positivo caso as tais `mortes` sejam coreografadas de forma engenhosa ou o assassino seja uma figura interessante (como em Premonição ou Halloween). Infelizmente, nem neste aspecto O Jogo dos Espíritos consegue se salvar.

`Escrito` e `dirigido` (sim, com aspas) por Marcus Adams, o filme conta a história de um grupo de adolescentes britânicos que se reúnem para fazer a famosa `brincadeira do copo`, e acabam atraindo um perigoso espírito. Violenta e com sede de vingança, a tal criatura se apropria do corpo de um dos integrantes da turma e passa perseguir os demais, deixando sempre terríveis queimaduras nos cadáveres.

O primeiro grande problema de O Jogo dos Espíritos reside, aliás, em suas vítimas: fúteis, irritantes e viciados em anfetaminas, os personagens do filme não provocam grande empatia – e, portanto, não contam com a torcida do espectador (é por esta razão que os bad boys sempre morrem primeiro, neste tipo de produção). Aliás, a falta de uma boa caracterização por parte dos atores também acarreta em outro contratempo: como jamais conseguimos decorar seus nomes (ou mesmo diferenciá-los uns dos outros), a revelação sobre quem foi possuído não causa o menor impacto. Para piorar, Adams consegue a proeza de eleger, como seu protagonista, o mais aborrecido membro do grupo, quando o correto seria justamente `matá-lo` logo no início.

Infelizmente, os tropeços do roteiro não param por aí: aparentemente ignorando o sucesso de Pânico, que ensinou o público a identificar e a rir dos clichês do gênero, O Jogo dos Espíritos segue à risca estas batidas convenções, obrigando seus personagens a seguirem comportamentos simplesmente inacreditáveis: em certo momento, por exemplo, uma garota volta ao local em que ocorreu a `sessão espírita` a fim de procurar sua bombinha contra asma. Depois de dispensar (sem qualquer motivo) a companhia do namorado, ela demonstra estar apavorada ao entrar na tal sala, mas, segundos depois (quando encontra a bombinha), ela senta-se calmamente para retocar a maquiagem, esquecendo seu recente ataque de pânico.

E mais: em outra cena, quando o grupo já está a par do perigo que enfrenta, dois rapazes saem para `trocar um fusível`, mas se separam. Segundos depois, um deles surge do nada e agarra o ombro do outro, sem se preocupar com o fato de assustar o amigo (ou, para todos os efeitos, sem recear ser atingido pelo taco de baseball que este carrega para se defender). O objetivo, obviamente, é dar um susto barato na platéia. E o que dizer da garota que mora em um barco que – ela logo faz questão de informar – `não possui luz elétrica`? Será que Adams não poderia estabelecer um cenário mais plausível? E nem vou me dar ao trabalho de analisar os diálogos do filme, que beiram o ridículo (quando o namorado a convida para comprar maconha, uma garota diz: `Minha amiga acabou de morrer. Eu estou em estado de choque!`. O curioso é que, pouco depois, outro personagem confirma o absurdo diagnóstico: `Você está em estado de choque, Lucy!`.

Por incrível que pareça, a incompetência de Marcus Adams como roteirista só é superada por sua péssima direção: para se ter uma idéia, ao longo de O Jogo dos Espíritos ele repete nada menos do que cinco vezes a velha tomada em que uma sombra passa em frente à câmera, sendo acompanhada por um alto efeito sonoro. Já para mostrar o ponto de vista do tal espírito, o `cineasta` recorre ao plágio e recria os acelerados movimentos de câmera de Evil Dead – A Morte do Demônio. (Para ser justo, há uma boa seqüência no filme: aquela em que o personagem de Lukas Haas – que já brilhou em A Testemunha – é perseguido pelo vilão, enquanto este quebra todas as lâmpadas da casa.)

É claro que sempre aparece alguém para defender atrocidades como O Jogo dos Espíritos, alegando que se trata `apenas de um filme de terror`. Para estas pessoas, eu pergunto: e O Exorcista? E O Sexto Sentido? E Pânico? E Possuídos?

É perfeitamente possível realizar um filme de terror que conte com bons personagens, bons diálogos e boa direção – e isto ocorreria com maior freqüência caso produções desleixadas como O Jogo dos Espíritos, Cut e Vampiros do Deserto sempre fracassassem nas bilheterias.

Enquanto isso não acontecer, o Cinema continuará a ser destroçado por uma versão diferente destes monstros impiedosos do terror: cineastas como Marcus Adams.
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1o. de Julho de 2002

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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