Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
10/04/2009 | 01/01/1970 | 4 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Dirigido por Alex Proyas. Com: Nicolas Cage, Rose Byrne,
(Infelizmente, discutir Presságio sem abordar alguns dos pontos principais da trama seria um exercício fútil; assim, sugiro que leia a crítica abaixo apenas depois de assistir ao filme. Por enquanto, basta saber que Alex Proyas, diretor de Cidade das Sombras, voltou à boa forma depois do mediano Eu, Robô.)
Presságio é o que Sinais e Os Esquecidos tentaram desesperadamente ser: do primeiro, o roteiro de Ryne Douglas Pearson, Juliet Snowden e Stiles White traz o conceito de pequenos sinais proféticos que preparariam o protagonista para algo, ao passo que, do segundo, resgata o forte clima conspiratório que envolve e ameaça os personagens. Além disso, explora o que ambos tinham em comum (não é difícil concluir o que seja, não é?) ao mesmo tempo em que descarta a fragilidade e a covardia com que fechavam suas narrativas.
Quando a projeção tem início, porém, o longa parece prestes a mergulhar numa atmosfera de terror clichê ao focar-se na garotinha Lucinda Embry (Robinson), que, como determina a convenção estabelecida por O Iluminado, chega a surgir com o olhar fixo enquanto permanece em pé, numa posição estranhamente rígida, apenas para sumir segundos depois – e por que os funcionários de sua escola passam a procurá-la no escuro, em vez de simplesmente acenderem as luzes a fim de facilitar a busca, é algo incompreensível. Por sorte, o filme recupera o bom senso e a segurança narrativa ao saltar 50 anos no tempo, quando finalmente somos apresentados ao astrofísico John Koestler (Cage) e ao seu filho Caleb (Canterbury). Estudando na mesma escola de Lucinda, Caleb recebe, como parte das comemorações do 50º. aniversário da instituição, uma folha que, meio século antes, a garota preenchera completamente com números. Não demora muito para que John descubra, estupefato, que tais números remetem diretamente a grandes tragédias ocorridas nas últimas décadas, profetizando as datas em que aconteceriam, os locais e o número de vítimas de cada uma delas. E o mais assustador: a folha ainda prevê três últimos desastres que deverão ocorrer nos próximos dias...
Conferindo ao projeto uma atmosfera sombria que faz jus à de Cidade das Sombras (embora, claro, sem o design expressionista daquela obra), Proyas cria uma narrativa pesada e angustiante que se torna ainda mais intensa graças à decisão de ambientar a história no outono norte-americano, explorando as árvores semi-nuas e o chão coberto de folhas secas para salientar o tom opressivo e triste do filme (isto quando não vemos o céu acinzentado num tempo chuvoso). Além disso, o próprio desenvolvimento da trama mergulha o espectador num clima de tensão crescente, apresentando-nos a reviravoltas e descobertas intrigantes que desafiam a compreensão até mesmo de seu inteligente e racional protagonista – e o melhor é que, ao contrário do que acontecia em Os Esquecidos, a história se torna cada vez mais interessante à medida que nos aproximamos de seu desfecho, já que o roteiro não teme seguir um encadeamento lógico por mais que este ameace soar absurdo ou fantástico (e, afinal, trata-se de uma ficção científica, é preciso lembrar).
Bem mais contido do que em seus trabalhos mais recente, Nicolas Cage deixa de lado os maneirismos que comprometeram suas performances em besteiras como Motoqueiro Fantasma, O Vidente e Perigo em Bangkok e encarna Koestler como um homem deprimido que, cansado da própria vida, parece seguir em frente apenas em função do amor que sente pelo filho – e mesmo que, aqui e ali, Cage se entregue ao overacting (como ao atingir uma árvore com um bastão de baseball, ao atirar vários livros no chão ou ao beber uísque diretamente da garrafa), durante a maior parte do tempo ele se sai admiravelmente bem ao retratar a forte ligação de Koestler com Caleb e ao compor o protagonista como um homem obcecado por uma descoberta que desafia sua posição acerca de uma das mais antigas questões filosóficas: o confronto entre o Determinismo e o Livre-Arbítrio (que o filme equivocadamente chama de “acaso”). Enquanto isso, Rose Byrne confere intensidade ao sofrimento de Diana, embora não tenha muito tempo para tornar a personagem um pouco mais complexa, ao passo que os pequenos Chandler Canterbury e Lara Robinson fazem um bom trabalho com seus personagens, oscilando apropriadamente entre a segurança, a confusão e o medo.
Voltando a explorar figuras misteriosas envoltas em capas longas e escuras (e oriundas de outro planeta, claro), Alex Proyas conduz o desenvolvimento da narrativa com uma segurança invejável: se a princípio os tais seres despertam uma sensação incômoda e de estranheza, gradualmente assumem a condição de verdadeiras ameaças – e o plano no qual os vemos através dos vidros embaçados do carro é particularmente eficaz neste sentido. Além disso, o cineasta não teme evocar as lembranças do 11 de Setembro, já que, além da data ser citada ao longo do filme, em certo momento chegamos até mesmo a ver uma multidão surgir em pânico e coberta de poeira cinza
Mas não é só através da clássica discussão “Determinismo x Livre-Arbítrio” que o roteiro aborda este constante esforço da natureza humana em buscar explicações; como dito logo acima, a religião desempenha um papel importante nesta exploração, independentemente de seus méritos ou deméritos. Assim, não é surpresa perceber como Pressário é recheado de simbolismos e de iconografias cristãs, desde a citação do Livro de Ezequiel até a conformação freqüente dos alienígenas em grupos de quatro (“os Quatro Cavaleiros do Apocalipse”), passando pelo fato de Koestler viver em conflito com seu pai, um reverendo. Além disso, o plano final do longa é uma referência mais do que óbvia à Gênese ao trazer Caleb e Abby como Adão e Eva reencarnados, ao passo que o fato de carregarem coelhos para a nave pode ser visto como uma menção à Arca de Noé (afinal, não seria absurdo supor que as demais naves carregavam outras espécies animais). Vale apontar, também, que, de um ponto de vista puramente estrutural, o roteiro merece aplausos por plantar logo em seu primeiro ato vários indícios dos rumos que a trama irá tomar adiante, como as referências à vida extra-extraterrestre e ao poder destrutivo das explosões solares.
E é claro que, como superprodução de ficção, Presságio conta também com efeitos visuais absolutamente espetaculares, merecendo destaque um terrível desastre aéreo que, rodado em um longo plano único e contando com abundantes efeitos digitais e mecânicos, representa um dos momentos mais marcantes do filme. Além disso, a segurança de Proyas e do montador Richard Learoyd conferem ao terceiro ato do longa um ritmo de terrível urgência que, seguindo num crescente que beira o insuportável, finalmente atinge seu clímax temático e narrativo em uma seqüência apocalíptica que, de maneira brilhante, abandona a (também eficiente) trilha de Marco Beltrami em prol da Sétima Sinfonia de Beethoven, conferindo ao desfecho uma natureza sublime e quase poética.
Oscilando com perfeição entre o suspense, a ficção e o drama familiar, Presságio representa não apenas o retorno de Alex Proyas à condição de “promessa cumprida” como também demonstra que Nicolas Cage, apesar de seus inúmeros tropeços, ainda é capaz de carregar um bom filme quando a ocasião se apresenta. Que estes dois continuem no bom caminho de agora em diante.
11 de Abril de 2009
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