Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
04/07/2003 | 01/01/1970 | 4 / 5 | 5 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
100 minuto(s) |
Dirigido por Andrew Stanton e Lee Unkrich. Com as vozes de Albert Brooks, Ellen DeGeneres, Willem Dafoe, Alexander Gould, Geoffrey Rush, Vicki Lewis, Brad Garrett, Austin Pendleton, Allison Janney, Andrew Stanton, Elizabeth Perkins, Stephen Root, Eric Bana, Barry Humphries e John Ratzenberger.
Ao que parece, os magos da Pixar adoram desafios: depois dos bonecos de Toy Story e Toy Story 2, das formigas de Vida de Inseto e das criaturas de Monstros S.A. (incluindo a dificílima tarefa de animar os milhões de pêlos de Sulley), os artistas da empresa comandada por John Lasseter decidiram ambientar seu novo trabalho em um dos ambientes mais complicados da animação digital: a água. O resultado, felizmente, é uma colossal vitória técnica: além de totalmente verossímil, o oceano visto em Procurando Nemo oferece aos artistas da Pixar a oportunidade de provarem (mais uma vez) seu apuro visual, já que a complicadíssima fotografia submarina é belíssima, com surpreendentes efeitos de iluminação. Por outro lado, o aspecto narrativo do filme não alcança o mesmo sucesso dos excepcionais Monstros S.A. e dos dois Toy Story, o que é uma pena.
Quando Procurando Nemo tem início, somos apresentados ao feliz casal de peixes-palhaço formado por Marlin e Coral, que acabou de se mudar, ao lado de suas centenas de ovas, para uma anêmona com vista `panorâmica` para o (fundo do) oceano. Infelizmente, o ataque de um predador resulta na morte de praticamente toda a família de Marlin, deixando-o viúvo e com o pequeno Nemo para criar – algo que o transforma em um pai superprotetor. Assim, é com grande terror que, certo dia, o pobre peixe vê seu filho ser capturado por pescadores e levado para um aquário. Determinado a resgatar Nemo, Marlin empreende uma arriscada jornada em busca do peixinho, sendo auxiliado pela simpática Dory – que, infelizmente, tem um seríssimo problema de memória.
Como já se tornou padrão nas produções da Pixar, Procurando Nemo mergulha o espectador (com o perdão do trocadilho) em um universo multicolorido e repleto de nuances: habitado por uma infinidade de criaturas engraçadinhas (e outras nem tanto), o oceano visto aqui possui suas próprias versões de sinais de trânsito, rodovias e até mesmo de grupos de apoio como os Alcoólatras Anônimos. Preenchendo cada centímetro da tela com detalhes que revelam um preciosismo admirável, a equipe de animadores confere atenção particular à elaboração das expressões faciais de seus personagens, transformando-os em figuras carismáticas e divertidíssimas - reparem, por exemplo, as mudanças no rosto da tartaruga Crush enquanto esta conversa com Marlin e observe, também, o olhar de orgulho que surge no rosto de Nemo quando este ouve uma determinada notícia sobre seu pai. Em momentos como estes, a expressividade dos personagens é tamanha que os diálogos tornam-se até mesmo dispensáveis.
Além disso, Procurando Nemo também inclui alguns subtextos curiosamente complexos: a `nadadeira da sorte` do personagem-título, por exemplo, é uma clara referência aos deficientes físicos – e traz uma bela mensagem sobre a forma com que estes enfrentam os obstáculos que surgem em suas vidas. Não menos complexa é a relação entre Marlin e seu filho – algo que é resumido de forma bem sensível por Dory: `Se você insistir em protegê-lo desta maneira, nada vai acontecer a ele. Por outro lado, nada vai acontecer a ele`. E, embora os trabalhos anteriores da Pixar tenham contado com seus momentos dramáticos, nenhum deles jamais atingiu a intensidade da cena em que Marlin nada pelo oceano gritando, desesperadamente: `Meu filho! Meu filho!`.
Mas não se preocupe: para cada incidente dramático visto em Procurando Nemo há inúmeros outros alívios cômicos para equilibrar as coisas: além das piadas envolvendo a memória de Dory, o roteiro do filme traz cenas inspiradíssimas envolvendo três tubarões que lutam para melhorar a imagem pública da espécie (um deles dublado, na versão em português, pelo sempre divertido Guilherme Briggs; um cardume com talento para a imitação; um grupo de tartarugas `surfistas`; e, é claro, curiosas brincadeiras ao longo dos créditos finais. A produção inclui, ainda, várias referências hilárias a obras de Hitchcock (a garotinha Darla, que poderia ser considerada como uma versão feminina do Sid de Toy Story, é sempre acompanhada pelo tema de Psicose) e a aventuras como Missão: Impossível (o plano de fuga do peixe Gil é tragicamente engraçado).
Por outro lado, Procurando Nemo não consegue fugir de sua estrutura de road movie (ou será que eu deveria dizer `ocean movie`?) e, infelizmente, permite que isso torne-o episódico e irregular. Desenvolvendo ações paralelas (a busca de Marlin e a tentativa de fuga de Nemo), o filme salta de uma narrativa a outra sempre de forma semelhante, abusando, por exemplo, dos fade-outs (escurecimentos de tela) que ilustram desmaios dos personagens. Com isso, o ritmo da história não consegue ser tão constante como o da maior parte dos trabalhos anteriores da Pixar, levando Procurando Nemo a se tornar levemente inferior a Toy Story (e sua continuação) e Monstros S.A., e igualando-o ao irregular Vida de Inseto (não é coincidência, portanto, o fato de ambos terem sido dirigidos por Andrew Stanton).
A boa notícia é que, tratando-se de projetos da Pixar, mesmo um filme `irregular` é infinitamente superior à maioria dos longas-metragens realizados em Hollywood. Provando novamente ser uma das produtoras mais criativas em atividade, a empresa de Lasseter (ao lado da PDI, responsável por Formiguinhaz e Shrek) ainda não decepcionou os cinéfilos e fãs de animação. Vamos torcer para que continue assim por um bom tempo...
11 de Julho de 2003