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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
17/05/2002 25/07/2002 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
120 minuto(s)

Bellini e a Esfinge
Bellini e a Esfinge

Dirigido por Roberto Santucci. Com: Fábio Assunção, Eliana Guttman, Maristane Dresch, Paulo Hesse, Marcos Damigo, Cláudio Gabriel, Carlos Meceni e Malu Mader.

Bellini e a Esfinge é um típico representante do gênero neo-noir, termo utilizado para descrever produções recentes (como Los Angeles – Cidade Proibida) que se inspiraram na estética noir que esteve muito em voga nas décadas de 40 e 50. Entre outras características, estes filmes são protagonizados por heróis cínicos, solitários e desiludidos, e que atravessam a história (geralmente situada no período da noite) demonstrando sua insegurança e seu apego ao passado. Em suma: são parentes próximos do detetive particular Remo Bellini.

Inspirado no livro homônimo do `titã` Tony Bellotto, Bellini e a Esfinge tem início quando um médico já idoso e bem estabelecido na profissão vai até a agência de investigações comandada por Dora Lobo (Guttman) a fim de requisitar seus serviços: aparentemente, ele se apaixonou por uma prostituta e deseja descobrir seu paradeiro. Para cuidar do caso, Lobo escala o detetive Bellini (Assunção), um homem solitário, cínico e... bom, você já sabe o resto. Imediatamente, o sujeito mergulha na noite paulistana, passando a freqüentar o submundo da prostituição e do tráfico, e conhece Fátima (Mader), uma stripper que pode saber mais do que diz. É então que o velho médico é assassinado em circunstâncias misteriosas e a investigação muda de rumo, enquanto Bellini tenta se acertar com sua nova parceira, a detetive Beatriz.

A primeira coisa que fica óbvia ao longo da projeção é o fato de que o diretor Roberto Santucci estudou cuidadosamente a cartilha do gênero policial: seus enquadramentos e movimentos de câmera são utilizados como narradores ativos da história, acentuando o clima de tensão e paranóia vivido pelo protagonista (algo que fica claro na seqüência em que Bellini é seguido, logo no início do filme). Aliás, Santucci mantém sua câmera sempre em movimento, o que confere um maior dinamismo à narrativa, que também é beneficiada pela divisão da ação em duas vertentes a partir do segundo ato, quando Lobo e Bellini assumem tarefas diferentes. Também gostei particularmente da maneira com que o cineasta introduz flashbacks em determinados momentos da trama, o que facilita o trabalho do espectador de acompanhar o que está acontecendo (aliás, a fotografia de Jacob Solitrenick também merece aplausos).

Infelizmente, nem tudo é perfeito em Bellini e a Esfinge, que tem um grave problema bem em seu núcleo: Fábio Assunção. No entanto, ao contrário do que muitos podem dizer, o erro não reside propriamente na atuação do rapaz, mas sim em sua aparência, já que sua cara de bom moço não corresponde ao perfil do herói desta história (imagine Matt Damon sendo escalado para viver James Bond). Mesmo que tivesse o talento de Paulo Autran, Assunção dificilmente convenceria como o detetive Bellini, um personagem seco, sem senso de humor e marcado pela vida. Para o papel, os produtores deveriam ter escalado um ator um pouco mais velho, com feições duras e maior versatilidade (alguém como José Mayer, mas com dez anos a menos). Com Fábio Assunção como protagonista, o filme traz um vácuo em seu centro, impossibilitando o espectador de se identificar com o herói – acompanhamos seus passos, mas não nos importamos realmente com seu destino. Para piorar, o ator diz suas falas com um tom monocórdico, e até mesmo o cinismo do personagem acaba se perdendo.

Por outro lado, gosto da insegurança de Bellini durante as investigações, já que o detetive comete erros primários e é constantemente criticado por sua chefe (em certo momento, ele deixa uma testemunha escapar simplesmente porque resolve transar com a parceira). Com isso, o espectador jamais tem a certeza de que tudo terminará bem, já que o herói não é dos mais perfeitos (isso para não mencionar sua falta de ética profissional, já que se relaciona sexualmente com as prostitutas que investiga). É realmente uma pena que a cara de menino comportado de Assunção quebre um pouco a aura de `maldito` do personagem.

Enquanto isso, Malu Mader exala sensualidade como a stripper Fátima, que se torna uma verdadeira incógnita ao longo da trama. Outras atrizes que se destacam são Eliana Guttman, como a fria e competente Dora Lobo, e a desconhecida Maristane Dresch, que assume o posto de femme fatale da história. Já o elenco secundário é irregular, contando com alguns desempenhos excelentes e outros lamentavelmente ruins. Aliás, fiquei especialmente incomodado com o tom `sussurrado` utilizado por todos os atores, o que elimina a variedade de suas caracterizações (o único defeito grave na direção de Santucci, diga-se de passagem).

Para finalizar, é bom mencionar que Alexandre Plosk fez um bom trabalho na elaboração de seu roteiro: mesmo contando com alguns furos (por que Bellini não exige um exame de balística quando se torna suspeito?) e deixando algumas pontas soltas no final, a história é interessante e prende a atenção, já que a resolução do crime se torna menos importante do que o processo de investigação em si – e a noite paulistana é, sem dúvida, o cenário perfeito para um noir brasileiro.

Santucci tem futuro.
``

2 de Março de 2002

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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