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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
18/06/1999 07/05/1999 3 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
125 minuto(s)

A Múmia
The Mummy

Dirigido por Stephen Sommers. Com: Brendan Fraser, Rachel Weisz, John Hannah, Arnold Vosloo, Kevin J. O`Connor, Jonathan Hyde, Oded Fehr, Stephen Dunham e Erick Avari.

Hollywood está, definitivamente, perdendo sua sutileza. Até há algum tempo atrás, os cineastas americanos ainda exercitavam sua criatividade para sugerir aos espectadores elementos que não apareciam inteiramente na tela, criando um clima de tensão e expectativa que só contribuía para que o filme funcionasse ainda mais. Hoje em dia, eles preferem introduzir um personagem completamente criado em computador, coibindo, assim, a imaginação da platéia.

Vejamos Tubarão, por exemplo. Este filme, dirigido em 1975 por um jovem Steven Spielberg, é um dos mais aterrorizantes exemplares da história do cinema. O clima de tensão habilmente construído por Spielberg deixa os nervos do espectador à flor da pele, fazendo com que a platéia se assuste com meros movimentos de câmera e com os acordes da trilha magistral de John Williams. E o mais curioso é que só vemos o tubarão do título, pela primeira vez, depois de uma hora e vinte minutos de projeção! A inteligência de Spielberg foi provada pela sábia decisão do diretor em deixar que cada espectador criasse, em sua mente, a imagem da apavorante criatura. Ele apenas sugeria o caminho e, então, nos deixava trilhá-lo sozinhos.

Agora analisemos este A Múmia. Aqui, a criatura do título é exposta em toda a sua plenitude aos olhos da platéia praticamente desde o início do filme. Completamente criado em computador, o monstro é uma verdadeira obra-de-arte da recente tecnologia digital. E, no entanto, não consegue despertar o menor temor nos espectadores. Ao invés de sustos e tensão, o que passa pela cabeça de quem assiste a este filme são pensamentos do tipo: `Puxa, que efeito incrível!` ou `Como é que eles fizeram isso?`. O que é uma pena, se considerarmos o potencial da história.

Em A Múmia, Brendan Fraser interpreta um caçador de tesouros que lidera uma expedição em busca da lendária Cidade dos Mortos, no Egito. Lá encontra-se o corpo de Imhotep, que foi mumificado vivo por ter assassinado o Faraó Seti depois de ter se envolvido com a amante deste. Infelizmente para os aventureiros, a Múmia de Imhotep é ressuscitada por uma maldição antiga e passa a perseguir aqueles que a despertaram, repleta de fúria sangüinária.

Porém, o que falta em sustos, sobra em termos de humor. A Múmia possui alguns momentos realmente hilários, como aquele em que o guia Beni (J. O`Connor) se depara com o monstro e, apavorado, começa a puxar amuletos de várias religiões a fim de descobrir se um deles conseguirá espantar a criatura. Outro aspecto positivo é o tom de auto-paródia deste filme. Apesar de estar recheado de clichês, o roteiro de Stephen Sommers tem o bom-senso de não se levar a sério. Exemplo: várias vezes durante a história, um vento misterioso começa a soprar subitamente, assustando os protagonistas - um recurso antiquíssimo utilizado todas as vezes em que um diretor sem imaginação precisa criar um clima de terror. A diferença, aqui, é que depois que a tal ventania acontece pela milésima vez, o personagem de Brendan Fraser comenta: `Isso acontece muito por estas bandas, não?`. É como se ele estivesse dizendo: `Ainda bem que estamos em um filme, senão eu ficaria realmente assustado.`

Fraser, aliás, está bastante divertido (e mais canastrão do que nunca) como o aventureiro Rick O`Connell - na verdade, uma imitação barata de Indiana Jones. Ele se dá ao luxo até mesmo de imitar alguns trejeitos do personagem de Harrison Ford e, de quebra, ainda protagoniza algumas cenas que parecem ter sido literalmente copiadas da trilogia dirigida por Spielberg - como na seqüência em que sai perseguindo uma múmia e, de repente, começa a fugir ao se deparar com um exército delas. Já Rachel Weisz, que interpreta a mocinha da história, se limita a fazer carinhas bonitinhas e a usar entonações charmosas em seus diálogos. Porém, nos momentos em que precisa realmente atuar, a atriz fica muito a dever (como na cena em que sua personagem fica bêbada). O destaque fica para Kevin J. O`Connor, que cria um dos `assistentes de vilão` mais divertidos dos últimos tempos.

A fotografia de Adrian Biddle é o grande destaque na parte `técnica`, que também conta com o belo design de produção de Allan Cameron. Já os efeitos visuais criados pela equipe da Industrial Light & Magic pecam pelo excesso, que começa ainda na cena de abertura, quando temos uma visão panorâmica da cidade em que o Faraó Seti mora - visivelmente criada em computador (os movimentos dos `figurantes` denunciam sua verdadeira natureza), esta seqüência poderia ter sido retirada diretamente de O Príncipe do Egito.

Apesar da falta de criatividade e do fracasso como `terror`, A Múmia ainda sobrevive (com o perdão do trocadilho) como uma leve aventura. Podemos até não nos importar com o destino de seus personagens principais (muito superficiais), mas, pelo menos, nos divertimos com eles.
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23 de Junho de 1999

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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