Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
29/10/2004 | 20/08/2004 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
114 minuto(s) |
Dirigido por Renny Harlin. Com: Stellan Skarsgård, Izabella Scorupco, James D’Arcy, Remy Sweeney, Julian Wadham, Andrew French, Ben Cross, David Bradley, Alan Ford.
O Exorcista: O Início já faz parte da História do Cinema. Não por sua qualidade (algo que discutirei em seguida), mas por ter sido realizado duas vezes. Depois que o veterano roteirista e diretor Paul Schrader (colaborador habitual de Martin Scorsese) já havia finalizado o filme, os executivos da Morgan Creek, decepcionados com a `falta de sustos` do longa, decidiram demiti-lo e contrataram Renny Harlin (dos ótimos Do Fundo do Mar e Risco Total, mas também responsável pelos fracos Caçadores de Mentes e Alta Velocidade). Ao contrário do que acontece habitualmente, Harlin não recebeu a tarefa de refazer apenas parte do projeto, mas sim todo o filme. Só poderemos saber se a versão lançada nos cinemas é realmente melhor do que a dirigida por Schrader quando ambas saírem em DVD, mas já posso adiantar uma coisa: acho difícil que este seja o caso.
Não que O Exorcista: O Início (de Harlin) seja um desastre completo. Tecnicamente, o longa é bastante eficiente, a começar pela bela fotografia de Vittorio Storaro – algo que já era de se esperar. Além de esteticamente irrepreensível, o esquema de cores frias adotado pelo veterano confere um clima de melancolia à história de um padre Merrin que, ao contrário da fé exibida no Exorcista original, aqui enfrenta sérias dúvidas sobre sua vocação. Além disso, Storaro utiliza as sombras com sabedoria, revelando apenas o suficiente para permitir que o espectador preencha o restante com sua própria imaginação. Da mesma forma, Renny Harlin, um diretor com bom olho para a composição de seus planos, cria tomadas inegavelmente bonitas, como aquela em que vemos uma lanterna caindo em câmera lenta.
O problema é que, apesar de elegantes, planos como o citado acima não possuem função narrativa alguma: há alguma razão para vermos aquele objeto específico caindo em câmera lenta? Ele possui algum significado metafórico ou mesmo literal para a história? A utilização de câmera lenta naquele momento preciso ajuda a criar tensão? As respostas para estas indagações, infelizmente, são um sonoro `não`. Para piorar, Harlin emprega alguns dos piores clichês do gênero, como as `portas que se fecham sozinhas` – com a diferença que, aqui, ninguém parece se importar com o fenômeno, como se fosse natural ser trancado em algum cômodo por uma força invisível. Finalmente, creio que faltou um pouco de bom senso ao cineasta ao incluir uma cena em que uma judia passa por um exorcismo com o auxílio de um crucifixo; não que isto tenha sido incluído como um subtexto anti-semita, obviamente, mas não deixa de ser um detalhe infeliz.
Enquanto isso, o roteiro do estreante Alexi Hawley também apresenta sua (grande) parcela de problemas, como a composição estereotipada de personagens (o general que coleciona borboletas beira o ridículo) e, é claro, a revelação que ocorre no terceiro ato e que, além de besta, não faz o menor sentido. E o que é pior: considerando-se que esta é uma pré-continuação de O Exorcista e que seu título também faz menção a este `especialista`, é apenas lógico acreditar que (oh!) o filme conterá cenas de exorcismo como todas aquelas que tornaram o original inesquecível. Pois não espere por isso: o único (e decepcionante) exorcismo ocorre quase no fim da projeção, o que é incompreensível.
Ainda assim, O Exorcista: O Início conta com um importante elemento a seu favor: o ator sueco Stellan Skarsgård, que vive o padre Merrin mais jovem (paradoxalmente, ele tem quase dez anos a mais do que Max von Sydow tinha quando interpretou o personagem em O Exorcista). Encarnando Merrin como um homem em crise espiritual, Skarsgård oferece um centro emocional ao filme, levando o espectador a se importar com o padre e a se identificar com sua busca. Corajoso, decidido e repleto de iniciativa, o padre Merrin é o tipo de `herói` que merecia estrelar uma série de filmes – desde que, evidentemente, os roteiros fossem melhores do que o desta produção. Aliás, também estou particularmente curioso para conferir o trabalho do ator na versão de Schrader, o que pode se revelar um interessante exercício de comparação.
Gráfico em sua abordagem da violência, O Exorcista: O Início traz algumas das seqüências mais chocantes realizadas por Hollywood nos últimos anos, já que os estúdios americanos, sempre em busca de censuras mais leves para seus projetos, vêm infantilizando seus filmes de terror cada vez mais (desta vez, nem mesmo as crianças estão seguras, como comprova a cena envolvendo um ataque de hienas).
Apesar de dispensável, O Exorcista: O Início é, desde já, uma curiosidade para os cinéfilos. Pena que, em vez de merecer seu próprio capítulo nos livros de História, o filme tenha se revelado digno apenas de uma nota de rodapé. Quem sabe isto não muda com o lançamento da versão de Schrader?
26 de Outubro de 2004
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