Dirigido por Carl Franklin. Com: Ashley Judd, Morgan Freeman, Jim Caviezel, Amanda Peet, Bruce Davison, Adam Scott, Tom Bower, Juan Carlos Hernández e Michael Gaston.

Crimes em Primeiro Grau é um filme que diverte sem exigir que o espectador pense muito – e, dependendo do ponto de vista, isto é uma virtude ou uma falha: o roteiro não insulta nossa inteligência, o que já é uma vitória, nos dias de hoje; mas também não nos obriga a usá-la, o que é uma pena.

Dirigido por Carl Franklin a partir do roteiro de Cary Bickley e Yuri Zeltser, o filme traz Ashley Judd como Claire Kubik, uma advogada bem-sucedida que está tentando engravidar, já que vive em constante felicidade ao lado de Tom, seu marido (Caviezel). Certa noite, porém, seu mundo vira de ponta-cabeça quando Tom é preso pelo FBI e acusado de ter massacrado a população de um vilarejo na América Latina, doze anos antes. Disposta a tudo para inocentá-lo, Claire busca a ajuda de um advogado veterano, Charles Grimes (Freeman), já que não conhece os procedimentos específicos de uma corte marcial.

Grimes, aliás, é o grande atrativo desta produção: depois de ter sido alcóolatra por vários anos, ele se encontra sóbrio há mais de 450 dias – e sua luta para permanecer longe da bebida, mesmo sob o estresse provocado por um caso importante, acaba servindo como fonte de tensão para o espectador (e, como de hábito, Freeman confere grande autenticidade ao personagem, provando, pela enésima vez, que geralmente é melhor do que os filmes nos quais atua). Por outro lado, o roteiro peca ao incluir diversos outros pequenos dramas que nada acrescentam à história, como a gravidez de Claire e seus constantes conflitos com sua irmã, Jackie (Peet).

Aliás, a presença de Amanda Peet em Crimes em Primeiro Grau é um dos grandes problemas do filme: para início de conversa, que papel ela desempenha na trama? Nenhum. Na verdade, suas brigas com a irmã resultam em alguns dos piores momentos da projeção, sendo superados somente por aqueles em que ela tenta ser engraçada (o que ainda quebra o ritmo da história). Enquanto isso, Caviezel faz um bom trabalho ao compor Tom de forma misteriosa, sem permitir que o espectador possa ter certeza de sua culpa ou inocência (em alguns momentos, ele me fez lembrar de dois outros réus famosos do cinema: Ben Gazzara em Anatomia de um Crime e Tyrone Power em Testemunha de Acusação).

Para finalizar, Ashley Judd prova seu talento ao transmitir com grande intensidade o clima de conspiração e ameaça sob o qual sua personagem se encontra, mas sem jamais permitir que Claire seja vista como a caricatura da `heroína destemida` ou da `mocinha indefesa`. Aliás, gostei particularmente da cena em que a moça enfrenta com firmeza um poderoso general, somente para sucumbir à tensão e desabar em lágrimas assim que ele se afasta. Minha única ressalva com relação à personagem diz respeito a uma atitude incrivelmente estúpida que ela toma na conclusão da história, quando quebra um copo na cabeça de uma pessoa, em vez de simplesmente esperar por uma oportunidade para usar o telefone.

Já a direção de Carl Franklin não compromete, embora também não se destaque. A verdade é que este filme poderia facilmente ter se tornado uma bobagem completamente descartável, já que isto é o máximo que poderíamos esperar de seu fraco roteiro. Para sorte de seus realizadores (e da platéia), no entanto, o bom trabalho do elenco elevou sua qualidade de forma inquestionável. Assim, Crimes em Primeiro Grau pode até não ser um novo clássico do gênero `drama de tribunal`, mas ao menos não reproduz o embaraço de títulos como Corpo em Evidência e Uma Lição de Amor.

4 de Maio de 2002